Fã da saga Harry Potter, a cantora relembrou fatos importantes e contou curiosidades pouco conhecidas de sua história
“A
música pode ser o exemplo único do que poderia ter sido – se não tivesse havido
a invenção da linguagem, a formação das palavras, a análise das ideias – a
comunicação das almas”. A frase do escritor francês Marcel Proust diz, mesmo
que subjetivamente, muito a respeito do poder transformador da música. Esse
mesmo poder, foi fundamental na formação de Zizi Possi. A cantora, que chega a
Belo Horizonte nesta sexta-feira (27), com o show
‘Italianíssima’, contou um pouco dessa história em entrevista
exclusiva ao Sou BH.
“Segundo
minha terapeuta, a música me salvou de um autismo grave. Eu não tinha com quem
me relacionar quando era pequena. Além de minha prima Esperancinha, com quem brincava
muito de vez em quando, eu era a única criança da casa. Por isso, andava o dia
inteiro pra lá e pra cá e cantava, cantava e cantava. Esse era o meu jeito de
botar pra fora a solidão”, relembra Zizi.
Já
aos quatro anos, a mãe de Possi, percebendo seu talento, resolveu colocá-la em
uma escola de música. Começava a nascer ali uma imersão que duraria a vida
toda. “Minha mãe me colocou para estudar piano, além de ser um sonho dela, eu demonstrava
um supertalento para música e era uma maneira de canalizar toda aquela energia.
Mas, anos depois, percebi que não era só uma coisa de criança. Eu nasci com o
dom da musicalidade”, explica sobre primeiros passos na arte.
Tempos
mais tarde, aos 18 anos e morando em Salvador, o destino levou Zizi a cursar
Música na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Nesse mesmo período, a cantora
subiu pela primeira vez em um palco. “Meu irmão mais velho, José Possi Neto,
era diretor da Escola de Teatro da UFBA. Ele estava ensaiando um musical
chamado ‘Marilyn Miranda’. Como a gente voltava juntos da faculdade, eu ia com
ele para os ensaios e tocava um piano velho, enquanto eles aqueciam. Algumas
músicas foram criadas para o espetáculo e acabei participando como cantora,
bailarina e atriz. Mas, quando estreamos, o que chamou a atenção das pessoas
foi minha voz. Eu achei lindo, foi mágico”, recorda com afeição.
De
volta a São Paulo, o sucesso não demorou a surgir e o encontro com Roberto
Menescal, de uma forma bastante inusitada, fez parte desse início. Zizi conta
que, à época, ficou muito confusa e imaginou que o músico pudesse trabalhar em
uma loja de departamento. “Essa passagem é muito engraçada. Eu nunca fui, nem
sou, ligada em um monte de coisas que as pessoas são. Aí, naquele tempo, quando
eu ouvia ‘Philips’, pra mim, era marca de pasta de dentes ou de lâmpada. Não
sabia que existia uma gravadora com esse nome. Então, um dia recebi um
telegrama, vi o nome do Roberto e pensei: Acho que esse cara é o compositor de
‘Barquinho’ e ele deve querer que eu faça um backing vocal. Mas, o remetente é da ‘Philips’, será que ele trabalha
em uma loja?”, diverte-se. Desfeita a confusão, ela assinou com a marca e, em
seguida, lançou o primeiro EP, Flor do Mal (1978).
Entre
histórias e curiosidades, a cantora também revelou fatos raros sobre sua vida.
Durante o papo – enquanto falávamos da política brasileira –, Zizi nos contou que
é uma grande fã da saga Harry Potter e utilizou de frases do livro para resumir
a condição atual do País. “Você vai rir… Mas sou fanática por Harry Potter.
Tenho camiseta, cálice, boné, um monte de coisas. E, enquanto a gente está aqui
falando de política, me lembrei de uma frase que Dumbledore disse a Harry no
quarto livro, O Cálice de Fogo. Ele diz, assim: Harry! Cedo chegará o tempo em
que teremos de escolher entre o que é o fácil e o que é o correto”, opina sobre
o futuro do Brasil.
Segundo
Possi, outro cenário que vem sofrendo mudanças bruscas e, muitas vezes
negativas, é o musical. “Eu tenho me sentindo um ET. Não gosto de quase nada do
que ouço, acho pobre. Tudo feito para vender, empacotado. Claro que sempre
existiu um ‘grude’ do que é mais fácil, das músicas de refrão mais simples. Nos
anos 80, por exemplo, isso explodiu e, logo em seguida, começou a época dos
jabás. As Rádios começaram a fazer shows aos fins de semana em festas populares
e tocavam a semana inteira grupos que iriam fazer espetáculos de graça. Aí as
pessoas chegavam lá, cantavam tudo e as Rádios ganhavam com bilheteria. Foi
nessa época que eu falei: Chega! Não quero isso. Ou eu faço o que acredito,
música integral, ou, então, faço outra coisa. Não vou ficar nessa de atender
pedido de ‘cara’ de gravadora”, esclarece.
Prestes
a apresentar ‘Italianíssima’,
no Cine Theatro Brasil Vallourec, em BH, Zizi também relembrou como
foi gravar seu primeiro disco em Italiano, Per Amore, em 1997. “Depois de uma
temporada de shows, resolvi levar minha filha para Nápoles, que é a Terra do meu
avô materno. Lá, tive uma crise de choro que durou dias. Toda a minha infância
veio a cabeça, o som daquelas vozes, as minhas tias, as histórias do meu avô”,
recorda. De volta ao Brasil, ainda impactada com a viagem ao país de sua origem
familiar, seus pais estavam prestes a completar bodas de ouro e, para tal, seu
irmão resolveu preparar uma surpresa. “Zé Possi fechou um salão, organizou uma
decoração idêntica a do casamento de nossos pais e contratou uma
superbailarina, que usou o vestido de casamento da minha mãe e dançou em cima
do bolo. Minha mãe chorava, chorava e chorava. Já meu pai, demorou um pouco
para entender o que estava acontecendo (risos). Depois, meu irmão passou um
vídeo da imigração italiana no Brasil que, inclusive, emprestamos para Jayme
Monjardim abrir a novela Terra Nostra. Foi muito emocionante. Só que o mais
impressionante você não imagina: Dois meses depois, o presidente da minha gravadora
me convidou para fazer um disco em italiano e, em 1997, lancei Per Amore”,
detalha.
Encerrando
nosso papo, Zizi fez questão de falar sobre seu carinho e sua relação com Belo
Horizonte. “O último show que eu fiz antes de parir minha filha foi no Palácio
das Artes. Desde que me conheço como artista vou a Minas e sempre recebi um
carinho imenso do público mineiro. Vocês são educadíssimos, durante o show é um
silêncio que não se ouve uma mosca. Acho que é uma relação energética, porque eu
sempre gostei de apresentar os meus trabalhos aí. É muito forte, muito rica
essa troca. O público mineiro me faz bem”, finaliza.