De frente à Praça da Estação, bar aposta na pluralidade do hipercentro de BH
Casa investe em ambiente descontraído para atrair público diversificado, com programação que vai dos DJs às rodas de samba
Da sacada de linhas retas, uma luz se projeta e pinta um canto da Praça da Estação em inesperados tons de rosa. No terceiro piso do Edifício Central, de frente a um dos pontos principais do hipercentro de BH, o Baixaria abre as portas do happy hour até meia-noite em dias úteis, ou ainda para um almoço com esticada no sábado. Inaugurado em agosto com decoração colorida, mesas com vista para a rua e programação musical, o sucesso do bar tem provocado mudanças na rotina do prédio amarelo, de arquitetura sessentista, que é um destaque na paisagem urbana da região conhecida como baixo Centro.
“É muito importante essa reocupação dos edifícios tradicionais que estão subaproveitados, o movimento social e político de uso dessas estruturas”, comenta André de Oliveira, à frente da casa em parceria com Antônio Mello. Os sócios esperavam movimento modesto a princípio, mas em poucos dias desde a abertura perceberam que seria preciso reforçar a equipe para dar conta da alta demanda.
Do lado de fora, nos corredores da varanda, fica a maior parte das cadeiras e uma esquina onde rolam algumas sessões de música ao vivo – incluindo um sambinha de leve às segundas, programa ainda raro para o começo de semana na capital. Na área interna, que ocupa quatro das lojas regulares do edifício, há um espaço para os DJs convidados além do elemento principal do ambiente, que é o eixo de todos os botecos.
“O balcão é um espaço democrático, onde quem visita o bar pode se sentar e interagir com quem está trabalhando”, observa André, ressaltando que o Baixaria “é uma casa plural” inspirada justamente pela liberdade e descontração dos estabelecimentos mais populares e despretensiosos. “Ainda que tenha uma decoração um pouco mais sofisticada que um boteco copo sujo clássico, aqui também há elementos como a estufa, que é um cartão postal nosso, sempre em destaque”, acrescenta
Estufa brilhante
A vitrine quente também é motivo de orgulho do chef João Salles, que aplica à cozinha da casa sua vasta experiência em bares e restaurantes da cidade. A cultura alimentar de boteco, com a cara de BH, é bem representada por itens da estufa como a linguiça artesanal defumada (R$ 17,90) que o cozinheiro “importa” diretamente do Centro Histórico de Santa Luzia. Outras opções rápidas de petiscos expostos no envidraçado incluem costelinha (R$ 33,90), maçã de peito com torradas (R$ 37,90) e pernil (R$ 33,90), todas servidas com farofa.
Opção vegana na estufa, o Pega a Visão (R$ 28,90) traz cogumelos confitados no azeite, alho, ervas e batata bolinha fermentada. Já o Beijo Grego com Final Feliz (R$ 35,90) representa o oposto do veggie com rabada, língua e rabinho de porco acompanhados por farofa. “Tivemos a preocupação de fazer um lugar que seja ligeiramente sofisticado, com pratos bem feitos, boas matérias-primas em uma cozinha equipada no mais alto nível. São pratos simples, petiscos, tira-gostos, comida de boteco, e os preços andam de mãos dadas com isso”, garante André.
Da cozinha aberta saem outros simples e diretos, caso do torresmo de barriga crocante (R$ 34,90), do cupim desfiado com batata bolinha (R$ 42,90) e do trio de pastéis com sabores variados (R$ 28,90). Mas também é por lá que Salles solta a criatividade no trabalho com vegetais, entregando versões sem carne para tira-gostos clássicos, riquíssimas em sabores como o Buraco Quente/Pelano (R$ 28,90) – variação do pão de sal com carne ao molho que troca a proteína animal por cogumelos à bourguignon.
André explica que a preocupação com o menu à base de plantas nasceu junto com a casa, de olho em um público crescente. “Quando vão em bares, veganos costumam ficar com poucas opções de tira-gosto como mandioca, batata e bolinho de feijão”, lamenta. O Baixaria faz caminho inverso, oferecendo cinco opções sem proteína animal em receitas criativas, com protagonistas incomuns e sabores surpreendentes. Para isso, contou com a colaboração da chef Carolina Dini, conhecida pelo perfil @cebolanamanteiga e divulgadora de receitas vegetais.
“Quisemos um cardápio vegano e vegetariano que fosse gostoso, diversificado, acessível e com ingredientes tradicionais. Carolina nos deu ajuda nessa construção, que valoriza produtos da agricultura familiar”, destaca Oliveira. Estão na lista o De Itabirito (R$ 29,90), uma “carne de panela” feita do umbigo de banana desfiado e refogado no tomate com torradas, e a Roxinha Refrescante (R$ 26,90), que é berinjela tostada e espalmada com picles de cebola roxa e molho de amendoim. O Mordida Crocante (R$ 29,90) é um orgulho pessoal do chef: porção de jilós empanados e fritos, bem sequinhos, acompanhados por molho de alho-poró.
Atrelada ao funcionamento do Edifício Central, a casa não abre aos domingos, mas serve almoço a partir do meio-dia nos sábados. O cardápio varia semanalmente e mantém o compromisso da cozinha com ingredientes frescos, em boa parte oriundos de pequenos produtores, além de sempre garantir opções veganas para o prato do dia. “A ideia é que o cardápio observe as estações do ano, para garantirmos simbiose com os processos da natureza”, comenta o sócio André. A carta de vinhos, com rótulos brasileiros, portugueses e italianos, oferece boas opções para o único dia da semana em que o Baixaria abre antes das 17h, oferecendo uma bela visão da Serra do Curral.
Com vista para a Rua Sapucaí e bem próxima ao circuito de bares no Floresta, a casa investe em uma carta de drinks autorais que abraça os gostos da juventude descolada do baixo centro sem abrir mão das raízes. A chef de bar Tainara Fernanda cria insumos artesanais a partir de iguarias da culinária mineira como o licor de goiabada e o vermute de doce de abóbora. O primeiro vai no inspirado Romeu e Juliete (R$ 25,90), com licor de goiabada, vodca e suco de toranja, mais um pedacinho de queijo canastra na taça. Já o segundo entra no Jacú (R$ 25,90), que leva cachaça, vermute de abóbora e Cynar, servido com abóbora açucarada.
Outras boas combinações com nomes criativos da carta são Adão e Ivo (R$ 25,90), que é licor amaretto, vodka, café coado e bala de leite; Nú (R$ 28,90), com gin, suco de tangerina, cenoura, açafrão da terra e tônica, servido com toranja e tomilho, ou o mais simples Nó (R$ 28,90), feito de gin, tônica, abacaxi fermentado e caldo de cana. Em horas mais quentes, a salvação do calor pode estar na fartura da jarra de Zé Dend’água (R$ 79,90), que reúne vinho tinto ou branco, licor de laranja, tônica, maçã verde, lima, laranja, morango, uva verde e hortelã.
Baixaria
Avenida dos Andradas, 367 (Edifício Central) – loja 334 – Centro
Segunda a sexta das 17h à 00h; sábado de 12h à 00h
Reservas (Whatsapp): (31) 98837-8118
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