Conteúdo humorístico publicado não tem relação nenhuma com o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado
Provavelmente, você já deve ter visto as hashtags
#sorrygustavo ou #olavirginianos em seu feed do Instagram ou do Facebook,
sempre acompanhadas de imagens em preto e branco. Trata-se da página de humor
“Sebastião Salgados”, que possui 270 mil seguidores nas redes sociais e é
administrada por um belo-horizontino.
O estilo dicromático da página e o nome com um “s” a mais
fazem alusão ao trabalho do fotógrafo mineiro Sebastião Salgado, referência
mundial em fotografia documental, dono de um preto e branco puríssimo. No entanto, o conteúdo publicado em “Sebastião Salgados” não
tem relação nenhuma com o trabalho do fotógrafo natural de Aimorés, que há mais
de quatro décadas registra em imagens os maiores horrores cometidos pela
espécie humana e as grandes belezas naturais do planeta.
“Percorro o mundo expondo fotos sobre a condição social de
todos os tipos de salgado”, informa – assim mesmo, com erro proposital de
concordância – a descrição da paródia “Sebastião Salgados”. Diariamente, os seguidores do perfil têm acesso a uma
coletânea de publicações de humor envolvendo, em sua maioria, gatos, comidas e
fachadas cômicas de estabelecimentos.
Criador do perfil, o designer gráfico Gabriel Dutra, morador
do bairro Santa Mônica, em Belo Horizonte, conta que a ideia de criar a página
surgiu em novembro de 2012, época em que era estagiário de marketing de uma
empresa no Centro e recebia um vale-alimentação mensal de R$ 120. “Se eu quisesse comer todo dia, poderia apenas gastar em
torno de R$ 5. Que lanche se faz no centro de BH com apenas R$ 5? Sim, salgados!
Eu ia sempre em uma lanchonete próxima de onde trabalhava, que tinha uns
salgados maravilhosos”, relembra.
A lanchonete em questão é a Lanches Cidades, localizada no
número 858 da rua Rio de Janeiro, próximo ao Shopping Cidade. Ela sobreviveu ao
abre e fecha da pandemia e segue servindo seus salgados tradicionais, como
coxinha, empada e pão de queijo. “Na época (2012) eu curtia a página ‘Cartier Bressão’, no
Facebook, que também fazia uma paródia de um grande fotógrafo, o francês
Cartier Bresson. Então, em uma tarde na lanchonete, me veio a ideia do nome:
Sebastião Salgados”, revela.
E foi assim, enquanto comia uma coxinha de catupiry e um rissole
de milho, no Centro, que Gabriel Dutra criou a página de humor em preto e
branco que diverte centenas de milhares de pessoas diariamente. “Eu descobri que praticamente tudo era passível de ser
empregado em preto e branco, que além de criar uma identidade, também dava uma
outra percepção daquilo que está sendo retratado”, conta.
Gabriel não se considera um influenciador digital e revela
que ainda não monetizou a página. “Tenho que conciliar (a página) com estudo e
trabalho. Isso interfere muito, pois ficam muitas ideias na gaveta, devido à
falta de tempo e retorno financeiro”.
No entanto, o trabalho realizado por ele na página chamou a
atenção de grandes empresas. “(Pizzaria) Domino’s e (Cerveja) Itaipava até
chegaram a propor parcerias, mas não chegou a ser concretizado e recebi apenas
mimos das empresas. Uma forma de monetização seria uma saída para que eu possa
me dedicar mais a página, trazer mais conteúdos autorais e experimentais. Não
penso que por meio de parceria para publicações seja uma forma sustentável de
monetizar a página, mas sim criar uma loja para a página”, planeja.
Uma novidade da página para a próxima semana é o retorno do ‘Festival Miojo Literário’, em que os seguidores criam diálogos
literários sobre comer o macarrão instantâneo, imaginando como seus autores favoritos os
escreveriam.