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Faça a sua parte, cara! Coletivo de homens discute assédio no carnaval

O grupo promove rodas de conversa, debates com mulheres e ações com blocos da capital para conscientizar os homens sobre o machismo



Créditos da imagem: Luiza Alana
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Júlia Alves
22/02/19 às 22:03
Atualizado em 26/02/19 às 00:42

Os homens também podem fazer a parte deles para um carnaval mais seguro para as mulheres. Essa é a ideia do coletivo MEN – Machismo Entre Nós. Criado por belo-horizontinos que pretendem promover o diálogo entre os próprios homens e deixar a folia – e o dia a dia – livres do assédio e do machismo, o grupo já planejou ações para a festa de rua, como a distribuição de cartilhas com dicas e alertas para os homens, além de parcerias com outros coletivos da capital e cerca de 40 blocos de rua.

O encontro começou despretensioso, lá em agosto de 2018. Gustavo Ribeiro, estudante de Direito e um dos idealizadores do projeto, queria propor uma forma de alcançar os homens e promover o debate sobre temas como o assédio, o machismo e a masculinidade tóxica em rodas de conversa leves e descontraídas.

“A ideia era criar um espaço de confiança e tranquilidade para os homens expressarem em quê o machismo afeta a vida deles. A partir disso a gente foi concebendo os principais pontos para serem debatidos. Tentamos tirar esse silêncio do homem, que sempre foi educado a não falar sobre sentimentos e angustias, e colocar o dialogo nessa equação”, comenta o estudante.

Tirando o machismo do cotidiano

O objetivo das conversas é tirar os ‘caras’ da defensiva quando o assunto é o comportamento do próprio homem. Por isso, são tratadas diferentes temáticas, trazidas pelos próprios participantes.

“Falamos desde a divisão do trabalho em casa que sempre conta com aquele ‘até que ajudo a minha companheira ou esposa’ e que a gente busca mostrar o machismo nela, que o homem também tem a responsabilidade da manutenção do espaço em que vive. Até questões mais densas, como perceber a violência e a masculinidade tóxica em suas próprias atitudes”, pontua.

As reuniões tentam ser bem descontraídas e contam até mesmo com aquela cervejinha no papo de ‘brother’. Mas, por trás do clima leve, os assuntos sempre são levados muito a sério pelos participantes. Segundo Gustavo, os encontros também podem ter acompanhamento de psicólogos para estabelecer vínculos mais fortes com os homens e avançar a discussão para outros períodos além do carnaval.

Para fazer bonito na folia

Mesmo com o projeto de continuar com o debate, a primeira parada dos ‘desconstruidões’ é o carnaval. Como Gustavo mesmo disse, o evento será muito maior este ano e a expectativa de 4,6 milhões de pessoas é uma ótima oportunidade de abortar a pauta do assédio e do machismo.

“Para o carnaval desse ano começamos com a campanha do Não Força a Barra. Para as ações, na última quarta tivemos uma roda de conversa sobre assédio e fizemos uma conversa mista com a presença das companheiras do Não é Não!. E com esse espaço de fala da mulher, buscamos identificar o que é assédio e o que é paquera. Queríamos escutar mesmo o que as mulheres têm para falar e discutir como os homens podem intervir nessas situações”.

Falando, principalmente com as mulheres, sobre o que é o assédio e a violência de gênero, o homem pode entender melhor como evitar essas atitudes e impedir que os ‘parças’ e outros homens perpetuem isso. Mas sem se colocar em perigo ou intervir de forma violenta, como aconselha Gustavo. “Desenvolvemos uma série de dicas e sugestões com as mulheres e colocamos em cartilhas para os homens entenderem e intervirem mesmo nessas situações. Saber como agir, sem violência, para garantir o bem-estar da mulher”, conta o estudante de Direito.

O idealizador do projeto ainda comenta que serão feitos outros materiais para divulgar nas redes sociais do coletivo e em cerca de 40 blocos. Tudo para criar elos com as baterias e os foliões, facilitando para todos entenderem essa pauta e participarem da campanha.

E para quem quer participar?

Quem quiser participar das reuniões e ações do grupo, é só dar uma olhada na página do MEN e mostrar seu interesse. As reuniões estão abertas para todos os homens que querem criar um diálogo sobre o machismo e realmente fazer a diferença.

Já nesta quarta-feira (27), o grupo ainda vai participar de um encontro com os coletivos Não é Não! e Aura da Luta, a Guarda Municipal e a Delegacia Especializada de Combate à Violência Sexual. Na conversa serão discutidos os processos de segurança para este carnaval, serão abordados o assédio e a importunação sexual. Além de como encaminhar e agir com vítimas de algum tipo de violência, os locais que estão preparados para recebe-las e os postos-móveis que ficarão disponíveis durante a folia.

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