Músicos mineiros abordam ritmo baiano com espírito "faça você mesmo" do movimento punk
Nos passos de Jackson do Pandeiro e sua mistura de bepob com samba, O Abelha tempera axé music com punk rock no EP ‘The Clash com Banana’, disponível nas plataformas digitais desde 13/03. Alterego do guitarrista e vocalista belo-horizontino Mauro Novaes, o cantor com nome de inseto é acompanhado pela Ilusão Sonora, quarteto formado por Vinikov de Moraes (guitarra solo), Pedro Vasseur (baixo), Pedro Fontenelle (bateria) e Claudão Pilha (percussão). Feito em 2022, o registro em estúdio mantém a energia dos shows, onde a banda propõe revisitar o gênero baiano a partir do espírito de “faça você mesmo” apregoado pelo punk. É música de trio elétrico feita da maneira mais crua, desde a produção à execução.
“O Abelha é uma simplificação dos ritmos brasileiros, com muita influência principalmente da música baiana, que é algo que foi muito presente na minha infância, nos anos 1990. Sempre gostei muito. Depois, fui me enveredar para os lados do punk rock, onde fiz a minha escola musical”, explica Mauro sobre sua persona. Durante o período inicial de distanciamento social na pandemia, ele decidiu usar a guitarra elétrica que estava parada em casa e o repertório de axé noventista veio espontaneamente à cabeça, como uma memória afetiva.
Em pouco tempo nasceram as primeiras faixas autorais dentro do gênero. À medida em que se envolvia novamente com a axé music, Novaes voltava ao punk como referência. A ideia era performar axé da maneira que os Ramones tocavam rock: sem virtuosismo ou muito apego técnico, mas com intensidade e entrega absolutas. “Eles também faziam isso com a música americana. Não tinham amplo domínio dos instrumentos”, comenta Mauro. As influências do quinteto formam um grupo inusitado: além de The Clash e Chiclete com Banana, eles citam Serguei, Daniela Mercury, Buzzcocks, Calypso e Bob Marley como referências musicais.
A ideia de encarnar O Abelha nasceu de um sonho que o artista teve. “Nesse sonho, eu me via através do olhar de uma abelha, que me seguia. Ao fundo, havia uma narração, basicamente falando alguns termos técnicos sobre os costumes da abelha. E acabava quando ela me levava para um espaço aberto, que era na verdade um abismo. Mas também era uma imensidão aberta, que para mim, hoje, é a possibilidade – um mundo aberto, que às vezes nos dá medo, mas que temos de enfrentá-lo”, diz Mauro Novaes.
O músico, que admite ter certa fobia de abelhas, escolheu o inseto para representar a dubiedade e o equilíbrio contidos no axé-punk do grupo. “A abelha é um animal curioso, às vezes temido, mas também frágil. As canções transparecem certa fragilidade, mas também a perspicácia de algo pontiagudo. É melódico, é pop, mas tem uma pungência punk. É o amarelo e o preto; o fofo e o perigoso. É o mel com sua sensualidade e com sua doçura também”, examina O Abelha.
O Abelha e a Ilusão Sonora lançaram três singles no ano passado, além de dois clipes – ‘Maletinha’ e ‘Uma Música de Natal’. Na divulgação do novo EP, a faixa ‘Chuva’ foi lançada meses antes do disco e também ganhou vídeo.