Projeto ECOS reúne atividades artísticas e acadêmicas para discutir alcance do movimento modernista
O modernismo no Brasil foi assunto de muitas discussões ao longo do ano passado, quando a Semana de Arte Moderna em São Paulo completou 100 anos. Mas ainda há muito a ser dito sobre a presença do movimento também em Belo Horizonte, como mostram as atividades gratuitas que a Casa do Baile recebe neste sábado (21) e domingo (22). São ações como passeios, visitas guiadas, palestras, oficinas e intervenções urbanas, ligadas ao contexto de inserção modernista na capital mineira.
“Muitos foram os desdobramentos do modernismo desde a Semana, mas pouco ainda se fala sobre a chegada da caravana modernista à ainda pacata Belo Horizonte de 1944, por meio de uma ação fomentada pelo então prefeito Juscelino Kubitscheck”, resgata o historiador da arte e gestor cultural Lucas Amorim, atualmente à frente da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais. Ele é idealizador do projeto ECOS – Modernismo Plural, que engloba as ações deste fim de semana.
Amorim relata que, naquele ano de 1944, “reuniram-se na cidade os mais importantes artistas e intelectuais do período para conhecerem o complexo da Pampulha e participarem da Exposição de Arte Moderna, que teve oito obras giletadas”. Naquela época ainda eram novidades as obras na orla da lagoa e a própria Casa do Baile, inaugurada um ano antes desta marcante visita. O espaço completa em 2023 seus 80 anos de fundação e 20 anos como Centro de Referência da Arquitetura, Urbanismo e Design.
Uma das características marcantes do modernismo, aponta Lucas, eram suas noções específicas de nação, identidade, memória, arte e arquitetura. Os artistas ligados à Semana de 22 estavam, portanto, capacitados para admirar e avaliar o impacto a longo prazo causado pelas audaciosas obras na capital mineira, encomendadas por Kubitscheck e assinadas por Oscar Niemeyer. “Estes [artistas] atuaram em favor do reconhecimento de bens culturais, que deveriam ser preservados para o presente e para o futuro da sociedade. A Pampulha, portanto, é exaltada neste sentido pela sua organização arquitetônica racional e funcional, tendo como principal resultado os edifícios descritos como verdadeiros objetos arquitetônicos”, explica Lucas Amorim.
Considerado Patrimônio Mundial pela Unesco, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha – formado pela Casa do Baile, Museu de Arte (edifício do antigo Cassino), Iate clube e a Igreja de São Francisco – deixou marcas de sua influência no gosto e no modo de vida da população belo-horizontina. Está visível na arquitetura até mesmo em bairros distantes da Pampulha, em construções de diferentes períodos. As ações do Projeto Ecos buscam integrar os espaços do Conjunto Moderno à programação, através de atividades como um passeio de bicicleta que visita os principais prédios, ou um tour a pé pela orla da lagoa – embalado pela leitura de poemas da modernista Cecília Meireles.
Outra atração de destaque é a oficina de educação patrimonial, que tem como foco o processo de adaptação da Igreja São Francisco de Assis aos padrões de acervo e visitação dos museus. A festa de encerramento fica por conta do BeHoppers, um coletivo de dança da capital especializado no estilo de dança Lindy Hop, surgido nos EUA entre os anos 1920 e 1930, ao som de jazz tocado pelas big bands. A performance do grupo é também um convite para um piquenique no gramado da Casa do Baile, uma das funções originais que o espaço tinha para a população de BH nos anos 1940.
Confira a programação:
10h às 12h | Mini Curso – Laboratório de Crítica
Rodrigo Vivas, Professor de História da Arte na UFMG, apresenta o papel da crítica para a consolidação das artes plásticas em Minas Gerais e aspectos da escrita da história da arte em Belo Horizonte.
10h às 12h | Mini Curso – Educação Patrimonial – Igrejinha da Pampulha
A historiadora Thaís Alvim e a museóloga Rayane Rosário apresentam no mini curso noções de proteção, preservação e valorização do patrimônio histórico e cultural, com ênfase no Santuário Arquidiocesano São Francisco de Assis, que passa por um processo de musealização.
14h às 15h | Mesa de Abertura
Rodrigo Vivas, professor de História da Arte na UFMG; e Lucas Amorim, idealizador do ECOS, apresentam um breve panorama da História da Arte de Belo Horizonte.
15h às 16h | Mesa redonda
Museus, Literatura e Modernismo, com Alisson Valentim – mestre em Design, arquiteto urbanista e pesquisador de museus, equipamentos culturais e metodologias de gestão destes espaços; Breno Fonseca – pesquisador da literatura brasileira e do patrimônio histórico e cultural e Rayane Rosário – museóloga e especialista em Gestão do Patrimônio Histórico e Cultural discutem o papel das instituições museológicas para preservação da cultura e a contribuição da literatura na consolidação das políticas de patrimônio no Brasil.
16h às 17h | Nessa rua tem um rio
Thereza Portes, artista , professora e pesquisadora realiza sua tradicional “Mesa de Thereza” e conversa sobre seu projeto de intervenção urbana “Nessa Rua Tem um Rio”, que propõe de uma maneira relacional novos usos e significados do Espaço Público.
17h às 18h | MiniTalk – História Cultural de BH
João Perdigão – pesquisador, escritor e atua com produção cultural e arte educação; e Rafael Perpétuo – gestor do Museu de Arte da Pampulha, discutem a efervescência cultural de Belo Horizonte em suas dimensões éticas, políticas e sociais.
10h às 12h | CityTour – Cecília Meireles e a Pampulha
Breno Fonseca conduzirá um city tour no complexo da Pampulha, apresentando a visão de Cecília Meireles sobre o complexo da Pampulha, a partir dos poemas da escritora e a transversalidade entre a Literatura e Modernismo.
10h às 12h | Tweed Ride – Concentração na Casa do Baile e passeio de bicicleta pela Orla da Lagoa.
14h às 15h | MiniTalk – Design, Arquitetura e Modernismo
João Caixeta – designer, curador, diretor do Museu da Cadeira Brasileira e pesquisador modernista brasileiro e Maíra Onofri – arquiteta e mestre em preservação do patrimônio cultural, conversam sobre cidades, cultura e patrimônio.
15h às 16h | Palestra – Arte, Mercado e Modernismo
Flaviana Lasan – educadora, artista visual, contribui com discussão sobre o mercado da arte/história/educação e o protagonismo feminino.
16h às 17h | PicLindy e Baile de Encerramento
Em uma interessante mistura de piquenique com música e dança, ao ar livre, em celebração à arte e cultura modernista, a Casa do Baile celebra a sua vocação original. É só chegar com paz, amor no coração e boas energias. Quem quiser leve tecido para forrar no chão, comidinhas e bebidinhas. Não esqueça de levar recipiente para recolher seu lixo e deixar a Casa do Baile limpa, como encontrou.
ECOS – Modernismo Plural: palestras, bate-papos, minicursos, visitas mediadas e outras ações
Sábado (21/01) e domingo (22/01) na Casa do Baile (Av. Otacílio Negrão de Lima, 751 – Pampulha)
Programação gratuita, sem necessidade de inscrição prévia, porém, sujeito à lotação
Mais informações pelo Instagram do ECOS