Homenagem de pai para filho, peça explora visões de mundo por uma criança atípica
O espetáculo ‘Aptá’, uma criação do dançarino Bernardo Gondim, estreia no Teatro Raul Belém Machado (Rua Jauá, 80 – Alípio de Melo) entre 22 e 25 de agosto (quarta-feira a domingo), explorando relações humanas por meio da dança-teatro. A peça é inspirada na conexão de Bernardo com seu filho Manoel, que está dentro do espectro autista, e com o pai do artista, falecido durante o processo de criação.
A narrativa reflete sobre as dinâmicas entre gerações e a percepção de uma criança neurodivergente, abordando temas como o hiperfoco no autismo e a diversidade sensorial, enquanto entrelaça movimento, palavra e silêncio em uma experiência poética. “Está no lugar entre pai e filho, entre o mundo padronizado e o de uma criança atípica, que tem um outro olhar, outra percepção, outra reação, outras expectativas, outras angústias, outra forma de ver o mundo”, resume Gondim.
A montagem destaca ainda o quanto a reflexão sobre o autismo é fundamental em uma sociedade que nem sempre acolhe a diversidade de comportamentos. Segundo Bernardo, a motivação para criar o espetáculo surgiu da necessidade de abrir espaço para um olhar mais humano e ressignificado sobre a neurodiversidade. “Acho que é bem-vinda qualquer discussão que traga um outro olhar mais humano e que ressignifique os espaços”, ele observa.
A diretora Anamaria Fernandes reforça que ‘Aptá’ é uma forma de sensibilizar o público para a questão do autismo, utilizando o interesse do pequeno Manoel como base para a estrutura do espetáculo. “É um espectro grande e diverso. É também um lugar outro de estar no mundo, e trazer isso para arte é uma forma de sensibilizar o público para questão do autismo de maneira poética e sensível.”
O nome ‘Aptá’ remete à forma como Manoel se referia a si mesmo na infância, simbolizando a reinvenção de uma criança neurodivergente em uma sociedade que valoriza a tipicidade. Para Bernardo, o nome carrega um significado profundo sobre a aptidão e a reinvenção, desafiando as expectativas sociais e criando novas formas de estar no mundo.
“Aproveitando a etimologia de sua versão ‘masculina’, apto é o cerne da questão de uma criança neurodivergente dentro das expectativas de uma sociedade que recebe e aceita o que está dentro da tipicidade de comportamento. O que não é típico não está apto. E o que dizer de uma criança que se chama de ‘Aptá’? Ela não só não está apta, como também se inventa, em outra forma de ser, de estar no mundo”, reflete Bernardo Gondim.
As entradas estão à venda pela internet, por R$ 10 (meia-entrada), R$ 15 (promocional) e R$ 20 (inteira). Sessões de quinta-feira a sábado (22 a 24) às 20h; domingo (25), às 16h.
Todas as sessões terão intérprete de Libras; a sessão do dia 24 (sábado) contará com audiodescrição. Após as apresentações, será realizado um bate-papo com o público, que também contará com interpretação em Libras.