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Mostra exibe os primeiros trabalhos do cineasta mineiro Joel Zito

Pioneiro do cinema negro, Zito ganhou reconhecimento internacional por debater racismo e desigualdade em seus filmes e documentários



Créditos da imagem: Jacob Solitrenick
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Mineiro de Nanuque, atualmente morando na África, em Cabo Verde, Joel Zito, desde os anos 1980 têm desenvolvido estudos acadêmicos e apontado suas lentes para as questões raciais
Thiago Alves
22/07/21 às 10:29
Atualizado em 22/07/21 às 10:29

Diretor, roteirista, produtor e escritor, o mineiro Joel Zito Araújo tem conquistado reconhecimento e respeito internacional por debater o racismo e a desigualdade em seus filmes e documentários. Nesta quinta-feira (22) tem início a Mostra Joel Zito - uma década de vídeo (1987-1997).

 

Até o dia 1º de agosto, o público poderá conferir um recorte inédito da obra fundamental do cineasta: um conjunto de nove filmes realizados em colaboração com movimentos sociais e organizações políticas entre os anos de 1980 e 1990, no contexto do chamado Vídeo Popular. Os filmes ficarão disponíveis no site criado para a mostra.

 

Mineiro de Nanuque, atualmente morando na África, em Cabo Verde, Joel Zito, desde os anos 1980 têm desenvolvido estudos acadêmicos e apontado suas lentes para as questões raciais. Ao mesmo tempo, se revela um diretor comprometido com a causa das mulheres - que, ao lado dos negros, são menosprezadas numa sociedade preconceituosa e machista. Não à toa, sua cinematografia costuma iluminar o protagonismo de mulheres negras, como no premiado média-metragem Almerinda, uma Mulher de Trinta (1989), focado em Almerinda Farias Gama (1899-1992), uma das primeiras negras na política do país. Também vale citar Cinderelas, Lobos e um Príncipe Encantado, cujo roteiro conta o sonho de mulheres pobres que vão tentar a vida na Europa, mas acabam vítimas da exploração sexual.

 

Junto com os filmes, será lançado um catálogo em formato de e-book. O material será composto por uma entrevista com Joel Zito, diálogos com parceiros de trabalho, como o advogado Hédio Silva Júnior e o diretor de fotografia Luiz Miyasaka, além de reflexões sobre as obras, documentos e referências bibliográficas.

 

Além disso, serão transmitidos em tempo real três debates com autores e autoras dos textos do catálogo, como Bernardo Oliveira, Dácia Ibiapina, Débora Olimpio, Edileuza Souza, Ewerton Belico, Fabio Rodrigues, João Carlos Nogueira, Nicole Batista, Paulo Galo e Vladimir Seixas. As conversas serão mediadas pelo crítico de cinema Juliano Gomes, editor dos textos.

 

Filmes

 

Nossos Bravos (1987, 31 min)

Formato original: U-Matic

Docudrama sobre as mobilizações trabalhistas do início do século XX no Brasil, protagonizadas por organizações sindicais de influência anarco- socialista. A partir de recursos ficcionais e arquivos históricos, o filme reconstitui parte importante da memória do sindicalismo brasileiro e de suas maiores greves, estabelecendo o diálogo entre diferentes gerações operárias. Com Lelia Abramo, Dionizio Azevedo, Dulce Muniz, Gésio Amadeo, Cláudio Ferrario, Javert Monteiro, Carla Margareth, Devanir Rodrigues. Apoio da Cinemateca Brasileira e Arquivo Edgar Leuenroth (UNICAMP).

Produção: DIEESE - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos socioeconômicos - Equipe de Educação Sindical/ Montevideo

Roteiro: Joel Zito Araújo e Peter Overbeck Direção: Joel Zito Araújo e Peter Overbeck Fotografia: Peter Overbeck

Montagem: Joel Zito Araújo, Peter Overbeck e Susana Kirkjian

 

Memórias de Classe (1989, 40 min)

Formato original: U-Matic

Documentário sobre o cotidiano e a luta dos trabalhadores da geração dos anos de 1930 no Brasil. Contado através das memórias de uma feminista e quatro sindicalistas, o filme mostra as diversas faces da experiência de organização dos trabalhadores nessa época, da influência varguista ao comunismo, culminando no traço comum da sua relação com as bases operárias. Ganhador do Concurso Nacional de Roteiros da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)/Fundação Ford de 1988. Realizado com financiamento do Concurso e com apoio do DIEESE e da Cinemateca Brasileira.

Produtora: Tapiri vídeo Roteiro: Joel Zito Araújo Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Valdir Tezinho

Montagem: Valdir Tezinho, Rodrigo Astiz e Maria Angélica Lemos

 

Almerinda, Uma Mulher de Trinta (1991, 25 min)

Formato original: U-Matic

Resgate da história de vida da militante feminista dos anos 1930, Almerinda Farias Gama, participante da luta pelo direito de voto da mulher, na Constituinte de 1934, e ativista da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, junto a Bertha Lutz. Realizado em parceria com a

S.O.S Corpo (Recife). Apoio da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS)/Fundação Ford, Fundação McArthur, Novib. Menção   Honrosa,   pelo   caráter   de   preservação da memória, no 14º Guarnicê de Cine-Vídeo/Jornada de Cinema e Vídeo do Maranhão, em 1991. Selecionado para o Habana Film Festival/Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano.

Produtora: Tapiri vídeo/TV Viva

Roteiro: Joel Zito Araújo e Angela Freitas Direção: Joel Zito Araújo e Angela Freitas Fotografia: Valdir Tezinho

Montagem: Joel Zito Araújo e Angela Freitas

 

Alma Negra da Cidade (1991, 30 min)

Formato original: U-Matic

A persistência da discriminação racial não impediu a afirmação da comunidade negra no espaço urbano de São Paulo. Dois cantores, um poeta, uma empresária, uma empregada doméstica, uma mãe de santo, um jovem, todos afro-brasileiros residentes em São Paulo, contam suas origens, trajetórias de vida, sonhos, angústias, e como vêem a situação da população negra 102 anos após a abolição formal da escravatura. Documentário realizado para exibição na TV Gazeta, no dia 13 de maio de 1992. Parceiros: Coordenadoria Especial do Negro (CONE) e Prefeitura Municipal de São Paulo. Apoio da TV dos Trabalhadores.

Produtora: Tapiri Vídeo

Direção de produção: Maria Angelica Lemos Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Luiz Miyasaka Montagem: Valdir Afonso

 

São Paulo Abraça Mandela (1991, 22 min)

Formato original: U-Matic

Documentário sobre a visita de Nelson e Winnie Mandela à cidade de São Paulo, registrando o seu encontro com a comunidade negra e os movimentos sociais atuantes na cidade. O filme mostra a recepção oficial e a importância de suas presenças para o processo de reconhecimento do papel dos afro-brasileiros na formação do país. Parceiros: Coordenadoria

Especial do Negro (CONE), Prefeitura Municipal de São Paulo e Comitê Paulista de Recepção a Mandela.

Produção: TV dos trabalhadores (TVT) Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo

Fotografia: Cláudio Morelli, Nestor Neregato Montagem: Roberto Cardoso

 

Homens de Rua (1991, 32 min)

Formato original: SVHS e U-Matic

O filme se aproxima das vivências de homens e mulheres obrigados a sobreviver nas ruas de São Paulo no início dos anos 1990, época de deterioração das condições de vida dos trabalhadores, alto índice de desemprego e aumento da pobreza urbana. Entre a abordagem do problema como algo estrutural e um olhar sensível para os personagens, o documentário retrata a vida de pessoas que perderam seus trabalhos, distanciaram-se de seus afetos e viram sua identidade desintegrar-se. Parceria com a Secretaria Municipal do Bem Estar Social, da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Produtora: Tapiri vídeo

Direção de produção: Franklin G. Pinto Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo

Fotografia: Luiz Miyasaka e Robson de Azevedo Montagem: Cleiton Capellossi

 

Retrato em Preto e Branco (1992, 15 min)

Formato original U-Matic

O documentário é estruturado como uma vídeo-carta de um homem negro denunciando a persistência do racismo na sociedade e na mídia brasileira, um século depois do fim oficial da escravidão. Apresenta, assim, as contradições entre duas imagens das relações raciais no Brasil: a imagem divulgada no exterior, que difunde o mito da democracia racial, e a imagem interna, apresentada nos livros didáticos e na televisão, nos quais são perpetuados os estereótipos negativos contra a população negra. Com Guilherme Santana. Supervisão do Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT) e parceria com o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC). Exibido no IV Encontro Latino Americano de Vídeo (Peru), na Muestra Latinoamericano de Video Educativo y Cultural (Chile), na Premiète da Muestra Europeenne

de Vídeos Latino-Americaines (França), e no Chicago Latino Film Festival (EUA).

Produção: Paulo Bueno, Bia Ribeiro - Companhia de Vídeo Roteiro: Joel Zito Araújo e Hédio Silva Junior.

Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Luiz Miyasaka Montagem: Paulo Bueno

 

Eu, Mulher Negra (1994, 31 min)

Formato original: U-Matic

Encomendado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) a partir Projeto "Saúde Reprodutiva da Mulher Negra", coordenado por Elza Berquó, o filme faz parte de um compromisso de solidariedade pelo resgate de cidadania da população negra brasileira. São imagens e vozes que carregam a experiência de diferentes mulheres negras, tendo como eixo os problemas e desafios enfrentados para o cuidado com sua saúde reprodutiva. Participações de Ruth de Souza, Malu Mendes, Gueda Liberto, Patrícia Pereira, Ângela Baptista Alves e Lourdes das Graças Chagas. Apoio: Fundação McArthur e Novib.

Produtora: Tapiri vídeo

Direção de produção: Maria Lúcia da Silva Roteiro: Joel Zito Araújo

Direção: Joel Zito Araújo Fotografia: Luiz Miyasaka Montagem: Paulo Weidebach

 

A Exceção e a Regra (1997, 39 min)

Formato original: Betacam.

O filme investiga como as denúncias de racismo são tratadas pela justiça brasileira, relatando a história inédita de persistência e dignidade de um homem negro: Vicente do Espírito Santo tornou-se um caso de exceção por ter sido a primeira vítima de racismo a furar o cerco e chegar vitoriosamente ao Tribunal Superior do Trabalho e ao horário nobre da Rede Globo. Parceria com o Núcleo de Estudos Negros (NEN). Apoio: Fundação Ford, Sinergia SC, Fundação Cultural Palmares, Agentes de Pastoral Negros Quilombo Central, Câmera de Vereadores de Salvador, Centro de Estudo das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Central Única de Trabalhadores (CUT-SP), Geledés, Secretaria de Negros e Negras - PT Nacional, Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente, Sindicato dos Bancários (ES), Sindicato dos Bancários de Florianópolis, Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores da Indústria Energética (MG), Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações (MG). Selecionado para o Festival Nacional de Vídeo “Brasilidade”, organizado pela Cinemateca do MAM-RJ e Goethe- Institut.

Produção: Tapiri vídeo Roteiro: Joel Zito Araújo Direção: Joel Zito Araújo

Fotografia: Luiz Miyasaka e Valdir Tezinho Montagem: Joel Zito Araújo e Renato Tapajós

 

Serviço

O quê: Mostra Joel Zito Araújo - Uma Década em Vídeo (1987-1997)

Quando: De 22 de julho a 01 de agosto de 2021

Onde: www.mostrajoelzitoaraujo.com.br

Abertura: 24/07, às 19h30, com Cida Bento e mediação de Juliano Gomes

 

Conversas mediadas por Juliano Gomes:

 

26/07, às 19h30

I- Das Fábricas às Ruas: Memórias e Atualidade das Lutas Trabalhistas - Com Paulo Galo, Ewerton Belico e Vladimir Seixas

 

28/07, às 19h30

II - Vanguarda das Lutas: Mulheres Negras na Conquista de Direitos - Com Dacia Ibiapina, Débora Olimpio e Fabio Rodrigues Filho

 

30/07, às 19h30

III - Movimentos Negros: Faces de Uma Luta Coletiva - com Bernardo Oliveira, Edileuza Penha Souza e João Carlos Nogueira

 

Masterclass de encerramento: 01/08, às 19h30, com Joel Zito Araújo