Economia, Variedades

Homens são as principais vítimas de golpes financeiros, aponta pesquisa

Criptomoedas foram o produto de investimento mais citado pelas vítimas, sendo mencionadas por 43,3% dos consultados


Créditos da imagem: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Os valores perdidos oscilaram de R$ 100 a mais de R$ 100 mil. A maior parte das vítimas investiu entre R$ 10.001 e R$ 50 mil (22,5%) e entre R$ 1.001 e R$ 5.001 mil (21,3%)

Agência Brasil

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22/07/21 às 10:41
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Sondagem feita pelo Centro de Estudos
Comportamentais e Pesquisas (Cecop), da Comissão de Valores Mobiliários (CVM),
revela que, de maneira geral, os homens são as principais vítimas de golpes
financeiros (91%), estão em sua maioria na faixa etária de 30 a 39 anos de
idade (36,5%), têm ensino superior completo com pós-graduação (38%) e possuem
renda familiar mensal entre dois e cinco salários-mínimos (23%).

 

Ao todo, foram analisadas 1.002 respostas
e detectadas 178 vítimas de golpes financeiros. Criptomoedas foram o produto de
investimento mais citado pelas vítimas, sendo mencionadas por 43,3% dos
consultados. Seguem-se mercado Forex, para transações de câmbio (29,8%); opções
binárias (16,9%); e ações (15,2%). O principal meio de divulgação para atrair
as vítimas foi o Whatsapp (27,5%), seguido pela divulgação boca a boca pessoalmente
(19,7%), e-mail e ligação telefônica (12,4% cada), mostrou a sondagem da CVM.

 

Segundo explica superintendente de
Proteção e Orientação aos Investidores (SOI) da CVM, José Alexandre Vasco,
embora a participação das mulheres no mercado de capitais tenha crescido, o
maior número de investidores ainda é do sexo masculino. “De modo que era
natural mesmo esperar ter um número maior, uma predominância de homens” entre
as vítimas de golpes financeiros, disse Vasco. Outro fator que pode justificar
esse cenário é o apetite por investimentos alternativos, de maior risco, por
parte dos homens, enquanto as mulheres demonstram maior desconfiança de seu
conhecimento em termos financeiros e, por isso, evitam grandes riscos.

 

Os valores perdidos oscilaram de R$ 100 a
mais de R$ 100 mil. A maior parte das vítimas investiu entre R$ 10.001 e R$ 50
mil (22,5%) e entre R$ 1.001 e R$ 5.001 mil (21,3%). 
A pesquisa foi feita com base em reclamações de investidores enviadas à autarquia, vinculada ao Ministério da Economia, entre 2017 e 2019. Essas reclamações, entretanto, não envolviam apenas fraudes financeiras, mas situações diversas.

 

Alta confiança

De acordo com a pesquisa da CVM, muitas
das vítimas de fraudes têm alta confiança em sua capacidade de investir.
“Talvez esse excesso de confiança seja uma característica de confiança mais dos
investidores masculinos do que das investidoras. Essa dúvida talvez tenha
salvado muitas pessoas de caírem em uma coisa alternativa ou estranha”, disse o
superintendente.

 

Ele esclareceu que nem todas as ofertas
sem registro na CVM são fraudes financeiras. Às vezes, é uma oferta irregular,
mas não é uma fraude. “Mas, nos casos de golpes ou fraudes financeiras, eles
usam sempre os temas do momento. Lá atrás era boi gordo, avestruz, contratos de
risco coletivo”. Com o tempo, os golpes foram mudando e os fraudadores buscaram
novos temas. Agora, são as criptomoedas. “Por serem uma coisa inovadora, elas
têm predominado nos golpes. Daqui a cinco anos, se a gente fizer uma nova
pesquisa, será outra coisa. Porque a prática não muda; o que muda são os
embustes”, afirmou.

 

O superintendente ressaltou, ainda, a
parte comportamental da pesquisa que captou diferenças de atitudes dos
investidores. Aqueles que foram vítimas de golpes financeiros achavam que era
bom investir em algo não regulado porque tinha retorno financeiro maior.

 

Entre as vítimas, houve mais concordância
com a afirmação de que é mais difícil obter um bom patrimônio apenas
trabalhando. Da mesma forma, consideravam que não eram suficientemente
recompensadas pelo seu trabalho do que os investidores não vítimas.

 

“Estão buscando um retorno maior para
compensar aquilo que eles não são recompensados no trabalho”. Essas pessoas
estão mais atentas a oportunidades de investimentos que ninguém conhece,
completou. Essa é a média, afirmou.

 

Perfis

Foram notados no levantamento da CVM
alguns perfis de vítimas. O primeiro engloba aqueles que pagam para ver, estão
dispostos a entrar em mercados não regulados, investem em pequeno valor para
testar. À medida em que a vítima vai adquirindo confiança, ela vai aumentando a
aposta.

 

“Essas, geralmente, são as pessoas que
perdem mais porque, quando a pirâmide desmorona, o capital investido foi bem
maior”. Outras vítimas são movidas pela confiança e acabam enganadas. Acreditam
em um site bem organizado e tiveram indicação de um amigo de um círculo de
relacionamento, que diz que aquilo está dando certo. “Em geral, esse esquema
tem uma rentabilidade mais modesta de 2% a 3% ao mês, o que é muito dinheiro”,
afirmou.

 

Um terceiro grupo abrange os entusiastas
do mercado financeiro, com perfil aberto a novas oportunidades. “Eles acham que
entendem e confiam. Estudam a opção e investem. Esses, em geral, optam por não
denunciar. Ficam mais envergonhados, é o que a gente estimou. Reclamam com quem
lhes apresentou a novidade. Eu conheço casos de pessoas que pagaram às vítimas.
Indenizaram o que o fraudador verdadeiro levou”, declarou o superintendente.

 

Na avaliação de José Alexandre, as
pessoas, na verdade, têm a crença de que a falta de regulação da CVM representa
uma maior oportunidade de ganho e, muitas vezes, não identificam o elemento que
sinaliza que aquele investimento era fraudulento. A maioria das vítimas já
fazia algum investimento, tinha familiaridade com os conceitos financeiros e se
considerava, de alguma forma, conhecedora do mercado. “As vítimas talvez
caíssem nos golpes por necessidade financeira e não eram completamente novatas
em termos de investir no mercado”, contou.

 

Entre os aspectos que contribuíram para
que as pessoas caíssem no golpe, as respostas mais frequentes foram aparência
do site transmitindo confiança (39,9%), outros familiares ou amigos já haviam
feito o investimento (38,8%), bom atendimento por parte dos profissionais
(35,4%), pequeno investimento exigido (30,9%) e desconhecimento da modalidade
do golpe (24,7%).

 

Não vítimas

Entre as não vítimas, foi percebida maior
complexidade. O portfólio tem mais ativos, é mais refinado e diversificado de
investimentos que as vítimas de fraude. Quem não caiu em golpes investe mais em
ações, fundos de investimento, FII (fundos de investimento imobiliário),
previdência privada, CDB (certificados de depósito bancário), LCI/LCA (Letra de
Crédito Imobiliário e Letra de Crédito do Agronegócio).

 

José Alexandre reforçou que nem todas as
oportunidades de investimento são reguladas. No caso das não reguladas, ele
acha importante ter uma atitude bastante criteriosa na análise, buscando
informações e, inclusive, reclamações, pesquisando a empresa para saber o
índice de respostas que ela tem e se as pessoas estão satisfeitas. “Há
plataformas sérias ofertando moedas digitais, mas há outros casos em que isso
não acontece”, revelou.

 

Para investimentos no mercado de capitais,
o principal é olhar se o ofertante tem registro na CVM ou é regulado pelo Banco
Central. “Quem está fazendo um investimento quer uma proteção maior que tenha
uma regulação que possa reclamar à CVM, deve consultar o nosso cadastro,
verificar e, se não tiver registro, deve reclamar, buscar o nosso serviço de
atendimento ao cidadão”. No canal de deliberações da comissão estão registradas
as ofertas irregulares.

 

“De forma geral, devem desconfiar dessas
promessas elevadas de rentabilidade, desconfiar especialmente da pressão para
investir tipo é agora ou nunca”. Nesse caso, a pessoa está sendo empurrada para
tomar uma decisão impulsiva, sem direito de arrependimento.

 

“Isso é um reconhecimento de que a pessoa
pode tomar uma decisão irrefletida. Então, pressão para decidir naquele momento
é uma bandeira vermelha”, opinou. O superintendente sustentou que não há
rentabilidades mirabolantes. Ele alertou, ainda, para oportunidades muito
inovadoras nas quais a pessoa não consegue entender no que está investindo e de
onde vem a rentabilidade. “Pode não ser uma fraude mas, certamente, não é um
produto para você”, concluiu.