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Atrizes-garçonetes refletem sobre viver da arte no Brasil em 'Arrepsia'

Peça da IncompetênCia faz curta temporada na Funarte, em BH



Créditos da imagem: Daniel Marcio/Divulgação
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Gabi Vieira, Malu Dimas, Rafa Calú e Sarah Vá vivem história com toque autobiográfico sobre o desafio da vida nos palcos
Bossuet Alvim
29/03 às 15:05
Atualizado em 29/03 às 15:05

Depois de uma temporada bem-sucedida por palcos e espaços descentralizados de BH, a peça 'Arrepsia' desembarca no hipercentro da capital mineira neste fim de semana (5 a 7 de abril), com sessões na Funarte (Rua Januária, 68 - Centro). 

"O espetáculo chega ao Centro de BH após uma maravilhosa troca de experiências coletivas do grupo com as comunidades dos bairros periféricos na temporada passada, as nossas casas", explica a atriz Rafa Calú, que divide cena com as outras fundadoras da companhia IncompetênCia – Gabi Vieira, Malu Dimas e Sarah Vá.

Público transformou a peça

Entre outubro e novembro do ano passado, o espetáculo que narra a trajetória de quatro atrizes com o sonho de viver da própria arte circulou por regiões periféricas de Belo Horizonte, incluindo os bairros onde as próprias artistas nasceram e cresceram. 

A experiência, segundo o grupo, ajudou a moldar a versão atual de 'Arrepsia'. "Agora essa vivência faz parte do espetáculo, do seu coração, e está no cerne do que somos, na alegria de construir junto às nossas comunidades e poder compartilhar com outras pessoas e perspectivas" completa Calú.

Viver da arte no Brasil

A montagem se baseia nas experiências do quarteto de atrizes da IncompetênCia, que ao longo de suas trajetórias precisaram trabalhar nos mais diversos ofícios para manter viva a carreira sobre os palcos. Na peça, as atrizes fazem expediente como garçonetes enquanto dividem suas impressões e desabafos com o público, que ocupa o lugar de frequentadores do bar. 

Entre um atendimento e outro, o quarteto debate sobre negritude, gênero e classe social, além de refletir sobre o contexto trabalhista de um país latino-americano. Apesar da intensidade dos temas abordados, a IncompetênCia é debochada, ou seja, usa e abusa da ironia-crítica para passar o recado. 

"Buscamos refletir a realidade de grande parte de atrizes e de atores brasileiros, que não conseguem viver de sua arte e acabam tendo que buscar outras alternativas para se sustentar, mas, mesmo estando em um ambiente de bar, a gente não consegue deixar de criar e refletir nossos sonhos", declara Malu Dimas, que recentemente esteve na novela 'Amor Perfeito' (Globo).

Trabalho duro além do sonho

A realidade da jornada dupla, assim como o trabalho árduo enfrentado no caminho que leva a um sonho maior, são elementos que norteiam a peça e transformam a experiência das atrizes em algo comum e de fácil compreensão para boa parte do público. 

"As pessoas precisam assistir este espetáculo porque ele fala da realidade do trabalhador, que está no corre, fala dos nossos desejos e sonhos. Esta peça é uma chamada de esperança em meio ao caos", observa Sarah Vá. 

Pluralidade representada

Formado por mulheres negras, de corpos e existências plurais, o elenco de 'Arrepsia' também evidencia com a peça a falta de dramaturgias que contemplem estas existências fora do padrão, por muitas vezes subrepresentadas. 

"Nosso espetáculo aborda nós, quase maratonistas do cotidiano, que às vezes esquecemos nossos motivos e sonhos. Tenho refletido muito sobre a ideia de encontros, sobre como esse magnetismo entre pessoas transforma vidas. E com toda certeza, 'Arrepsia' não apenas transformou a minha vida, mas também pode impactar a de muito mais gente", diz Rafa.

Ingressos

Sessões na sexta-feira e sábado (5 e 6 de abril) acontecem às 20h; no domingo (7 de abril), às 19h. As entradas estarão à venda na bilheteria da Funarte, 1 hora antes de cada sessão. Ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). As três sessões contam com acessibilidade em Libras e com recepcionista atitudinal, uma pessoa responsável por receber e orientar pessoas com deficiência.