Cultura

Igreja mais antiga de BH nasceu antes mesmo da criação da cidade

Saiba como o primeiro edifício religioso de BH nasceu antes da fundação da cidade e influenciou o desenvolvimento do Curral Del-Rei


Créditos da imagem: Reprodução / Youtube Qcana via
Igreja da Boa Viagem Igreja da Boa Viagem

Yasmin Oliveira

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18/11/25 às 18:05 - Atualizado em 19/11/25 às 16:54
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A Igreja da Boa Viagem surgiu por volta de 1700, na área que hoje corresponde à Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Em 1709, o português Francisco Homem del Rey obteve autorização da Coroa portuguesa e se estabeleceu na região. Ele trouxe uma imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos navegantes, e, posteriormente, ergueu uma capela de pau a pique em homenagem à santa. Assim, ele expressou sua gratidão pelas travessias seguras que realizava pelo Oceano Atlântico.

Com o tempo, diversos imigrantes de outros estados e países se deslocaram para Minas Gerais em busca de oportunidades no garimpo de ouro, especialmente nas cidades de Ouro Preto e Mariana. Entre esses navegantes, Francisco Homem del Rey se destacou por iniciar o núcleo religioso local.

À medida que a população crescia, a capela não conseguia mais atender os fiéis. Por isso, os moradores ampliaram o templo. Consequentemente, o Arraial do Curral Del-Rei se desenvolveu ao redor da capela e se consolidou como ponto de apoio e de bênçãos para viajantes e residentes.

Construção da nova igreja e consolidação urbana

Com a decisão de construir a nova capital mineira, o governo considerou essencial erguer um templo maior e mais adequado ao novo traçado urbano. Dessa forma, a atual Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem foi construída e inaugurada em 1923.

Em estilo neogótico, a igreja passou a compor de maneira marcante o cenário paisagístico da cidade. Hoje, ela ocupa uma praça entre as ruas Sergipe, Alagoas, Timbiras e Aimorés. A tradicional imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem permanece no local há 300 anos, reforçando a continuidade histórica do templo.

O desaparecimento do antigo cemitério

Antes da criação dos grandes cemitérios urbanos, as igrejas realizavam velórios e enterramentos em áreas anexas. No caso da Boa Viagem, o cemitério ocupava o espaço onde atualmente existe a praça em frente ao templo.

O engenheiro Aarão Reis, responsável pelo projeto urbanístico de Belo Horizonte, chegou a considerar a demolição da igreja. No entanto, a Igreja Católica proibiu a remoção do templo. Ainda assim, em 1894, Reis extinguiu o cemitério. Ele primeiro proibiu novos enterros e, posteriormente, transferiu os corpos para outros locais.

A Igreja da Boa Viagem passou por três fases: inicialmente, a capela de pau a pique; depois, um templo maior no período do Curral Del-Rei; e, por fim, a atual catedral, que passou por reforma entre 2015 e 2020.

Expulsão dos moradores antigos e impacto social

O antigo Curral Del-Rei possuía três templos principais: a matriz da Boa Viagem, a Igreja do Rosário — frequentada predominantemente por pessoas negras e ex-escravizados — e a capela de Santana.

Quando o governo decidiu implantar a nova capital, ele expulsou a população local. Assim, os moradores mais pobres foram obrigados a se deslocar para áreas mais distantes do atual Centro de Belo Horizonte. Segundo o historiador Bruno Viveiros, essa dinâmica reforçou um processo de exclusão social, no qual a Igreja da Boa Viagem passou a representar os interesses da elite branca que ocupava o antigo arraial.