Música tem pegada radiofônica dos anos 90 e é o cartão de visita da banda formada por Fabio Walter, Marcus Soares e Victor Piva Schiavon
Ao escutar o single ‘In Sane Days’, do trio mineiro Dada
Hotel, a sensação é de estar de volta aos anos 90, década auge do movimento
grunge, que dominou as rádios com sons de bandas como Alice In Chains, Nirvana,
Pearl Jam e Soundgarden. Lançada nas plataformas digitais na quinta-feira (15),
a canção é uma mistura equilibrada de rock alternativo, eletrônico, pop e
pós-punk. A faixa é também o cartão de visita do grupo Dada Hotel, formado por
Fabio Walter (alter ego de Fábio Corrêa), Marcus Soares, no baixo, e Victor
Piva Schiavon, na bateria.
Além de cantar, tocar guitarra e assinar as composições,
Corrêa gravou teclados, sintetizadores e produziu o disco ‘Dilúvio/Deserto’,
que sai nos próximos meses e que tem participação de Fabrício Galvani, do
Estúdio Casa Antiga. Galvani também foi responsável pela mixagem e pela
masterização.
“Eu tentei falar sobre coisas pesadas, mas de forma irônica.
Também busquei fazer um som diferente, esquisito, mas com uma pegada
radiofônica. Uma estrutura simples, que todo mundo entende”, explica Corrêa,
que divide a carreira de músico com o jornalismo.
“A letra fala sobre assumir os próprios demônios, aquele seu
lado que não é tão bonito. A gente só assume nossos próprios BOs quando se
coloca por inteiro. E pode ser tranquilo viver com os nossos paradoxos, com o
dilúvio e o deserto. Viver dias sãos, mas que podem ser insanos. Viver o seu
demônio no ônibus lotado, na fila do banco, e ter que suportar ele; mas também
poder tomar uma cerveja com ele, à noite”, reflete.
Segundo o músico, “In Sane Days” foi uma das primeiras
canções que ele compôs para a banda Parana Avenue, embrião da Dada Hotel. “Ela
era uma música em inglês, que tinha uma onda mais pós-punk. Como eu precisava
de uma música para completar o disco, a resgatei. Reescrevi a letra, falando as
mesmas coisas, em português. Só o refrão que não consegui mudar. Modéstia à
parte ficou bem melhor do que se eu tivesse mantido em inglês. Ainda bem que
ela entrou. É uma música muito interessante. Melódica, irônica, potente. Tanto
que virou o primeiro single”.
Na sequência, devem sair outros dois ou três singles, todos
com lyric videos ou clipes, como no caso de “In Sane Days”. O videoclipe traz
imagens ruidosas, com estética lo-fi, de Fabio e sua companheira, Soraya
Belusi, dançando e encarando a câmera. “Eu tinha várias ideias para o vídeo. Ia
usar imagens de uns livros de hipnose, com a gente dançando por cima. Mas
gravamos um take e quando eu vi achei tão legal e representativo. A gente dança
meio torto, interagindo com a tela, porque está se vendo na câmera. Tem a ver
com este momento, em que não podemos sair para dançar, então dançamos em casa,
de frente para a tela. Dias insanos, mas que podem ser dias sãos, também”,
afirma. “Quando vi o vídeo, pensei: ‘eu já tenho o clipe’”.
Marcus Soares, Victor Piva Schiavon e Fabio Walter formam o Dada Hotel. Foto: Alexandre Mota
A próxima faixa a sair é “Ninguém” e, depois, a
faixa-título, “Dilúvio/Deserto”. “É uma música instrumental que eu compus em
casa, numa tarde em que choveu muito em Belo Horizonte, que é uma cidade que
tem só duas estações, dilúvio e deserto. De cinco a sete meses sem chuva
nenhuma, tempo seco, sol, rinite; e os outros meses de muita chuva. Comecei a
pensar nisso como um conceito, como uma forma de expressão da própria cidade.
Quase como se fosse o yin-yang dos belo-horizontinos. E dá para ir além, já que
todo mundo passa por momentos de dilúvio e deserto na vida”, reflete. “Acho que
o mesmo acontece com o disco. As músicas também seguem esse fluxo. De muito e
pouco. De certa forma, tudo vai passar e vai ficar”.