Economia

Plantação de lúpulo na RMBH impacta cervejarias artesanais e agita mercado

Mundo Hop investe na adaptação do insumo em fazenda de Mateus Leme, a 51 km da capital


Créditos da imagem: Rafaela Nassam/Divulgação
Ingrediente essencial da cerveja não costuma ser cultivado no Brasil: país importa 99% do que consome

Redação Sou BH

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22/08/23 às 15:06
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Terceiro maior produtor de cerveja do mundo, o Brasil ainda importa 99% do lúpulo usado internamente. Ingrediente essencial na produção da bebida, a planta costuma ser trazida de países do Hemisfério Norte, em especial da Alemanha e dos EUA, mas uma iniciativa mineira começa a mudar este cenário: a fazenda da Mundo Hop em Mateus Leme, Região Metropolitana de BH, tem capacidade para produzir até 15 toneladas de lúpulo por ano. Em fevereiro, a empresa fez sua primeira colheita comercial, de 3 toneladas, que já começa a ser utilizada na produção por cervejarias como Capapreta, Caraça, Krug Bier, Viela, São Sebastião, Tarin e Verace.

Graças às técnicas comandadas pelos belo-horizontinos Gabriel Purri e Thiago Fenelon, cofundadores do projeto, a adaptação do lúpulo ao clima local rende três safras anuais, ao contrário de uma safra única como ocorre nos países frios. “Isso significa que o lúpulo da Mundo Hop é sempre mais fresco, dando mais qualidade à cerveja e ainda oferecendo novas possibilidades aos fabricantes da bebida”, enfatiza Purri. 

Atualmente, a empresa consegue fornecer o insumo nas variedades Comet, Cascade, Chinook, Saaz, Triumph, Triple Pearl e Zeus. Até o fim do ano que vem, os sócios esperam expandir a marca nacionalmente e aumentar a plantação de 3 para 10 hectares. “Sinto que esse é só o começo da jornada da Mundo Hop. Nosso objetivo sempre foi cultivar lúpulo nacional de qualidade, com sabor e frescor que impulsionam a indústria cervejeira local, e reduzir a nossa dependência de importações”, observa Fenelon.

Rafaela Nassam/DivulgaçãoGabriel Purri e Thiago Fenelon: cofundadores da Mundo Hop esperam ampliar plantação de 3 para 10 hectares até 2024

A alta produtividade da fazenda agiliza toda uma cadeia produtiva cervejeira e pode abrir novas oportunidades no mercado local, onde marcas artesanais conquistam cada vez mais destaque. “Há um, dois anos, era impensável termos lúpulo de qualidade produzido em solo brasileiro em larga escala. Eles conseguiram, de fato, romper essa barreira e estão trazendo para o mercado cervejeiro nacional uma transformação que há muito tempo a gente não via”, comenta Lucas Godinho, sócio-fundador da Capapreta. A marca pretende substituir 95% do lúpulo importado pelo produto da Mundo Hop até o fim deste ano, mantendo importações somente das variedades que não são produzidas por aqui.

Forasteiro adaptado

Nativo do Norte da Europa e do Oriente Médio, o lúpulo nunca foi amplamente cultivado no Brasil porque se adapta melhor em países frios. Para adequar a trepadeira ao clima e solo brasileiros, foi preciso estudar os microrganismos que poderiam atacá-la, além das maneiras de combatê-los. A Mundo Hop investiu também na construção de um sistema de irrigação com tecnologia avançada, em uma estrutura com LEDs para regular a luz sobre a plantação e na elaboração de uma secadora para os insumos, além de importar uma colheitadeira da Alemanha. 

Outro ponto crucial na cadeia produtiva, uma máquina para compactar as flores trituradas foi desenvolvida sob orientação da empresa, sendo hoje o maior equipamento do tipo existente no Brasil. Fundada em 2019, a Mundo Hop investiu cerca de R$ 3 milhões nas fases de pesquisa, infraestrutura, testes e plantação. No ano passado, o empreendimento ganhou dois novos sócios, Rodrigo e Leandro de Barros, antes de iniciar as operações como fornecedor de lúpulo para cervejarias da capital mineira.