BH recebe apresentações artísticas, rodas de conversa, oficinas e manifestações da cultura popular dedicadas a celebrar o 20 de novembro
O Dia da Consciência Negra é motivo de celebrações e solenidades, mas também funciona como ponto de partida para discussões, oficinas e outras atividades de formação e entretenimento em BH. A data, referência levantada pelo movimento negro à memória de Zumbi dos Palmares, é desde 2011 um dia oficialmente dedicado à exaltação da luta de pessoas pretas contra o racismo, tanto no desafio de sua forma estrutural na sociedade quanto pelo combate à discriminação cotidiana.
Neste domingo (20/11), uma festa dedicada às heranças culturais ocupa o Mercado da Lagoinha, Região Noroeste da capital. Coletivos de matriz africana reunem-se no evento Laços da Ancestralidade entre 9h e 22h, com programação que inclui apresentações artísticas, rodas de conversa e outras atividades inspiradas no tema.
Além da celebração, a iniciativa procura localizar para o público como a cultura e o conhecimento da população negra estão intimamente ligados à construção de Belo Horizonte, tanto como cidade quanto na própria identificação enquanto comunidade. “Os povos negros foram responsáveis por construir as estruturas físicas, sociais e culturais que alicerçam a identidade de BH”, explica Pai Ricardo de Moura, presidente da Associação de Resistência Cultural Afro-brasileira Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente e um dos organizadores do evento na Lagoinha.
“Toda essa cultura, fazeres e saberes, majoritariamente surgem com uma população negra periférica dos Morros da Pedreira Prado Lopes e da Vila Silva Senhor dos Passos, no complexo da Lagoinha, que para aqui vieram tirar pedras que foram usadas na construção da Avenida do Contorno, que abrigaria o centro da cidade”, detalha Pai Ricardo. Esta ligação da Lagoinha com as raízes da cultura negra na cidade foi um dos motivos para que a região fosse escolhida como sede da festa.
Ainda em comemoração ao Dia da Consciência Negra, o Teatro Espanca!, no Centro, recebe três espetáculos bastante diversos, protagonizados por artistas de BH. Na sexta-feira (25/11) o dançarino Jonatas Pitucho apresenta o solo ‘Yibambe’, inspirado em sua vivência como favelado, com influências afrofuturistas e evocação da ancestralidade.
No sábado (26/11), a montagem ‘Ex-magination’ coloca a atriz Michelle Sá como extraterrestre, oriunda de um planeta que enfrenta mudanças civilizatórias, e que acaba caindo na Terra – dando início a uma jornada em que os sentimentos são o guia e a chance de reconexão entre os seres. Já no fim de semana seguinte, em 06/12, o teatro recebe ‘Fiandeira’, experimento cênico de Rainy Campos com direção de Alexandre de Sena.
As apresentações no Espanca! são parte do projeto Solo Negro, dedicado a criações artísticas estreladas por pessoas pretas da capital. A cultura e o corpo negros são pontos essenciais da mostra, que tem curadoria da cantora, atriz e instrumentista Júlia Tizumba. “Nesta edição, diálogos marcam a cena: múltiplas estéticas, narrativas diversas e diferentes gerações do Teatro Negro belohorizontino, que reverberam a interlocução entre ancestralidade e atualidade”, ressalta a curadora.
A Prefeitura de BH também preparou programação dedicada ao mês da Consciência Negra, em atividades que ocupam 14 centros culturais de todas as regionais. São exposições, rodas de conversa, sessões de cinema, oficinas e outras apresentações artísticas, que chegam ao Alto Vera Cruz, Bairro das Indústrias, Liberalino Alves de Oliveira, Lindeia Regina, Pampulha, São Bernardo, Salgado Filho, São Geraldo, Urucuia, Usina de Cultura, Vila Fátima, Vila Marçola, Venda Nova e Zilah Spósito. Você pode conferir a programação completa de todos os centros culturais no site da PBH.
Um dos destaques na programação é o Circuito Hip Hop Barreiro, que distribui prêmios aos MCs e incentiva a produção de artistas das outras áreas ligadas à cultura hip hop. As batalhas de MC e outras atividades acontecem aos fins de semana, até 11/12. Confira aqui mais informações sobre o circuito.
O Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado promove encontro sobre a culinária afro-brasileira em 23/11 às 14h. Já no domingo (27/11), a partir das 8h, o mesmo espaço recebe a Pisada de Caboclo, uma manifestação cultural que reúne povos de terreiro e povos indígenas num reencontro histórico, organizado pela Reunião Umbandista Mineira/RUM e pela Associação de Resistência Cultural Afro-brasileira Casa de Caridade Pai Jacob do Oriente.
O Teatro Marília, no Santa Efigênia, sedia oficina e batalha de passinho neste sábado (19/11), entre 14h e 19h. No mesmo espaço, na terça-feira (22/11) ocorre a 1ª Mostra CRDança BH: Encontro de Danças de Matrizes Africanas, com reunião dos dançarinos Camilo Gan, Carlos Afro, Raquel Cabaneco e Jessica Knowles. A programação completa do festival de dança pode ser conferida neste link.
O Cine Santa Tereza segue com a Mostra Corporeidades Negras, que exalta o trabalho de artistas do cinema nacional pioneiros na luta pela representação de corpos negros e plurais nos filmes, em um combate árduo e longo contra visões estereotipadas das pessoas pretas. Entre os homenageados nesta corrente estão Zezé Mota, Ruth de Souza, Grande Otelo, Zózimo Bulbul, Antônio Pitanga e o homenageado principal da edição, o ator Milton Gonçalves, falecido em maio deste ano.
Em cartaz neste domingo (20/11) às 18h30, ‘Abolição’ de Zózimo Bulbul (1988, documentário). Na quarta-feira (23/11) às 16h30 serão exibidos ‘Tudo que é Apertado Rasga’ (2019) e ‘Não vim no Mundo para ser Pedra’ (2021), documentários de Fábio Rodrigues filho. A programação continua com ‘Xica da Silva’ (1976) de Cacá Diegues na quinta-feira (24/11) às 16h30, e se encerra no dia 31/11 com ‘Couro de Gato’ (1960) de Joaquim Pedro de Andrade e ‘Barravento’ (1959), de Glauber Rocha. Confira aqui mais informações e a programação completa da mostra.