Projeto do fotógrafo Horacius de Jesus mostra o cotidiano do Morro das Pedras e expõe o resultado em diferentes cantos da cidade
Uma câmera na mão e a vontade de mostrar o Morro das Pedras sob
uma ótica diferente deram oportunidade a Horacius de Jesus de transformar a comunidade em
sua ‘musa inspiradora’. E, com o projeto Favela, Uma Foto por Dia, o fotógrafo
concretizou o sonho de revelar o morro que ele vê em suas memórias. Com
quase 11 anos de existência, a iniciativa levou o artista para outros ares,
fotografando comunidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Agora, Horacius também está
participando do projeto O Inusitado Cabe Dentro do Comum, da Funarte.
A “busca da poética no caos” é como o fotógrafo, de 35 anos, descreve seu projeto. Tirando uma foto por dia das ruas e vielas do
Morro das Pedras, conjunto de sete vilas localizadas na região Oeste de BH, o
artista quer que as pessoas conheçam todos os lados que a favela tem a
oferecer.
“Saio todos os dias com a câmera, ou com um celular, e faço pelo
menos uma foto todos os dias das paisagens que vejo. Tento fazer algo diferente
todas as vezes, mas sempre mostrando a favela como ela realmente é. E o projeto
quer gerar isso, acabar com o estereótipo, apresentar a comunidade para as
pessoas e mudar a ideia que têm sobre a favela”, conta Horacius.
Crédito da Imagem: Horacius de Jesus
Toda história tem um
começo
Formado em Artes Visuais pela UEMG e educador há 12 anos, o fotógrafo
conta com outros projetos na comunidade. O Morro Verde, uma horta comunitária,
e o História em Construção, com oficinas artísticas para os jovens do Morro das
Pedras, são alguns deles. Mas, não para por aí, Horacius pretende criar mais uma
iniciativa em que convidará sete jovens das vilas do morro para registrarem a
favela pelo olhar deles.
E é dessa forma que o professor quer influenciar a vida dos
adolescentes: com a arte. Como aconteceu com ele alguns anos atrás.
Em 2001, Horacius entrou para um programa de audiovisual no Morro
das Pedras. As oficinas eram com o documentarista belo-horizontino Marcelo Reis,
que levou para a comunidade o contato com o meio artístico e com os
equipamentos técnicos, mostrando uma outra realidade para os jovens.
“Ele [Marcelo Reis] apresentou algo novo, mostrou a
técnica. Mas percebi que a questão visual e artística já era minha desde a infância.
Sempre tive muita influência da minha vó que circulava constantemente pela favela. Andar
na comunidade com a minha família criou uma memória visual muito rica em minha mente e queria retratar aquilo, porque existia uma poética nos becos da
favela e nas pessoas”, comenta o fotógrafo.
Crédito da Imagem: Horacius de Jesus
Sempre ligado às artes, em 2008, Horacius transformou
seus poemas e suas memórias em imagens da comunidade, de becos que não existem mais, e passou a expor
seu trabalho em varais pelo Morro das Pedras.
Estudando, participando de oficinas, conhecendo fotógrafos e
tentando se aprimorar, o artista se formou, apresentou o Favela como trabalho
de conclusão na universidade e conquistou espaços que nunca pensou ser possível alcançar.
Mas, para ele, ainda há muita evolução a ser feita.
“Enquanto não tivermos uma descentralização efetiva da informação
e da arte, vamos continuar criando arquétipos da imagem da favela, que está ‘fora
do tradicional’. Hoje estamos quebrando esses paradigmas, mas ainda existe uma
favela no imaginário coletivo que generaliza a comunidade. E é necessário entender
as minúcias e as particularidades dos lugares. E os programas e projetos são
para mostrar o outro lado e mudar a visão das pessoas”, afirma.
Mas algumas mudanças já foram feitas por Horacius, que expôs seus trabalhos no Sesc Palladium, na UFMG e, agora, foi convidado por uma
amiga artista para participar do coletivo O Inusitado Cabe Dentro do Comum, da
Funarte. Confira os trabalhos de Horacius de Jesus em suas redes sociais.