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Três tragédias gregas no CCBB

Trágica.3 traz a BH Denise Del Vecchio, Letícia Sabatella e Miwa Yanagizawa em outubro



Créditos da imagem:
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Peça encenada no CCBB conta a história de Antígona, Medeia e Electra
Redação Sou BH
12/01/15 às 20:34
Atualizado em 01/02/19 às 20:00

Por Camila de Ávila, jornalista do Sou BH

Três personagens, três tragédias, três atrizes. “Trágica.3” chega ao teatro do Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários), em BH, no dia 3 de outubro. Em cena, estão Denise Del Vecchio, Letícia Sabatella e Miwa Yanagizawa que interpretam Medeia, Antígona e Electra respectivamente. Os personagens não se encontram em cena, mas deixam no palco uma carga de emoção e encantamento que mexe com cada indivíduo.

A ideia de falar dessas três mulheres da Literatura Clássica partiu do diretor e ator Guilherme Leme que concebeu as três personagens. Em 1990, Guilherme, ao lado de Vera Holtz, encenou a peça “Medeamaterial” com texto do dramaturgo alemão Heiner Müller (1929-1995). O escrito de Müller é muito pequeno e dá origem a uma interpretação de três minutos. Sendo assim, o diretor achou que seria interessante juntar três mulheres importantes da tragédia grega. “É um poema, com três textos independentes no qual cada uma faz sua cena”, explica a atriz Denise Del Vecchio, intérprete de Medeia.

Cada uma das três mulheres possui uma forma de atuação. A Antígona de Letícia Sabatella canta durante todo o solilóquio (tipo de cena em que somente um personagem é interpretado). Electra de Miwa Yanagizawa trabalha as artes plásticas, e a Medeia de Del Vecchio tem em sua cena a exibição de um curta-metragem produzido por Guilherme.

Três mulheres fortes e decididas, Antígona é a mulher que enterra o irmão com as próprias mãos e Electra planeja a morte da mãe. Mas, a única dessas três que, de fato, age, é a personagem de Denise Del Vecchio. Medeia, a mulher que comete o filicídio (mata seus próprios filhos), é defendida por sua intérprete e reconhecida como heroína. “Medeia é uma mulher que possui o lado yang muito forte. Antígona tenta e não consegue, Electra só planeja, mas Medeia faz. Ela mata os filhos”, analisa.

Medeia é uma personagem já conhecida dos brasileiros por meio da adaptação para a TV de Oduvaldo Vianna Filho, e para o teatro, feita por Paulo Pontes e Chico Buarque, lançada em 1975, juntamente com o livro homônimo. Na versão nacional, a tragédia acontece na favela do Rio de Janeiro e a protagonista, que teve o nome alterado de Medeia para Joana, foi interpretada por Bibi Ferreira. Denise afirma essa popularidade de Medeia. “Medeia tem uma força muito grande. Ela impacta, encanta e é um dos personagens mais fortes da tragédia grega. É uma heroína total e a única que não é punida. Nas pesquisas que fiz para a peça vi adaptações de Medeia desde a Roma antiga”, conta.

A atualidade de Medeia é algo que assusta Denise. O mito mata os próprios filhos para vingar-se de seu marido. Ao mesmo tempo, a atriz se sente encantada pela sensibilidade de Medeia e instinto de proteção da personagem. “Atualmente nós estamos destruindo nossa descendência. Assistimos isso na guerra entre palestinos e israelenses. Eles colocam as crianças na linha de fogo e o inimigo solta a bomba. Porém, Medeia diz que deseja que seus filhos voltem para suas entranhas, pois não quer que eles se transformem no que ela se tornou. Ela se preocupa com eles”, constata.

Denise afirma que a peça é muito densa e possui um texto pesado e reflexivo, e que, na estreia em São Paulo, esse peso do texto afligia as atrizes e a direção. “Quando estreou tínhamos medo, pois são três tragédias muito tristes e pesadas”, conta. Outra questão é o aprofundamento que o texto implica ao espectador, para Denise o jovem atualmente precisa desse aprofundamento. “O espetáculo chega num outro patamar de entendimento devido a este aprofundamento do texto. O público se encanta”, explica.

Do público de BH, Denise espera encantamento com o texto devido ao nível cultural da cidade. “Belo Horizonte é um polo cultural do Brasil. O que diferencia do eixo Rio-São Paulo é o fato de que aí não há as TVs. Vocês têm a dança que é muito forte e o teatro, como Grupo Galpão, que apresentou um novo jeito de atuar, além da música que é tão rica. BH consegue ser brasileira sem ser regionalista. Espero que o público daí se encante com a peça”, deseja a atriz.

A  peça estará em cartaz entre os dias 3 e 26 de outubro, sextas, sábados e domingos, sempre às 20h, no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil, CCBB ((Praça da Liberdade, 450 – Funcionários).