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Filme com protagonistas mineiros conquista o mundo

Daniel Satti conversou com o Sou BH sobre o curta Entreolhares e falou sobre expectativas e sucesso



Créditos da imagem: Divulgação/ Acervo pessoal
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Júnior de Castro
07/07/20 às 20:00
Atualizado em 07/07/20 às 20:00

“Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio. Não é o bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma. Com filosofia não há árvores: há ideias apenas. Há só cada um de nós, como uma cave. Há só uma janela fechada, e o mundo lá fora; E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, Que nunca é o que se vê quando se abre a janela”. Sob a reflexão de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa, um dos poetas mais complexos da literatura portuguesa mergulhamos no filme Entreolhares. Dirigido por Ivann Willig e protagonizada por Marina Azze e Daniel Satti, o curta-metragem já conquistou 12 prêmios, entre eles o de melhor ator no “The Scene Festival”, nos Estados Unidos.

E quem conversou com o Sou BH foi justamente o vencedor do The Scene, Daniel Satti. Mas, antes de chegarmos às premiações, vale a pena passear por essa bela história e descobrir como ator e filme se encontraram. Segundo Satti, uma grande amiga, a atriz Tuna Dwek, foi a grande responsável pelo fato. “A Tuna já havia trabalhado com Ivann (diretor) e sido convidada para o filme. Aí, em determinado momento, houve algum problema com o ator escalado e Tuna, imediatamente, em um dos encontros que tivemos, me disse: ‘Tem um filme, de um diretor premiado do Rio de Janeiro, e é você, é a sua cara!’ Em seguida, ela me indicou ao diretor, ele disse que gostou muito de mim e poucos dias depois me retornaram dizendo que o papel seria meu”, conta.

Com o roteiro em mãos e completamente apaixonado pelo enredo, Satti destaca pontos que transformaram o curta em uma obra tão sensível e aplaudida. “Acho que o ponto forte é o próprio roteiro, que foi escrito lindamente pelo Ivann Willig. Mas, parafraseando o título do filme, Entreolhares, são vários olhares: de quem perdeu a visão, de quem nasceu sem a visão. Enfim, há um recorte muito interessante e que chama atenção para a questão do transplante (de córneas), e não posso falar mais para não dar spoiler”, brinca o ator.

Apesar de não podermos saber, por enquanto, mais detalhes sobre o filme, algumas curiosidades de bastidores foram reveladas. Entre elas, o fato de os protagonistas, Marina e Daniel, terem se encontrado pela primeira vez apenas no set de filmagem. “A proposta, que partiu do Ivann, de uma ideia dele e de Marina, foi que ela e eu nos encontrássemos no dia da primeira gravação e em uma cena de sexo. Era algo inédito para nós três. Aí, me tremi todo, mas fiquei louco com esse desafio, porque sou um ator e essa profissão só acontece assim: fechando os olhos, chegando à beira do abismo e se jogando”, ilustra.

Toda a sensibilidade e aposta dos envolvidos não poderiam resultar em algo diferente. Durante essa entrevista, em 06 de junho de 2020, Entreolhares ganhava seu 12° prêmio, no Festival Internacional de Cinema da Índia. Contudo, entre as premiações, Daniel ganhou destaque nos Estados Unidos. “Em relação ao prêmio, estou vivendo um momento mágico. É o primeiro prêmio internacional que ganho e de uma importância muito relevante. São os melhores do cinema no mundo. Para mim, em 20 anos de carreira, ele veio para me dar um motivo para explicar minha história. É uma valorização das pessoas que passaram pela minha vida e acreditaram em mim”, enfatiza Satti.

Se para o cinema nacional Entreolhares já é sinônimo de orgulho, imagine para os mineiros, que tem os dois protagonistas vindos de sua terra. “Eu sou um mineiro de coração. Nasci em São Paulo, mas morei lá apenas até os cinco anos. Depois disso, minha família foi para o Japão, onde moramos um ano. Quando voltamos ao Brasil fomos para BH, eu tinha uns seis anos, e fiquei até os 30. Então, fui criado em Belo Horizonte, com a cultura do mineiro, meus pais são mineiros. Por isso, minha relação com Minas, que é amor puro e muito orgulho. E coincidentemente, foi uma alegria comemorar com Marina, que é de Varginha, os dois mineiros, o protagonismo do filme”, explica Daniel.

A película, que segue há um mês em exibição por festivais nacionais e internacionais, ainda não tem data de estreia para o grande público, mas de acordo com Satti, vale a pena esperar um pouco mais. “Vamos todos aguentar o coração e, enquanto esperamos, vamos apreciar as críticas, os prêmios e aguçando a curiosidade para quando todos possam ver”, finaliza.  


Confira o trailer: