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Regiões atingidas por barragens tentam reerguer turismo após tragédias

A Páscoa é a esperança de recuperação para Mariana e Brumadinho, regiões que amargam queda drástica no número de turistas


Créditos da imagem: Felipe Cunha/Prefeitura de Mariana

Izabela Ventura

|
03/04/19 às 12:00
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Infelizmente a história se repetiu, e mais cidades mineiras
foram gravemente afetadas pela atividade mineradora no estado. Depois do
rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (2015), a da mina Córrego do
Feijão devastou parte de Brumadinho, em janeiro. Mas, além de suas dores e
incertezas, o que essas comunidades têm em comum é a garra para dar a volta por
cima. E depositam na Páscoa, um dos feriados mais importantes do ano, a
esperança para a retomada do turismo.

Você pode ajudá-los visitando as regiões que já são consideradas
seguras, mas amargam quedas drásticas no número de turistas, e dependem dessa
renda para o equilíbrio das contas públicas.

 

Em Brumadinho, as reservas
nos 47 espaços de hospedagem caíram até 70%. O perfil turístico também mudou,
passando de lazer para negócios (jornalistas, técnicos e demais profissionais
envolvidos com as consequências da tragédia).

 

O principal indutor de
turismo na região, o Instituto Inhotim, apesar de não ter sido atingido pelos
rejeitos, precisou ficar fechado por duas semanas. A visitação sinalizava
crescimento até o dia da tragédia. Em fevereiro, com a interrupção, houve queda
de 56% em relação à média mensal de visitantes dos últimos cinco anos.

 

No site do instituto foi
criada uma sessão com esclarecimentos sobre a segurança do local, abordando,
por exemplo, a qualidade da água que abastece a cidade, e não foi afetada. “Imaginamos
que a visitação no Inhotim e o turismo na região ainda vão levar um tempo para
se recuperar. Estamos trabalhando nisso e tentando mostrar para os visitantes
que o local está seguro, que há vida na região, e muito desejo de
retomar. Brumadinho é a casa do Inhotim e de muitas outras vidas e
histórias”, destaca o diretor executivo, Antonio Grassi.

 

No sábado que antecede a
Páscoa (20/4), haverá mais uma ação interativa no Inhotim com o trabalho A Origem
da Obra de Arte, da artista Marilá Dardot. Será um momento de convivência, compartilhamento
e construção conjunta entre crianças, adultos e a natureza. Outra boa pedida é conhecer
Spider, a escultura de uma aranha gigante
criada pela francesa Louise Bourgeois. E também fazer a visita panorâmica, explorando
as possibilidades de passeios pelo lugar.

 

Outras riquezas



Foto: visitebrumadinho.com.br

 

Além do Inhotim, Brumadinho
tem uma área verde extensa com espécies de Mata Atlântica e Cerrado. Também é rica
em oferta cultural, com tradições de congado e comunidades quilombolas
reconhecidas. Esse turismo também foi prejudicado com o rompimento da barragem
porque a lama atingiu a estrada principal que liga a sede aos outros distritos,
dificultando o acesso (25 quilômetros a mais no trajeto) e o deslocamento entre
os atrativos.

 

Uma ponte está sendo
construída e deve estar pronta até a Páscoa, para que os visitantes possam
permanecer mais tempo na cidade e circular pelo município, conhecendo outros
atrativos além do Inhotim.

 

“O maior desafio agora é
desconstruir a imagem negativa que ficou da cidade, a de uma região desolada
pela tragédia. Estamos empenhados em levar informações corretas aos visitantes,
e nos inspirando em campanhas de divulgação como a de Mariana, após a crise de
2015”, observa Pedro Henrique da Silva, turismólogo da Secretaria Municipal de
Turismo e Cultura de Brumadinho.

 

Mariana aposta em
divulgação

Foto: Felipe Cunha/Prefeitura
de Mariana

Em Mariana, a estratégia para reverter a perda de 40% de
turistas após o incidente com a barragem em 2015 foi a divulgação de assuntos
positivos para a sociedade, mostrando os valores e atrativos do município. Foram
produzidos mais eventos, como
feiras de artesanato e shows com bandas típicas; criado um festival da canção nacional
e o  turismo esportivo de trilhas e
ciclismo tem sido mais promovido.

No entanto, a
cidade ficou sem recursos para investimentos desde a paralisação das atividades
da Mina de Alegria, da Vale, em março. O prefeito chegou a decretar calamidade
financeira e suspender o calendário de eventos, mas revogou o decreto após um
acordo com a mineradora.

Outro inibidor do
turismo em Mariana é a estrada de acesso, que funciona no sistema ‘pare/siga’,
gerando sensação de insegurança nos turistas. “Eles acabam preferindo escolher
outro destino para ir com a família. Permanece ainda, para muitos, a ideia de
que estamos numa região devastada. Isso assusta as pessoas”, lamenta o
secretário de Cultura, Patrimônio Histórico, Turismo, Esportes e Lazer de
Mariana, Efraim Leopoldo Rocha.

 

No entanto, há a
expectativa de receberem milhares de turistas na Semana Santa, pelo fato de
Mariana ser um dos principais municípios do circuito religioso de Minas Gerais.
Segundo o secretário, datas comemorativas como essa têm grande importância para
cidades turísticas, que têm boa parte de sua renda oriunda dessa atividade.

 

Um reforço importante
para a Páscoa tem sido a campanha de comunicação Venha Viver a Semana Santa em
Minas Gerais, da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo. No hotsite turístico, há roteiros e
programações completas dos festejos nas cidades históricas, munindo o visitante
de informações para uma viagem tranquila e proveitosa.

 

“Trabalhamos em diversas
frentes, em conversa com entidades públicas e privadas, para a elaboração de um
projeto que possa mitigar problemas ambientais e humanos nessas regiões, e
causar um impacto positivo”, afirma o superintendente de Políticas do Turismo
da Secretaria, Rafael Oliveira.

 

Prejuízo e incertezas em Macacos

Foto: Rosemarie Dusanek

 

São Sebastião das Águas Claras (distrito de Nova Lima conhecido como
Macacos) e a cidade de Barão de Cocais também amargam os riscos de um possível
incidente com barragens. Sirenes de alerta de rompimentos tocaram algumas vezes
nessas localidades, assustando não só os moradores, como os turistas.

 

Todo o município depende direta ou indiretamente do turismo, que caiu
90%. Cerca de 600 empregos diretos foram afetados nos cem empreendimentos
ligados à cadeia turística. Isso inclui os 28 demitidos do restaurante Acervo
da Carne, que teve que fechar as portas, sem previsão de reabertura neste ano.
A proprietária, Rosemarie
Dusanek, mantinha o funcionamento há 25 anos. “Tive que acertar as contas com
os funcionários porque meu custo fixo é muito alto. A situação é bem difícil,
porque toda a minha renda depende do negócio”, conta.

 

O Acervo fica na chamada
Zona de Autossalvamento (Zas), área que seria atingida pelos rejeitos em caso
de rompimento, onde ficam 5% dos empreendimentos. A Vale informa que reforçou
ações preventivas na barragem e monitora o local 24 horas por dia. 


Os outros 95% dos
negócios estão em locais seguros, mas com as contas seriamente comprometidas
com a falta de turistas. Gleidson Rocha, dono do Trilha 4 Rodas, aluga
quadriciclos para visitantes em busca de aventura. Está com todo o equipamento
disponível, pronto para atendê-los, mas só recebe 10% do número habitual de
clientes. “Estamos fazendo o que podemos para trazer os turistas de volta, mas,
por enquanto, o que prevalece é o clima de incertezas”, diz.