Cultura

Musical do Galpão inspirado em Brecht, ‘Cabaré Coragem’ tem nova temporada em BH

Espetáculo reúne artes cênicas, show de variedades e música ao vivo


Créditos da imagem: Mateus Lustosa/Divulgação
Montagem que fez estreia nacional em BH retorna à capital mineira para temporada de quase um mês em cartaz

Redação Sou BH

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23/02/24 às 14:29
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O jogo de contradições e performances proposto pelo Grupo Galpão volta à cena em ‘Cabaré Coragem’, espetáculo que retorna a BH após estreia nacional no ano passado, com temporada entre 28 de fevereiro e 24 de março no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613 – Horto). Com elenco que reúne gigantes do teatro mineiro, a peça acompanha uma trupe de artistas que tenta manter o ofício vivo aos trancos e percalços, entre números de dança e cenas autorais. Em cena, Antonio Edson, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Luiz Rocha, Lydia Del Picchia, Simone Ordones e Teuda Bara.

Espetáculo-show

Música ao vivo também é um dos pilares para a construção do Cabaré fundado pelo Galpão. O espetáculo concebido como reação ao distanciamento imposto pela pandemia acaba servindo, em alguns momentos, como celebração pelo fim do distanciamento. “Queríamos juntar as pessoas, tínhamos saudade. A partir de desejos pessoais, começamos a preparar canções, números de variedades. Reativamos nossa banda e convidamos muitos amigos criadores, que, corajosamente, aceitaram embarcar nessa nau para o desconhecido”, celebra Júlio Maciel, ator do Galpão e diretor do espetáculo.

Longa temporada

Em cartaz na capital mineira até 24 de março, ‘Cabaré Coragem’ tem sessões de quarta-feira a domingo, sempre às 20h. Ingressos a R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada) estão à venda pela internet. Também é possível comprar as entradas diretamente na bilheteria do teatro, que abre uma hora antes de cada sessão. O espetáculo dura 90 minutos e tem classificação 16 anos.

Inspiração socialista

O texto recorre à obra do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), que tem fragmentos citados ao longo do espetáculo. O autor socialista inspira reflexões sobre desigualdades e privilégios, que são ambientadas no universo multifacetado do cabaré. “O espetáculo nasceu de uma série de experimentos cênicos realizados pelo Grupo Galpão nos últimos meses. Eles se deram a partir de pesquisa sobre a linguagem do cabaré – que mistura música, teatro, dança – e a obra poética e musical de Bertolt Brecht, o famoso diretor teatral alemão”, explica Vinicius de Souza, responsável pela supervisão dramatúrgica.

A inserção de Brecht nas bases de ‘Cabaré Coragem’ vem dos primeiros estudos para a concepção do espetáculo. Em busca de inspiração para uma nova peça, os artistas do Galpão se reuniam em torno de textos do teórico, que propunha um teatro de crítica ao sistema e contrário ao autoritarismo. As ideias de virtudes e valores humanos são desmanchadas com lucidez pelo humor rasgante do teatro de inspiração brechtiana, e era esta dissolução que interessava ao grupo de atores quando se juntavam para pensar em algo novo, de impacto, após tanto tempo de recolhimento dos palcos e das aglomerações.

“Líamos Bertolt Brecht à procura de inspiração e para entender o caos político e social que vivíamos, enquanto uma persistente pandemia nos assombrava. Lembro-me de que, num desses encontros, às vezes acalorados, alguém disse a palavra cabaré”, recorda-se Maciel, que assina a direção e integra o elenco junto a Antonio Edson, Eduardo Moreira, Inês Peixoto, Luiz Rocha, Lydia del Picchia, Simone Ordones e Teuda Bara. 

Perguntas e a resposta

“Logo depois, fomos inundados por indagações. Um Cabaré Brecht? Um Cabaré Brasileiro? Um Clássico? Jovem? Contemporâneo?  Político? Feroz? Drag? Vedete? Teatro de Revista? E o teatro? O que diferencia o Cabaré do Teatro? Seria uma peça sobre um Cabaré de Beira de Estrada? Um Inferninho, com tipos excêntricos? Ou um show, uma festa de reencontro com o público?”, resgata Júlio Maciel.

Os questionamentos foram elaborados coletivamente pelo Galpão e o resultado é um cabaré com figuras carismáticas em cena, alegorias do artista popular que segue aos trancos e barrancos em seus números de música, dança, acrobacias e outros divertimentos. “Todos eles misturados à plateia, que também é convidada a beber e a cantar. No entanto, ao modo das personagens de Brecht, as figuras desse cabaré são extremamente carentes, vítimas da guerra e da exploração, esquecidas ou marginalizadas, mas cheias de sonhos e pulsões de vida”, observa Vinicius.