Em português pegue e leve, clientes levam suas próprias panelas para buscar frango ao molho pardo e outros pratos servidos no restaurante
Um dos restaurantes ícones da culinária mineira, o Maria das
Tranças, no bairro São Francisco, região da Pampulha, chega aos 70 anos em
agosto com foco em uma tradição: o Trancinha. O nome carinhoso é o precursor do
que hoje convencionou-se chamar de take away – serviço em que o cliente vai até
o estabelecimento buscar o prato e levar para casa – mas com uma diferença:
enquanto esta modalidade de delivery é uma estratégia recorrente da maioria das
casas para minimizar os prejuízos nestes tempos de pandemia de coronavírus, no
Maria das Tranças, o Trancinha já existe há várias décadas e é repleto de
singularidades.
Segundo o empresário Ricardo Rodrigues, que faz parte da
terceira geração à frente do empreendimento, o Trancinha surgiu ao acaso, em
1955, quando um cliente do restaurante, que na época tinha o nome Bolero e não
Maria das Tranças, pediu uma panela emprestada para levar o tradicional frango
ao molho pardo, servido no cardápio, para sua casa. “Como cliente é rei, minha avó [dona Maria
Clara, fundadora do restaurante] nem pestanejou e cedeu ao pedido. O que
ninguém sabia é que dali em diante isso viraria um hábito. Várias pessoas
começaram a aparecer com as suas panelas de pressão prontinhas para serem
preenchidas com nosso frango quentinho”, conta Rodrigues acrescentando que o
vasilhame era o mais adequado para armazenar o alimento com segurança e impedir
que o molho pardo vazasse no trajeto. Nascia assim o ‘Bolerinho’, que hoje,
passados 65 anos, foi rebatizado de Trancinha para acompanhar o novo nome do
restaurante.
Ainda de acordo com o neto de Dona Maria Clara, em todos
esses anos, quem vai ao Maria das Tranças aos finais de semana, geralmente se
depara com uma fila de clientes aguardando suas panelas serem preenchidas com
as delícias da casa. “Pelo fato desse serviço ser uma tradição que praticamente
nasceu com o restaurante, nossa adaptação às limitações impostas neste período
de pandemia não foi tão difícil, pois felizmente o hábito do nosso público de
retirar suas refeições em nossa casa, não precisou ser fomentado, já vem de
longa data”, revela Ricardo acrescentando que o estabelecimento chegava a
servir, antes da pandemia, uma média de 10 mil refeições/mês, 20% deles só por
meio do Trancinha. “Em várias famílias, a panela e até a sacola que o cliente
traz para buscar a refeição passou de pai para filho. Fazemos parte da história desses clientes e
somos um exemplo de que a memória afetiva é muito importante para a relação que
as pessoas têm com os bares e restaurantes”.
Atualmente, não só o frango ao molho pardo faz parte do
Trancinha como também outros pratos do restaurante, entre eles o frango
empanado; o frango inteiro com quiabo e a versão ao molho de pequi.
O sexagenário take away da casa oferece ainda os seguintes
acompanhamentos: arroz; quiabo; e angu. Caso o cliente não consiga levar seu
vasilhame pode adquirir as embalagens especiais do Maria das Tranças para
viagem. A grande, que acomoda um frango inteiro, custa R$ 4,90. Já a pequena,
ideal para os acompanhamentos, pode ser adquirida por R$ 4,60.
Como o estabelecimento ainda não pode reabrir, devido à
pandemia e determinações da Prefeitura de Belo Horizonte, por enquanto a
comemoração e o foco ficam por conta do trabalho em cima do Trancinha. “Esperamos,
em breve, comemorar essa importante data com nossos clientes”, afirma Ricardo
acrescentando que o Maria das Tranças também está nas plataformas convencionais
de delivery, como o Ifood, Uber Eats e Happy. “Ele corresponde a 15% de todo o
nosso faturamento mensal e é bastante estruturado.”