Uma ideia (ou várias). Começam as primeiras
digressões, as leituras, os ajustes e os ensaios de uma peça; as performances e
as interações do elenco com o público em praça pública para a construção da
dramaturgia; o diálogo com estudiosos convidados para aprofundar o processo de
criação. Assim se compõe o webdocumentário “A gente pode tudo pelo
menos por enquanto”, registro do processo artístico, dos ensaios e das
estreias nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, de OUTROS,
a mais recente peça do Grupo Galpão, estreada em 2018.
Dirigido por Luiz Felipe Fernandes, o filme é
dividido em seis episódios, de cerca de 15 minutos cada, que vão ao ar às
segundas e quintas-feiras, entre 11 e 28 de janeiro, no canal de YouTube da companhia. Os vídeos ficam disponíveis até 11 de fevereiro.
“A câmera se torna quase que um integrante do
Galpão, captando toda a intimidade entre essas pessoas que estão há quarenta
anos juntos”, conta Luiz. O diretor acompanhou por quase um ano - entre março
de 2018 a março de 2019 - o processo que resultou em OUTROS.
Ao final, o cineasta tinha cerca de 150 horas e milhares de imagens captadas de
forma bastante intimista.
A peça OUTROS partiu de
dois temas: alteridade e poesia. Relacionando esses assuntos, diretor, atores e
atrizes transpuseram para o palco o amadurecimento das dúvidas e inquietações
contemporâneas que já tinham sido levantadas em NÓS (de 2016),
também dirigida por Marcio Abreu. Esses dois assuntos acabaram sendo pilares
também para “A gente pode tudo pelo menos por enquanto”.
“Não há intervenção minha, como se eu fosse um
observador privilegiado, conduzindo apenas o enquadramento e a captura das
cenas. Mas sem criar uma narrativa sequencial. Tudo para preservar a
linguagem do espetáculo e traduzir o clima de inquietação e da busca pelo
entendimento do lugar do artista e sua relação com o outro e com o público por
meio das várias etapas e lugares, como a sala de ensaio, as intervenções, as
conversas etc.”, explica o diretor da série.
Assim, é possível acompanhar por meio das cenas
como o espetáculo foi criado, porém de forma solta, sem prender o espectador a
uma narrativa temporal e nem a um narrador que conduz a história. Falas do
encenador Marcio Abreu são entremeadas com cenas de ensaio, seguidas por
performances nas ruas de Belo Horizonte, quando o elenco fez intervenções
artísticas e interações com os transeuntes, e assim por diante. Neste mosaico,
é possível um entendimento maior da criação teatral.