Capital recebe eventos 'Cinema e Narrativas da Diáspora Negra' e 'Mulheres Negras e o Cinema'
Duas mostras de cinema em BH se propõem a analisar narrativas sobre mulheres negras no contexto da imigração forçada e a maneira como elas são retratadas em filmes assinados por diretoras. As programações gratuitas incluem sessões comentadas de filmes, debates, oficinas e masterclasses. O primeiro evento, Cinema e Narrativas da Diáspora Negra, ocorre neste fim de semana (14 a 16/04) no Cine Santa Tereza (R. Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza).
Com curadoria de Tatiana Carvalho Costa e Janaína Oliveira, a mostra no Cine Santa Tereza pretende discutir a poderosa presença do cinema negro no Brasil e em outros países da diáspora negra, nome que se dá ao movimento de imigração forçada imposto sobre pessoas nascidas na África. O evento aprofunda este recorte para uma visão afro-atlântica – sobre as trocas culturais e opressões sociais nascidas a partir do tráfico de humanos, sequestrados no continente africano e levados à força para países da América durante o período colonial.
Esta troca involuntária entre povos dos dois lados do Atlântico deu origem a identificações e demandas específicas das mulheres negras contemporâneas, tanto em nosso continente como nos países africanos envolvidos – e que se refletem na produção cinematográfica selecionada para a mostra. “A ideia é entender o que a pensadora Maria Beatriz Nascimento alcunha como transatlanticidade. Para a partir disso, discutir a produção de imagem e som – matérias primas do cinema – a invenção de presença, afirmação da identidade. Além de uma resistência, que ainda se faz necessária, e a proposição de vida e humanidade negras”, explica a curadora Tatiana Carvalho Costa.
Na sessão de abertura desta sexta-feira (14/04), ‘Ecoando Frequências: Cinemas Negros e Diásporas’, serão exibidos curtas nacionais e estrangeiros que ajudam a discutir a presença do cinema no processo de entendimento da diáspora. As exibições se complementam com a masterclass de Janaína Oliveira no domingo (16/04), um desdobramento de discussões iniciadas pela curadora no Festival Panafricano de Cinema e TV de Ouagadougou, em Burkina Faso, e no Simpósio Frequências: Contemporary Afro-Brazilian Cinema & the Black Diaspora, na Universidade de Iowa (EUA).
“Nos dois eventos, foram discutidas as presenças e elaborações negras com o cinema nas diásporas. Agora em Belo Horizonte, com as sessões comentadas dos filmes e uma masterclass, nos dias 14 e 16, a curadora e pesquisadora apresenta o contexto – amplo e complexo – dos cinemas negros e coloca em relação o que se apresenta contemporaneamente no Brasil e em outros países de herança africana”, detalha Tatiana, que também fará a mediação da masterclass de Janaína.
Já o sábado (15/04) fica reservado na programação para uma retrospectiva da multiartista fluminense Aline Motta, com exibição dos filmes ‘Poupatempo’ (2015), ‘Se o Mar Tivesse Varandas’ (2017), ‘Ponte Sobre Abismos’ (2017), ‘(Outros) Fundamentos’ (2017-2019) e ‘Filha Natural’ (2018). A autora estará presente no cinema com a performance ‘A Água é uma Máquina do Tempo’, além de lançar livro com mesmo título durante o evento. Aline ainda participa, na mesma noite, de conversa com a pesquisadora Cida Moura sobre memória, linguagem e fabulações afro-diaspóricas.
Na semana seguinte, entre 17 e 22 de abril, a mostra Mulheres Negras e o Cinema – Conhecer o Presente e Inventar o Futuro ocupa o Cine Humberto Mauro, no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro), com curtas e longas-metragens assinados por mulheres negras. Sob curadoria de Kariny Martins e Layla Braz, as sessões comentadas pretendem abrir discussões sobre como se dá a representação destas mulheres nas telonas, e de que maneira essas construções de outras existências no cinema se refletem na vida real.
“Uma das questões que Kariny e eu destacamos foi a construção estética como, por exemplo, a forma como câmera se propõe a olhar para estas mulheres e abordar suas diferentes características”, detalha Layla. O evento dialoga diretamente com a mostra anterior, no Cine Santa Tereza, e todas as curadoras mantiveram contato para que as iniciativas funcionassem em diálogo uma com a outra. “Na conjunção das duas mostras, buscamos filmes em que pessoas negras pensam e fabulam formas de existir no mundo”, observa Braz.
A sessão de abertura homenageia a cineasta e etnóloga senegalesa Safi Faye (1943-2023) com exibição de três filmes, incluindo ‘Selbé Et Tant D’autres – 2017 Version’ (‘Selbé E Tantas Outras – Versão 2017’). A diretora foi destaque em sua geração de cineastas do continente africano, com uma obra que tece panorama relevante sobre os modos de vida e a cultura em seu país natal – um processo de reaproximação do que foi negado a este povo pela colonização.
Outro tributo está previsto para a quarta-feira (19/04), com exibição do filme ‘Família Alcântara’ (2005) em homenagem à documentarista, pesquisadora e professora Lilian Solá Santiago. No mesmo dia 19, a mesa redonda ‘Um convite à Reinvenção e Fabulações de Si’ debate estéticas negras no cinema e em outras artes, com presença de Nathalia Grilo, Pabline Santana, Soraya Martins e Tatiana Carvalho Costa sob mediação de Kariny Martins.
Mostra Cinema e Narrativas da Diáspora Negra
De 14 a 16 de abril (sexta-feira a domingo) no Cine Santa Tereza (R. Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza)
Ingressos gratuitos disponíveis antecipadamente no Sympla ou presencialmente, 30 minutos antes de cada sessão (sujeito à lotação)
Mostra Mulheres Negras e o Cinema – conhecer o presente e inventar o futuro
De 17 a 22 de abril no Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro)
Ingressos podem ser retirados presencialmente na bilheteria do cinema, 1 hora antes de cada sessão (sujeito à lotação); as atividades formativas mediante inscrição prévia
Para mais informações e inscrições em atividades das duas mostras, confira o Instagram do projeto Narrativas Negras