Comemoração conta com lives, bate-papos ao vivo, leitura dramática, mostra de espetáculos, além de lançamentos de livro e curta-metragem inédito
Uma das companhias de teatro mais importantes de Minas Gerais, a Luna Lunera, de BH, comemora em 2021 duas décadas de existência. E para quem está com saudade de ver a Luna nos palcos, o grupo realiza a Mostra Luna Lunera 20 Anos. De agosto a outubro, a trupe vai disponibilizar alguns de seus espetáculos virtualmente e traz novidades: a leitura dramática da peça “Aqueles Dois”, um curta-metragem inédito – criado a partir de “Nesta data querida” – e lançamento de livro com dramaturgia do espetáculo “Urgente”. Na abertura, estão previstas lives, nos dias 7 e 14 de agosto, com importantes artistas que integraram a trajetória do coletivo, como Chico Pelúcio, do Grupo Galpão, Cida Falabella, da Zap 18, Guilherme Marques, da Ecum/Mit, e outros. Toda a programação é gratuita e será disponibilizada no canal do YouTube da Luna Lunera.
Sobre a Mostra Luna Lunera 20 Anos, a atriz Isabela Paes conta que, mesmo longe dos palcos, a tradição de celebrar os marcos e datas de aniversário se mantém. “Não é exatamente a celebração que planejávamos. Fica a vontade do encontro, da festa, do ritual, do toque, do brinde, do olho no olho, da dança e de toda uma gama de afetos que só acontecem na copresença”, explica a atriz que atualmente trabalha fora do país, mas participará de ações da Mostra. “A realidade se impõe. Encontros e conexões também podem acontecer à distância (pelo digital), potencializados pela vontade de estarmos juntos”.
Mesmo com a reabertura de alguns espaços culturais em Belo Horizonte, na visão do grupo ainda é cedo para subir aos palcos com segurança. Segundo o ator Marcelo Souza e Silva, o momento é uma oportunidade de experimentar outros formatos: “estamos vivenciando um tempo histórico de criação de novas linguagens a partir do incerto, do inesperado, do isolamento e da virtualidade. Tem sido muito rico observar o hibridismo que muitos artistas têm levado às suas criações. (Para a Mostra) temos tentado buscar novas leituras de nossas próprias criações”, contextualiza o ator, que também assina a coordenação geral do evento.
Na abertura da mostra, nos dias 7 e 14 de agosto, os bate-papos são transmitidos ao vivo. Sob mediação de integrantes da companhia, Adolfo Mazzarini, Ângela Mourão, Cida Falabella, Chico Pelúcio, Guilherme Marques, Jane Schoninger, Marcelo Bones, Pablo Bertola e Tuca Pinheiro discutem, entre outros temas, “O Teatro de grupo e a permanência”, “Circulação e fomento”, “Inserções do teatro e da dança na cena política”. “São 20 anos de produção criativa, desejos compartilhados. Vai ser muito prazeroso trazer para o público essas histórias, estar com essas pessoas amigas e parceiras, que admiramos”, diz o ator Zé Walter Albinati, mediador de uma das lives.
Na semana seguinte, dia 19 de agosto (quinta), o público assiste à Leitura dramática de “Aqueles Dois”, que vai reunir os nove atores que integraram o elenco do espetáculo, em momentos diferentes, desde a estreia (2007). Zé Walter conta que o trabalho original é formado por quatro atores, mas “existia o desejo de reunir todos em cena, em alguma data comemorativa da Luna”. Segundo o ator, produzir esse projeto para o palco parecia ambicioso e caro. Mas com a pandemia veio a ideia de uma leitura online com os nove, fortalecendo, em cena, a representatividade ainda mais múltipla dos personagens Raul e Saul. “O desafio foi só ajustar as agendas. O que a gente quer com a leitura é dividir com o público essa história, convidando-o para estar com a gente, quem sabe numa tarde de café, ou à noite, compartilhando uma garrafa de vinho”, acrescenta.
Um dos maiores sucessos de público e crítica da Luna Lunera, baseado em texto homônimo de Caio Fernando Abreu, o premiado “Aqueles dois”, com direção coletiva do grupo, passou por 25 estados brasileiros e 10 países. No dia 26 de agosto, quinta, o espetáculo terá exibição, seguida de bate-papo ao vivo, sobre o processo de criação do trabalho, turnês e curiosidades. A obra fica disponível por quatro dias – assim como os demais espetáculos da mostra -, para o público rever ou entrar em contato pela primeira vez.
No dia 9 de setembro, quinta, ocorre a exibição do espetáculo “E ainda assim se levantar” (2019) com bate-papo, na sequência, sobre os bastidores da criação. Dirigido por Isabela Paes, o trabalho mais recente do grupo pergunta sobre como encontrar força em situações de iminente esgotamento, pessoal, social ou político. Já no dia 23 de setembro, quinta, a trupe lança o curta “Nesta data querida”, com direção da premiada cineasta Juliana Antunes (de “Baronesa”). Adaptada do espetáculo homônimo, a obra – escrita originalmente por Guilherme Lessa e dirigida por Rita Clemente – fala de uma mulher que prepara uma festa de aniversário para um filho que não aparece na trama e recebe convidados inesperados. “Apesar de a montagem ter sido criada há 18 anos, é muito atual, fala de pessoas solitárias, isoladas em suas casas, tem muito desse momento da pandemia”, diz o ator Cláudio Dias. A exibição do filme vem acompanhada de bate-papo com o elenco, sobre a criação do curta.
O mês de outubro abre no dia 6.10, quarta, com lançamento do Livro Urgente, primeira publicação da companhia, realizada em parceria com a editora Javali. A obra traz a dramaturgia do espetáculo “Urgente”, de autoria da Luna Lunera e do Areas Coletivo (RJ). E a partir de quinta, dia 7.10, tem exibição da peça com bate-papo ao vivo, na sequência, sobre o processo de criação e produção do trabalho. Com direção de Miwa Yanagizawa e Maria Sílvia Siqueira Campos, “Urgente” propõe uma reflexão sobre a relação com o tempo, com desejos adiados ou urgentes.
E é com “Prazer” que a companhia completa a Mostra Luna Lunera 20 anos. Com direção e dramaturgia compartilhadas, “Prazer” – inspirada no universo de Clarice Lispector – recebeu o Prêmio Copasa Sinparc na categoria melhor espetáculo e possui indicações ao prêmio Shell. A peça será exibida no dia 21 de outubro, quinta, com bate-papo ao vivo, logo depois. Para Cláudio Dias, apesar da saudade do encontro com a plateia, o formato virtual amplia possibilidades. “O público mineiro, tradicionalmente, é muito carinhoso com a Luna. No formato virtual, além de BH, a gente também pode alcançar outras cidades de Minas, do Brasil, e de países por onde já nos apresentamos. É uma forma nova de estar perto das pessoas, mesmo sem o calorzinho do abraço”.
A atriz Cláudia Corrêa conclui que “pertencer a uma família artística é algo precioso. Não que tudo tenha sido fácil nesses 20 anos. Aliás, sabíamos, desde o início, que não seria mesmo. O que não sabíamos é que chegaríamos tão longe”. Desde a fundação, em 2001, a premiada Companhia Luna Lunera reúne oito trabalhos no repertório – “Perdoa-me por me traíres” (2001), “Nesta data querida” (2003), “Não Desperdice sua única vida ou…” (2005), “Aqueles dois” (2007), “Cortiços” (2008), “Prazer” (2012), “Urgente” (2016), “E ainda assim se levantar” (2019). O grupo realizou cerca de 1.000 apresentações de seus espetáculos por todo o território nacional e em países como Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, França, México, Panamá, Portugal, Uruguai e Venezuela, atingindo um público aproximado de 200 mil espectadores. O grupo compartilha, permanentemente, seus processos criativos por meio de debates e do Observatório de Criação, ministrando oficinas e o Curso In Cena, atuante na formação de uma diversidade de artistas da nova geração.