Retratos de mulheres em preto e branco ocupam a área externa do Parque Municipal com grandes ampliações, entre 5 e 10 de dezembro, e quem passa pela Avenida Afonso Pena pode se perguntar: quem são elas? As modelos são transexuais internas do sistema prisional, clicadas pelo fotojornalista Marcelo Horta na Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria, em São Joaquim de Bicas, Região Metropolitana de BH. 

O fotógrafo passou dois dias com elas, em trabalho que rendeu 30 imagens finalizadas e deu origem à exposição ‘Gente de Bicas’. “Através da fotografia, pudemos mostrar um pouco dessa gente, que está passando por um momento difícil, mas que são seres humanos bonitos, com sua própria luz e energia”, observa Horta. Após uma semana no parque, a mostra chega à fachada do Museu Mineiro e ao Arquivo Público Mineiro, entre 13/12 e 02/01. 

Algumas imagens trazem as mulheres em momentos do cotidiano na primeira penitenciária de Minas preparada para receber pessoas LGBTQIAP+. Há registros delas durante o cuidado com as hortas e dentro das salas de aula. Já no segundo dia de visita à penitenciária, o fotógrafo propôs a montagem de um estúdio, com cabelo e maquiagem preparados por profissionais, “fazendo com que cada uma tivesse seu momento de modelo”, ele comenta. 

O ensaio dá sequência ao trabalho autoral de Horta, que costuma usar suas lentes de retratista para contar histórias que vão além da pessoa gravada no clique. “Meu olhar é particular para o ser humano, para a gente que compõe o nosso Brasil”, ele descreve.

Suas exposições e ensaios anteriores incluem ‘Gente da Floresta’ (2014), sobre uma tribo indígena vivendo às margens do Rio Negro, ‘Gente dos Sertões’ (2018), que mostra como vivem os moradores nos arredores do trajeto do Rally dos Sertões, e ‘Gente da Fronteira’ (2019), quando acompanhou imigrantes que atravessavam os limites entre Venezuela e Roraima em busca de melhores condições de vida. 

A exposição ‘Gente de Bicas’ integra a XII Semana de Direitos Humanos e as celebrações pelo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no dia 10/12. O trabalho junto às pessoas em situação social fragilizada “é da maior importância que pode existir”, observa o fotojornalista. 

“O impacto que a exposição irá causar em cada visitante é muito pessoal, mas ela fez de mim uma pessoa muito mais contemplativa, mais realizada diante da possibilidade de ter dividido aquele momento com aquelas pessoas. Fui só um fio condutor para que elas pudessem ser vistas, e isso é muito gratificante para a minha forma de olhar”, completa Marcelo.

Exposição ‘Gente de Bicas’
Parque Municipal (Av. Afonso Pena, Centro) entre 5/12 e 10/12.
Museu Mineiro/Arquivo Público Mineiro (Av. João Pinheiro, 342, Lourdes) entre 13/12 e 5/01.
Informações para o público: (31) 3236-7400