Cultura

A era disco chega ao século XXI

Espetáculo de Nelson Motta e Patrícia Andrade desembarca em Belo Horizonte trazendo o embalo dos anos 70


Créditos da imagem: Leo Aversa

Júnior Castro

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12/07/19 às 20:00
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“Era
prazer? Era. Mas era mais que prazer. Era alegria. A diferença? O prazer só
existe no momento. A alegria é aquilo que existe só pela lembrança. O prazer é
único, não se repete. Aquele que foi, já foi. Outro será outro. Mas a alegria
se repete sempre. Basta lembrar”. O texto de Rubem Alves elucida a nostalgia
permanente do ser humano. Voltar no tempo dá prazer, transforma, emociona. E é
justamente “cantando” a saudade que Nelson Motta chega a Belo Horizonte com o espetáculo
O Frenético Dancin´Days.

A
montagem, que resgata os bons tempos da boate Frenetic Dancing´Days
Discotheque, fundada em 1976, no Rio de Janeiro, traz clássicos da discoteca ao
palco do Sesc Palladium. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, o empolgante
estilo musical que arrebatou a década de 70, nasceu de um “desastre”. E quem
nos conta essa história é seu próprio autor, Nelson Motta. “A disco music foi uma grande vitória que
veio de um fracasso colossal. Eu fiz o Festival de Saquarema, que foi um evento
que uniu outros dois festivais, um de rock
a um de surf. Rita Lee, Raul Seixas,
Ângela Ro Ro e uma turma da pesada fizeram parte dele. Mas tudo que podia
acontecer de errado, aconteceu. A água acabou, o palco caiu, choveu. Foi um
sucesso pra quem foi, mas um prejuízo monstruoso para produção”, lembra.

Do
fracasso ao sucesso. O Festival de Saquarema, apesar de inúmeros problemas,
conquistou enorme repercussão na mídia. Motta ficou em evidência e foi convidado
pelos donos do recém-inaugurado Shopping da Gávea. “Eles me chamaram e disseram
que o shopping estava pronto, todas as lojas estavam vendidas, mas que ninguém
ia pra lá e precisavam de qualquer coisa para torná-lo conhecido”, recorda
Nelson. Foi então, que os proprietários ofereceram uma grande área e deram
carta branca para que ele criasse o que quisesse, incluindo todo custo de
produção. Assim, nasceu a fabulosa Frenetic Dancing´Days Discotheque.

O
estrondoso êxito da boate durou quatro meses e marcou o comportamento de toda
uma geração. “Tivemos que montar a casa em duas semanas, porque iria fechar em
quatro meses. Era morte anunciada. O espaço já havia sido vendido pro Teatro
dos Quatro, então, a gente precisava aproveitar cada dia”, conta. Em dois dias,
Nelson foi para Nova York, garimpou discos, comprou equipamentos e percorreu
discotecas. “A Frenetic foi um trabalho colaborativo. Não tínhamos tempo e,
mesmo assim, no fim deu tudo certo”, explica o autor.

Garçonetes
também se tornaram estrelas na era dance. O grupo As Frenéticas nasceu de um
convite de Motta a sua então cunhada, Sandra Pêra. “Eu chamei a Sandra para ser
garçonete na casa. Ela aceitou e convidou outras amigas. Mas me pediram para
cantar umas três músicas no fim da noite. Achei maravilhoso e coloquei o
Roberto de Carvalho para ensaia-las. Não deu outra, foi um sucesso arrebatador”,
diverte-se.

Com
o fim da boate, As Frenéticas já eram tão famosas que, em pouco tempo, passaram
a se apresentar no Teatro Rival, fecharam contrato com a Warner Brasil e cantaram
o tema de abertura de uma das novelas de maior sucesso da época. “Depois que a
casa fechou, acabei vendendo a marca para a Globo, que lançou a novela Dancin’
Days, em 1979. Além disso, ainda escrevi a música tema, que até hoje é tocada”,
finaliza.

Espetáculo e século XXI

Mais
de 40 anos depois do fechamento da icônica casa noturna carioca, chega aos
palcos o musical O Frenético Dancin´Days. Com texto do próprio Nelson Motta e
de Patrícia Andrade, a ideia do espetáculo veio por meio da filha do autor,
Jacqueline Motta. “Há muito tempo ela me pedia para escrever uma peça sobre
isso. A primeira vez que sentei para produzir não gostei. Ficou com muita cara
de documentário. Aí convidei Patrícia, que é uma excelente profissional, e ela deu
todo o tom de dramaticidade que a gente precisava”, revela.

Outra
conquista foi ter Deborah Colker, grande amiga de Jacqueline, como parte da
equipe da peça. “Deborah nunca aceitou fazer um musical. Ela tem um estilo
muito próprio e, infelizmente, no Brasil, quase toda montagem tem inspirações
americanas. Foi quando a minha filha fez uma proposta irrecusável: disse a
Deborah que ela teria livre arbítrio e poderia fazer o que quisesse. Ela
aceitou e, modéstia a parte, o espetáculo está imperdível”, orgulha-se.

O Frenético
Dancin´Days
fica em cartaz no Grande Teatro do Sesc Palladium nos dias
12 e 13 de julho. A ficha técnica ainda inclui nomes como Gringo Cardia
(cenografia e direção de arte), Maneco Quinderé (desenho de luz), Alexandre
Elias (direção musical), Fernando Cozendey (figurinos) e Max Weber (visagismo).