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Marcas mineiras apostam no slow fashion e no consumo consciente

Responsabilidade ambiental e social fomentam mercado preocupado em produzir de forma equilibrada



Créditos da imagem: Daniela Dornelas
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Ana Barbosa *
30/06/19 às 12:00
Atualizado em 30/06/19 às 14:55

Valorização dos recursos locais, respeito ao meio ambiente, aos produtores e consumidores. O apreço pelo olho no olho, por peças originais, feitas à mão, com preço justo e muita qualidade. É isso que prega o slow fashion, um dos braços do movimento Fashion Revolution, que questiona e reflete sobre o impacto e o custo da moda na sociedade e no planeta.

Você já deve ter notado que as grandes marcas lançam, todos os anos, várias coleções para fomentar o consumo e influenciar pessoas a comprarem cada vez mais. Mas você já parou para pensar quem fez suas roupas? Como são as condições de trabalho dessa pessoa? E quanto custou para o ambiente os efeitos da produção? Levando em conta todos esses questionamentos, várias empresas estão repensando as formas de trabalhar e criar, valorizando produtos e matérias primas locais, numa ação colaborativa e equilibrada.

Crédito: Victor Vila Nova


Patrícia Barbosa, 39, é advogada, designer de moda, proprietária e criadora da By My Hands. Partido do conceito de slow fashion, ela criou a marca em 2015, enquanto estava no Oriente Médio. “Quando me mudei para lá, resolvi colocar à tona um sonho muito forte, já que venho de uma família de costureiras da alta costura de BH. Trabalhei no mercado imobiliário e, ao me mudar para a Indonésia, resolvi me arriscar no mundo da moda.” No país, Patrícia se deparou com fábricas de roupas com cenários terríveis, de exploração infantil e de idosos. Por isso, resolveu criar uma marca com uma lógica mais justa e que se comunicasse diretamente com os consumidores. Na mesma época, ela foi apresentada ao Fashion Revolution e hoje, é representante local do movimento em três cidades mineiras.

 

A designer conta que aprendeu muito sobre o slow fashion com o slow living (modo de vida baseado em abordagens mais lentas do cotidiano), que é bastante difundido na Holanda. E a marca segue muito essa ideologia,  usando o upcicling (reutilização criativa de peças de roupa) e focando na sustentabilidade. Hoje, 90% das vendas são feitas pelas redes sociais e a empresária conta com uma equipe de sete pessoas, entre elas fotógrafos, modelos e influencers. 

 

“A moda está muito acelerada. O fast fashion tem tomado conta do mercado com 52 coleções anuais. A indústria da moda pode salvar ou destruir o planeta. Então acredito que somos empreendedoras sociais, valorizando a transparência do início ao fim”, conta Patrícia.

 

Carol Pires e Marina Rocha são biólogas que não se conheceram pelo amor à natureza. Pelo contrário, foi a moda, a costura, que uniu as duas amigas. A busca por produzir peças originais, com a força dos produtos locais e respeitando o tempo e velocidade de cada um, fez com que a marca Maria Piranha nascesse. 

 

“Uma vez minha amiga imprimiu uma piranha numa impressora 3D. A Marina adorou e logo falou que seria muito legal uma piranha numa marca. E já surgiu a ideia de ter uma marca com ‘piranha’ no nome. Uma amiga nossa, odiava ser chamada assim e como o nome dela é Maria, unimos e colocamos Maria Piranha”, conta Carol Pires. 


Crédito : Carlos Henrique T. Barbosa


Com uma mistura de sarcasmo e protesto, a marca traz à tona adjetivos vistos por muitos como de mau gosto. “A gente busca ressignificar tudo, então se ser vadia é usar a roupa que você quiser, ótimo, quero ser vadia”, afirma Carol. As amigas produzem bolsas, carteiras e pochetes com plástico e material sintético.

 

Não somente com peças de vestuário que o modo de consumo e produção slow está ganhando espaço. Nos cosméticos, a procura por produtos com ativos naturais, que agridam menos a pele e o ambiente, tem caído no gosto do mercado.  

A Curi, marca da terapeuta holística Jacqueline Kaphiurcia, traz o conceito de cosméticos que atendam a individualidade de cada um, em respeito e equilíbrio com o meio ambiente. Jacqueline conta que, ela começou conhecendo e estudando muito as plantas e pensando em como aplicar a quantidade de exemplares que tinha. No início, ela começou a fazer e vender os cosméticos apenas para conhecidos, em 2015. Hoje, ela trabalha com uma amiga, num ambiente familiar e colaborativo.

Crédito: Divulgação/ Curi Essência

As vendas são feitas pelo site, em feiras e em lojas pontuais, como a Mooca, mas Jaqueline ressalta que a maior parte das negociações acontecem na relação direta com o cliente, já que muitos vão até ela para pedir conselhos e conhecer produtos alternativos para o corpo.

 “Não tem como algo ser bom para o nosso corpo e ruim para o meio ambiente. E vice-versa. A gente já não tem mais tempo para negar nossa responsabilidade. Já pensou o que vai virar a água do seu banho? A gente acredita que as mudanças precisam acontecer aos poucos. Não adianta reclamar no macro, se a gente não mudar no micro. É o micro que traz a estruturação para o macro”, reflete Jacqueline.

* sob supervisão da jornalista Bárbara Batista