Camila Pitanga, junto à Cia. Brasileira de Teatro, apresenta peça inspirada em obra de Anton Tchekhov até 18 de novembro no CCBB
“Pensais
honestamente, e por isso odiais o mundo todo. Detestais os crentes porque a fé
é um indicador de estupidez e de ignorância; e detestais os descrentes porque
não têm fé nem ideal. Odiais os velhos pelas suas mentalidades ultrapassadas, e
os novos pelo seu liberalismo”. A frase do escritor e dramaturgo Anton Tchekhov
elucida, desde o século XIX, problemas e reflexões permanentemente discutidas
até os dias de hoje. Nesse mesmo ensejo, Camila Pitanga, junto à Companhia
Brasileira de Teatro, apresenta Por que não vivemos?, espetáculo baseado na
obra Platonov.
O
Sou BH esteve no Teatro do Centro Cultural Banco do Brasil e, além de conferir
a peça, batemos um papo com Camila, que falou sobre o espetáculo e também narrou
fatos importantes sobre sua história. Nascida em meio à arte, Pitanga é filha
dos atores Antônio Pitanga e Vera Manhães e, apesar de ter tido uma infância
com muito ‘pé no chão’, iniciou sua carreira ainda na adolescência. “Com 12
anos comecei a fazer Tablado, que é uma escola de Teatro do Rio de Janeiro, sem
nenhuma pretensão de ser atriz. Era mais como um exercício de criança, para
poder me expressar. Já aos 15 anos comecei, de verdade, a fazer Teatro”, conta.
Graduada
em Artes Cênicas pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Camila relembra
quando tomou a decisão de que os palcos seriam seu trabalho. “Eu já era
conhecida, mas só quando fiz vestibular decidi fortalecer aquilo que o destino havia
trazido para mim: o Teatro. Aí fiquei oito anos na UNIRIO, comecei como aluna
de Interpretação e, depois, passei para Teoria Teatral”, explica.
Na
TV, a estreia como atriz foi na minissérie Sex
Appeal de Antônio Calmon, em 1993. “Eu era muito jovem. Mas era um trabalho
que tinha como característica o protagonismo de atores inexperientes. Então,
como era uma turma nova chegando à tela e eu não era a única, havia um
pertencimento. Foi uma estreia muito tranquila”, comenta Camila, que também
ressalta a responsabilidade de ter ficado famosa muito cedo. “Eu precisei – de
alguma maneira – me descolar dessa imagem mais pública e me ater a um processo
de pesquisa, de estudar, de fazer trabalho de voz e corpo, de fazer vários
cursos, de entender cada escolha e, até mesmo, negar trabalhos para que eu
pudesse concluir minha faculdade. As escolhas foram consolidando um
aprofundamento na carreira de atriz, para que eu não fosse apenas um rosto ou
uma imagem, mas, sim, uma pessoa que tivesse uma reflexão artística”, detalha.
Outra
vertente explorada com bastante êxito por Camila é o papel de apresentadora. No
currículo, ela já esteve à frente dos programas Som Brasil e Superbonita, o
segundo com nova temporada programada para 2020. “Tenho um lado apresentadora
que gosto muito, quando é algo que faz sentido. No caso do Som Brasil, havia
uma questão totalmente ligada à qualidade musical. Um diálogo entre o passado e
o presente da música brasileira, sempre reverenciando alguém importante, mas inovando
com releituras. E, agora, com o Superbonita falando sobre comportamento, sobre
mulher. Ao invés de ficar apenas numa questão de mera estética é uma conversa de
mulher para mulher”, comenta com carinho.
Agora,
em cartaz no CCBBBH, Pitanga contou como foi sua entrada na Cia. Brasileira de
Teatro. “Eu já acompanhava a CIA há um tempo. Comecei assistindo ‘Essa
Criança’, ‘Projeto Brasil’, ‘Preto’. Aí, sem nenhum pudor, falei pro Marcio –
diretor da companhia – que estava muito interessada em participar, fosse de uma
leitura, de um processo de pesquisa, como ouvinte. Deixei bem claro que queria
trabalhar com eles”, aos risos. Pouco tempo mais tarde, o convite. “A vida foi
generosa comigo. Eu fui convidada, tive duas conversas e nada aconteceu à toa.
Fazia muito sentido trabalharmos juntos, a gente comunga das mesmas ideias e
desejos muito próximos ou complementares”, conclui sobre a entrada no grupo.
Em
cartaz até dia 18 de novembro com Por que não vivemos?, peça que trata de temas
recorrentes como o conflito entre gerações, as transformações sociais através
de mudanças internas, questões do homem comum, gerações futuras e múltiplas
linhas narrativas, Camila explica porque escolheu falar disso no atual momento
do Brasil. “Esse espetáculo dialoga demais com o que estamos vivendo. Eu acho
que a provocação: por que não vivemos?, evoca uma tomada de decisão ativa, que
é necessária para que a gente possa se renovar, para que possa ter coragem de
dizer o que pensa, de viver o que deseja”, finaliza.