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Trio de mineiros do Dada Hotel lançam clipe de “Ninguém”

Com atuação da dançarina e performer Sara Marchezini, vídeo ilustra a segunda música de trabalho da banda, que passeia entre o rock alternativo e o pop oitentista



Créditos da imagem: Alexandre Mota
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Para Fabio Walter, alter ego do músico mineiro Fábio Corrêa, a música traduz bem o projeto sonoro e estético do Dada Hotel
Redação Sou BH
11/08/21 às 10:37
Atualizado em 11/08/21 às 10:37

“Uma espécie de balada decadente, com um toque de psicodelia”. Assim o vocalista e guitarrista Fabio Walter, bandleader do Dada Hotel, define “Ninguém”, segundo single da banda mineira. A faixa chega às plataformas digitais nesta quarta-feira (11), mesma data em que vai ao ar o videoclipe que a acompanha, que conta com atuação da dançarina e performer Sara Marchezini. Cartão de visita da proposta sonora do grupo, que passeia entre o rock alternativo e o pop de inspirações oitentistas, “Ninguém” sucede “In Sane Days”, single de estreia lançado em abril, e abre caminhos para o primeiro disco, “Dilúvio/Deserto”, previsto para setembro.


Para Fabio Walter, alter ego do músico mineiro Fábio Corrêa, a música traduz bem o projeto sonoro e estético do Dada Hotel. “A faixa é uma síntese do álbum, tanto no tema quanto na sonoridade. Tem uma atmosfera onírica, que vai principalmente do sintetizador, que é fio-condutor. Remete aos anos 80, mas sem ser clichê, pois não chega a ser um synth pop. Virou uma tentativa frustrada de misturar Waldick Soriano com, sei lá, Bryan Ferry e Roxy Music”, afirma. “A letra tenta evocar um cenário, uma pequena história. Fala da vontade de se esquecer, de perder sua própria essência e, assim, ao mesmo tempo, se encontrar. Tem uma brincadeira com o outro, também. Quando estamos na pista de dança, tentando não ser vistos, mas estamos vendo tudo. Principalmente, nós mesmos”, completa.

Fabio conta que a música foi a primeira a ser gravada pelo Dada Hotel, que é formado também por Marcus Soares (baixo) e Victor Piva Schiavon (bateria). “Na minha cabeça, ela ressoa em um centro da cidade vazio, uma boate com balcão de madeira, luzes de neon, aquela música que o dono do lugar toca para o pessoal ir embora, mesmo que tenha só um ou dois gatos pingados no lugar. Ou mesmo um rádio FM à pilha, tocando sozinho em algum lugar. Tem essa vontade de ser uma canção ao mesmo tempo radiofônica e estranha”, reflete o músico. “Gravamos no longínquo mês de março de 2020, no mesmo dia que a OMS decretou a pandemia. As baterias e o baixo foram gravados no Minotauro Estúdio, em BH, e captados pelo Daniel Saavedra. Depois, os outros instrumentos e vozes foram gravadas em home studio e no Estúdio Galvani, pelo Fabrício Galvani, que mixou e masterizou o disco”.

De acordo com o músico, os dois primeiros singles de “Dilúvio/Deserto”, cujo lançamento acontece em setembro, discorrem sobre temas similares. “As duas músicas falam basicamente sobre libertar demônios, solidão, comunhões impossíveis e embates com o outro. Sempre na dualidade, que o próprio nome do disco, ‘Dilúvio/Deserto’, remete”, sublinha. “Mas, enquanto ’In Sane Days’ é mais irônica e apocalíptica, ‘Ninguém’ é mais reflexiva, gira numa rotação mais baixa. São duas músicas compostas antes da pandemia, mas que dizem muito sobre o que a gente está vivendo hoje”.


Videoclipe

Assim como “In Sane Days”, a faixa “Ninguém” também ganhou uma versão em vídeo. Diferente, porém, do single de estreia, cujo clipe foi inteiramente concebido e realizado por Fabio, desta vez o grupo contou com parcerias. “O clipe é estrelado pela bailarina contemporânea e performer Sara Marchezini, que é a protagonista. Ele foi filmado e dirigido pelo Otávio Rangel e filmado no bairro Colégio Batista, no prédio do baterista Victor Piva Schiavon, onde há uma vista incrível para o centro de BH”, conta. “A iluminação foi da Cia Tecno, do Richard Zaira, e eu fiquei com a edição e com a finalização, que são basicamente efeitos analógicos de vídeo, uma espécie de microfonia visual que permeia o clipe”, completa.

O clipe segue a estética de seu antecessor, com uma identidade visual que une o analógico ao digital. A narrativa traz Sara Marchezini como protagonista, intercalada por imagens da banda e do centro de BH. “A história é sobre uma mulher que entra em um prédio vazio, como se estivesse entrando em outro plano, ou de sonho ou de pós-morte, e, com isso, começa a dançar. Mas de uma forma completamente diferente das danças ‘comuns’. Afinal, ela está fora da nossa realidade imediata. Ela vai subindo e entrando no edifício, indo ao encontro da banda, que não dá para saber se esteve sempre ali ou não”, diz Fabio. “A coreografia da Sara dá um toque especial, justamente porque, ao compor a música, eu estava pensando numa dança estranha e anacrônica, mas única, como aquele momento da personagem”, completa.

Para o músico, a palavra “Ninguém” também é rica em sentido, já que “denota uma ausência de individualidade, mas tem também a força de algo pronto para ser preenchido”. “É como um recomeço, talvez, mas de forma bruta e silenciosa. O imponderável de se transformar em 'alguém', que não sabemos nem controlamos o que ou quem é”, filosofa. “A nossa distopia atual causa feridas tão profundas que vamos ter eventualmente em nos transformar em outra coisa para lidar tanto com o passado quanto com o futuro”.

“Dílúvio/Deserto”

“Ninguém” é o último single do Dada Hotel antes do lançamento do disco de estreia, “Dilúvio/Deserto”, que sai em setembro. “Talvez a gente lance mais um clipe, da faixa-título. A ver”, diz Fabio Walter, em suspense. “’Dilúvio/Deserto’ uma música instrumental que eu compus em casa, numa tarde em que choveu muito em Belo Horizonte, que é uma cidade que tem só duas estações, dilúvio e deserto. De cinco a sete meses sem chuva nenhuma, tempo seco, sol, rinite; e os outros meses de muita chuva. Comecei a pensar nisso como um conceito, como uma forma de expressão da própria cidade. Quase como se fosse o yin-yang dos belo-horizontinos. E dá para ir além, já que todo mundo passa por momentos de dilúvio e deserto na vida”, reflete. “Acho que o mesmo acontece com o disco. As músicas também seguem esse fluxo. De muito e pouco. De certa forma, tudo vai passar e vai ficar”.

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