Mulheres da Comunidade Dandara protagonizam documentário 'A Luta das Auras'

Mulheres periféricas de BH e as batalhas travadas por elas contra a violência – seja institucional, do estado, social e estrutural ou aquela cometida no plano individual – são protagonistas de 'A Luta das Auras', documentário que estreia neste domingo (20/11) no Cine Santa Tereza, Região Leste. O filme mergulha em jornadas femininas e negras ao acompanhar o trabalho do coletivo Aura da Luta, que reúne e fortalece moradoras da Comunidade Dandara, na Pampulha.

Fundado em 2018, o projeto foi pensado desde a origem como uma maneira de prestar apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade, a partir da ação e disposição de outras mulheres. "O propósito desse coletivo é criar e manter uma rede de cuidado formada por mulheres de luta", explica a fundadora, Luhh Dandara. 

Profissionais com formações diversas atuam junto à população feminina da comunidade em áreas como educação financeira, assessorias, atendimento psicológico e de serviço social. As ações voluntárias conectadas formam "um movimento de defesa, acolhimento, apoio, auxílio e amparo a todas as mulheres que já foram ou que são violentadas de alguma maneira", completa Luuh.

A diretora do documentário, Marina Araújo, começou como professora do cursinho organizado pelo coletivo. "Minha atuação, que a princípio seria apenas como docente, começou a se ampliar quando a Luhh Dandara trouxe para mim algumas demandas do coletivo e comecei a colaborar da maneira que eu pude", ela recorda. 

A experiência com o Aura da Luta se aprofundou para Marina à medida em que ela compreendia e testemunhava o impacto que as ações têm para as mulheres assistidas na Comunidade Dandara e nos bairros vizinhos (Trevo, Xangrilá, Nova Pampulha, Aglomerado Vila Bispo de Maura). Veio a ideia de registrar em um filme a dinâmica destas ações e as histórias pessoais costuradas a elas. O documentário, afirma a diretora, nasce portanto de "uma admiração muito grande pelo trabalho que essas mulheres fazem, cotidianamente, umas com as outras; pela rede de apoio criada por elas; pela força que elas têm juntas". 

Com pouca ou nenhuma alteração das imagens digitais captadas, a câmera de Marina registra as integrantes do movimento – as Auras – durante ações promovidas pelo coletivo. Mulheres negras, mães, periféricas, revelam-se nas rodas de conversa, nos mutirões de construção civil, na distribuição de cestas básicas. Cada momento capturado pelas lentes tece um cenário geral das lutas pessoais, cotidianas, que tornam-se coletivas através da mobilização.

Dandara de luta

Nascida em 2009, a própria Comunidade Dandara é fruto da luta de mulheres e suas famílias que, em demanda pelo cumprimento do direito constitucional à moradia, ocuparam um terreno na divisa dos bairros Trevo, na Pampulha, e Céu Azul, em Venda Nova. A princípio eram cerca de 150 grupos familiares que reivindicavam a aplicação social do espaço, com 315 mil m². Em pouco tempo, a ocupação chegou a mais de mil famílias. Hoje a comunidade reúne pelo menos 4000 habitantes, segundo dados da PBH de 2020.

A trajetória de luta dos moradores remonta aos tempos em que a comunidade era conhecida por Ocupação Dandara. O processo de ocupação, viabilizado pelas Brigadas Populares e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), levou a tentativas de despejo, seguidas de mobilização popular. Embates da população organizada contra a gestão municipal incluíram acampamentos de protesto em frente à sede da Prefeitura e na Praça 7. Atualmente, tanto o Executivo quanto o Legislativo municipais têm postura mais conciliatória em relação à comunidade, que conquistou benefícios e melhorias através do esforço coletivo de suas famílias, mães e mulheres.

Para ver on-line

Além da sessão de estreia no Cine Santa Tereza, o documentário 'A Luta das Auras' ficará disponível por 24 horas no Youtube, no canal oficial da Aura da Luta, entre as 16h30 de 20/11 até 16h30 de 21/11.

Serviço
Lançamento do documentário “A luta das Auras”
Data: Domingo (20/11) às 16h30
Local: Cine Santa Tereza (R. Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza, Belo Horizonte)
Entrada: Gratuita
Classificação: 10 anos