A cantora se apresenta no Festival Sarará, dia 31 de agosto, a convite de Letrux
“O talento desenvolve-se no amor que pomos no
que fazemos… Talvez até a essência da arte seja o amor pelo que se faz, o amor
pelo próprio trabalho”. Assim como na frase do romancista e dramaturgo Máximo
Gorki, a paixão pela arte sempre fez parte da natureza de Marina Lima. Ainda
menina, a carioca empregou a música como primeira fuga ao esmorecimento. “Tudo
aconteceu pra mim de um jeito mágico. Eu ganhei um violão quando era menina e
morava fora do Brasil. Mas nele tinha uma certa melancolia, porque sentia falta
do meu país. E toda a minha saudade acabei colocando naquele violão”, lembra a
cantora.
O
ofício de artista, que desde cedo corre em suas veias, fez de Marina uma das
maiores cantoras e compositoras do país. Mas, o que muitos não sabem, segundo a
própria, é que a composição é sua maior atração. “Eu uso a música para me
traduzir. Entretanto, o que mais gosto e o que acho mais importante no meu lado
artístico é compor. Eu nunca abandonei a composição. Volta e meia eu deixo de
cantar, de tocar. Mas de compor, nunca”, explica Lima.
Tão
fundamental quanto respirar. Marina logo percebeu, ainda aos 12 anos de idade,
que não conseguiria sobreviver sem a música: “Quando minha família voltou dos
Estados Unidos, meu pai quis vir de navio. Eu despachei o violão com meus
irmãos, que retornaram de avião. Fiquei doze dias embarcada em alto mar,
desesperada. Foi aí que percebi que tinha uma relação quase de dependência com
a música”, recorda sobre a volta ao Brasil.
Para
Marina, muito mais que uma carreira de sucesso, o dom que tem a ajudou na sua
relação com o mundo. Inclusive, estreitando os laços com o próprio irmão, o
poeta e compositor Antônio Cícero. “O Cícero é dez anos mais velho, por isso eu
não tinha a menor identificação com ele. Mas pelo fato de ele ser poeta e eu
estar compondo, começamos a criar juntos. A partir daí, descobrimos uma
afinidade enorme. E isso quem trouxe foi justamente a arte”, revela.
Aos
16 anos, Marina decide estudar música. Seu pai, entretanto, tinha o desejo de que
ela se dedicasse ao vestibular para informática – tudo por conta de sua
habilidade em ciências exatas. O anseio do pai não foi possível, mas como boa
virginiana, a matemática sempre esteve em seu trabalho. “A arte também é exata.
Até pra você criar “loucuras” é preciso uma lógica. Então, eu juntei a “fome”
com a “vontade de comer”: Peguei uma coisa que eu tinha um talento enorme, que
era matemática e juntei com o lugar com o qual eu me soltava: a música”,
diverte-se.
Superdescontraída,
Marina se lembra de outro fato inusitado da carreira. Ao lançar o disco “O
Chamado”, em 1993, se dizia uma “jovem senhora de passagem”. Fato é que, à
época, Lima tinha apenas 38 anos e foi questionada sobre o assunto. “Naquela fase,
com menos de 40, parecia que era uma “pessoazinha” querendo atenção. Mas eu
falei delicadamente, fui fina, não queria agredir ninguém. Hoje em dia, por sua
vez, tenho 63 anos. Agora posso reclamar de tudo. Se a sua carreira e a sua
vida tiverem uma lógica, você tem o direito de bater o pé. Com 60, você adquire
esse direito”, comenta aos risos.
Lembrada
por sua personalidade forte e postura firme, a compositora sempre correu atrás
do que acreditava e, mesmo não gostando de embates, nunca fugiu da luta. Seu
último álbum, “Novas Famílias”, é um dos maiores retratos do que Marina crê ser
importante. “Eu não gosto de brigar. Eu brigo quando não querem me deixar
realizar o que eu quero e o que acho que tenho o direito. Brigo pelo meu espaço
e para ajudar as minorias. Novas Famílias é um dos trabalhos que mostra um
pouco disso”, explica Marina.
Novos
Projetos e Música Atual
Cheia
de projetos e visceralmente apaixonada pelo trabalho, Marina revela seu desejo
de lançar seu livro de partituras. “Agora, estou preocupada em fazer um songbook. A minha obra são os meus
discos. Então, vou colocar os 19 álbuns no songbook.
Serão 19 cifras, letras e partituras nele”, esclarece.
Em
Belo Horizonte, Marina chega dia 31 de agosto, na sexta edição do Festival Sarará, a convite de Letícia Novaes – Letrux –, a quem considera uma das
melhores artistas da nova geração. “Eu vejo Letícia como a minha “salvação”
musical, em relação Rio de Janeiro. Quando saí de lá, em 2010, eu não estava
conseguindo me encontrar mais. Na época estava tudo igual musicalmente falando.
Quando a Letícia lançou o primeiro disco dela, foi uma alegria imensa, era como
se fosse minha filha”, exalta.
Ainda
segunda a cantora, Letrux é uma de suas maiores apostas para o futuro da
música. “Eles são muito interessantes e falam do mundo de hoje. Ouvindo eles, a
gente aprende um monte de expressões e frases novas. Inclusive, o pessoal de
Belo Horizonte não pode perder a chance de ver esse show. Espero que todo mundo
vá e curta muito”, finaliza.