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Série de shows no CCBB comemora João Donato

80 anos de Donato são comemorados com Aline Calixto, Dibigode, Thiago Delegado e Fernanda Takai



Créditos da imagem: Nina Quintana
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Artista completa 80 anos com beleza artística
Redação Sou BH
12/01/15 às 20:49
Atualizado em 01/02/19 às 20:01

Por Camila de Ávila jornalista Sou BH

O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) apresenta até o dia 26 de novembro, uma série de shows em homenagem aos 80 anos de idade do mestre do ritmo João Donato.  Intitulada João Donato 80+, o músico e sua banda convidam Aline Calixto, Dibigode e Donatinho, Marina de La Riva, Thiago Delegado e Fernanda Takai. Os shows são sempre às quartas-feiras a preços populares.

João Donato nasceu no Acre e, desde a infância, brincava de música com flautinhas de bambu e panelas. Nesse período, entre 1940 e 1950, o arcodeon era um instrumento muito popular. “Em um Natal, no Acre, eu e o meu irmão Lysia, três anos mais novo que eu, ganhamos do Papai Noel um acordeon destes de papelão”, conta. A curiosidade de seu irmão fez com que destruísse o instrumento, mas Donato só foi abandonar o acordeon anos mais tarde. “Deixei o instrumento dentro de um carro e acordei com ele arrombado. Então, eu adotei definitivamente o piano, que eu já tocava”, relata.

Em 1945, João Donato mudou-se para o Rio de Janeiro com a família e logo começou a tocar em festas. Conheceu o lendário grupo vocal Namorados da Lua, que tinha como líder Lúcio Alves. A música já estava presente em sua vida, porém as canções tristes desta época, os chamados sambas-canções, que falavam de tristezas amorosas e sofrimentos, não agradavam a juventude. E em 1958 surgiu uma música leve, a bossa nova tinha temas brandos e João Donato estava com o pessoal que criou o gênero. “Dizem os críticos que eu sou precursor da bossa nova, que eu tinha uns acordes desajeitados no acordeon e que isso influenciou uma nova batida. Mas isso não tinha nome, não. Eu, João Gilberto, e outros éramos excluídos porque não tocávamos como se tocava na época. Depois, anos mais tarde, a ideia de uma música mais alegrinha, mais suave, foi pegando. E começaram a colocar letras e um dia alguém chamou isso de bossa nova”, conta.

Para Donato, a bossa nova foi uma forma de dizer não ao jeito tristonho de cantar que era intenso naquele período. “A gente era novinho e queria imprimir na música a cor da vida que passava nos nossos olhos. Rio de Janeiro, céu azul, sol brilhante, moças bonitas passeando pelas praias”, explica. A bossa nova, segundo Donato, veio para ser a música da juventude falando das coisas da mocidade daquele período. “Rapaz, por que cantar ‘ninguém me ama, ninguém me quer’? O nosso negócio era aproveitar os melhores momentos das nossas vidas. Como a gente fazia música, queria expressar esta alegria toda com canções que refletisse essa beleza”, diz.

Famoso não somente pela bossa nova, ou como é conhecida internacionalmente como o Brazilian Jazz, Donato já se aventurou pelo mundo do samba, compondo com nomes como Martinho da Vila e Zeca Pagodinho. “Eu acho que a bossa nova é um samba mais devagar (risos). Tenho vários sambas em parceria com o Martinho: ‘Daquele amor nem me fale’, ‘Suco de Maracujá’, ‘Gaiolas Abertas’. Tenho também ‘Sambou, samblou’, que o Zeca Pagodinho gravou comigo”, destaca.

Segundo Donato, agora que chegou aos 80 anos os entendidos de música dizem que o que ele faz é inclassificável. “Tem pessoas que chamam minha música de escola donatiana. Acredito que a minha música é bossa nova, é samba, é salsa, é jazz (muito jazz), é forró, é baião, mas não é só isso. É tudo isso e mais um tempero que nem eu sei como explicar nem como ensinar”, comenta em meio a risos.

A sua criação rítmica pulsante é observada em músicas como “A Rã”, com letra de Caetano Veloso, e “Bananeira”, com letra de Gilberto Gil. Donato afirma o ritmo pulsante é muito natural. “Isso já vem comigo e nem eu sei explicar. Ritmo é o que não falta nas minhas composições e interpretações de obras de outros autores, acho que essa é a minha marca registrada. A simplicidade é a tônica da minha música”, explica. Essa coisa do ritmo donatiano vem de estudos de harmonias. “Quando eu era mais novo, eu gostava de estudar combinação de notas como certos acordes, o que veio a se chamar harmonia, então essa harmonia é o meu estudo”, conta.

Donato diz que ritmo é algo que não se aprende, é uma coisa que nasce com cada um. “Ritmo é uma coisa que acontece com as crianças objetivamente sem ninguém mandar elas fazerem nada. Então ritmo é uma coisa que já vem com a vida da gente.  E a melodia é  a última que aparece, que só vem enfeitar”, conta.

João Donato já compôs com nomes como Paulo César Pinheiro, Cazuza, Joyce Moreno, Arnaldo Antunes, Gil, Caetano, Abel Silva, João Bosco, Aldir Blanc, Tom Jobim, Paulo e Marco Valle, Eumir Deodato, João Gilberto, Ronaldo Bastos, dentre outros grandes nomes da música brasileira popular. Ele diz sentir-se realizado com o que fez até hoje. “Nunca me desviei da música em que acredito, porque creio que ela tem uma função, que é a de tocar em um lugar tão delicado do coração das pessoas, que chega a ser sagrada. Música é como um remédio. Ela pode ser curativa. Mas também preventiva” conta.

O artista deixa uma lição para jovens músicos, artistas, enfim, pessoas. “Para mim, as coisas não têm um dono certo, elas estão no ar. As ideias, as melodias, os sons, os poemas, as músicas psicografadas, os poemas, os livros. Existe tanta coisa no mundo e eu acredito em todas elas: passei a assumir as músicas que vêm no meu pensamento, no meu coração. A criação está feita, é tudo dentro desse sistema. É só esperar pelo melhor, coletar e transmitir”, aconselha.