“A dona do tacho” conta a história de dona Nelsa Trombino, do Xapuri, e tem pré-estreia no dia 16 de maio
Ela não fundou apenas um restaurante. Ao abrir as portas de sua casa gastronômica há mais de 30 anos, dona Nelsa Trombino pouco imaginava que o local se transformaria numa espécie de embaixada da comida mineira. E que ela própria ocuparia o ofício de divulgadora da gastronomia de Minas Gerais pelo Brasil e mundo afora. Essa emocionante trajetória, que mescla décadas de dedicação no fogão a lenha e mobilização em defesa de nossas tradições alimentares, recheia o filme “A dona do tacho”. O documentário presta homenagem à fundadora do Xapuri, o principal restaurante de comida mineira tradicional do país e que está localizado na Pampulha, em Belo Horizonte. Com direção de Marcelo Wanderley e roteiro de Rafael Rocha, o filme tem sessão de pré-estreia no dia 16 de maio durante o Matula Film Festival. A exibição online e gratuita será realizada no site matulafilmfestival.com.br. A apresentação é da plataforma gastronômica Cumbucca.
Atualmente com 82 anos, dona Nelsa Trombino coleciona inúmeros desafios e vitórias ao longo dessa saborosa caminhada, agora narrada pelas lentes do diretor estreante Marcelo Wanderley. “Ela é um exemplo de esforço na defesa da gastronomia mineira tradicional. Fiquei espantado com a energia de dona Nelsa e com a força de sua verdade”, conta o realizador.
Vinda da cidade paulista de Cubatão, Nelsa Trombino mudou-se para o interior de Minas Gerais após seu casamento. No período em que morou numa fazenda em Lagoa da Prata aprendeu as artimanhas dos preparos tradicionais da cozinha mineira, como os segredos para um salivante frango com quiabo e a perícia na feitura dos doces, um de seus mimos, inclusive. A vinda para Minas só confirmou um destino que já parecia traçado. Caçula de uma família de imigrantes italianos com nove filhos, a pequena Nelsa frequentava a cozinha desde criança, e aprendeu os primeiros passos culinários com a mãe.
Além de panelas e tachos repletos de delícias, as mãos de dona Nelsa também foram responsáveis por sedimentar valores culturais, gastronômicos e até mesmo urbanísticos em Belo Horizonte. Mesmo com as belezas arquitetônicas de Niemeyer ao redor da lagoa, a Pampulha carecia de estrutura em seus arredores. Com o sucesso absoluto do restaurante, inaugurado em 1987, já nos primeiros meses de funcionamento o Xapuri acabou cumprindo também esse papel.
Ao longo de décadas, essa mulher abnegada optou por não tirar o pé da cozinha. Comandou seu restaurante com dedicação espartana. As mãos sangravam de tanto fazer doce. “Eu tinha que tomar analgésico para diminuir as dores no corpo”, relembra. Questionou normas sanitárias burocráticas que quiseram vetar o uso de tachos de cobre. Lutou pela manutenção da cozinha mineira tradicional. “Tenho muita preocupação se isso vai ser mantido pelas novas gerações. Agora tudo leva creme de leite ou é flambado em frigideira”, reflete.
Parte da visibilidade que a gastronomia mineira vem ganhando há alguns anos no cenário nacional merece ser creditada também a ela. Mesmo com a responsabilidade de comandar diariamente seu restaurante, não se absteve quando sua presença foi solicitada para viajar o mundo e levar a identidade mineira por onde fosse. Esteve em vários estados do Brasil e em diversos países, como Espanha, Inglaterra e China. Ganhou incontáveis prêmios e participou de inúmeros festivais gastronômicos. O restaurante Xapuri hoje é comandado por Flávio Trombino, filho e sucessor de dona Nelsa.
O filme “A dona do tacho” foi viabilizado por meio da Lei Aldir Blanc.