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BH destina apenas 1% dos resíduos coletados diariamente à reciclagem

São recolhidas todos os dias 2,8 mil toneladas de resíduos; SLU alega falta de estrutura



Créditos da imagem: PBH/Breno Pataro
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Redação Sou BH
25/10/17 às 23:33
Atualizado em 01/02/19 às 19:08


Breno Pataro/PBH

Por Camila Saraiva

Todos os dias, a gestão pública e os belo-horizontinos jogam fora - literalmente - 99% dos resíduos coletados pela cidade. Esse percentual significa que, a cada 2,8 mil toneladas de lixo produzidas diariamente, apenas 20 são destinadas à coleta seletiva. Além da deficiência educacional e cultural do morador, a estrutura da prefeitura é precária e pouco evoluiu desde quando foi criada, há cerca de 20 anos: só 15% dos residentes são atendidos.

Atualmente, a SLU (Superintendência de Limpeza Urbana) faz a coleta seletiva em 36 de 487 bairros existentes em BH - o que significa, segundo a administração municipal, cerca de 400 mil habitantes de um total de 1,4 milhão. Nenhum bairro de Venda Nova, Norte e Noroeste é atendido - na Pampulha, por exemplo, apenas São Luiz tem o apoio do caminhão.



Há, ainda, os containers coloridos onde podem ser depositados o material reciclável. Mas nesse ponto a administração também deixa muito a desejar. Ao todo, são 80 pontos em uma área de 330 km². Na região Norte, por exemplo, onde moram cerca de 194 mil, existe apenas um ponto para uma área de 33 km² - número do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o Pnud.

“A coleta seletiva em BH deveria ser muito maior. A SLU é competente, mas não tem recurso e nem o apoio que deveria ter. Para o sistema funcionar bem tem que ter iniciativa política, campanhas permanentes e conscientização da sociedade, que aparentemente não está interessada nesse assunto ainda”, afirma ao
SouBH professor na área de resíduos da Escola de Engenharia Sanitária e ambiental da UFMG, Raphael Tobias Vasconcelos Barros

'Filantropia'

Segundo a SLU, o serviço não cobre a cidade toda pois as cooperativas e associações que recebem o material da coleta seletiva não suportariam a demanda, uma vez que o projeto foi inicialmente planejado para auxiliar o serviço dos catadores de rua de BH.




“A coleta seletiva sempre teve finalidade social, gerando trabalho e renda para as pessoas que já faziam esse serviço na cidade. Fizemos um piloto para a coleta porta a porta e as regiões Centro-Sul e Oeste apresentaram maior potencial para repassar material às cooperativas. Agora muitos galpões estão se capacitando, fazendo uma triagem mais rápida e melhorando processos internos e assim podemos avaliar uma nova implantação de coleta seletiva em outros bairros”, explica a chefe do Departamento de Programas Especiais da SLU, Aurora Pederzoli.

Para o professor de gestão de recursos hídricos e consultor ambiental Ricardo Coelho, a coleta seletiva é muito mais do que uma ação filantrópica e deve estar ligada à indústria tecnológica e empresarial que tenha o 
know how de como reciclar todos os materiais coletados na cidade, levando o mínimo aos aterros. 

“A coleta seletiva em BH não está inserida em cadeias produtivas de materiais, que é quando uma matéria volta ao ciclo comercial depois de reciclada, pois não é normatizada. Assim, nenhuma empresa pode atuar na reciclagem do óleo de cozinha, que por exemplo na Suíça é reciclado há 30 anos, porque não há regras para a atuação desse setor, a tributação não está definida”, avalia o especialista.

Previsão

O plano municipal de gestão de resíduos, divulgado no início do ano pela Prefeitura de Belo Horizonte, prevê a ampliação da coleta seletiva em outros 11 distritos até 2018, alcançando o índice de 20% da população atendida pelo Programa Municipal de Coleta Seletiva no sistema porta a porta realizado por cooperativas de catadores. Assim como também pretende, em até 20 anos, chegar a 11% no índice da coleta de resíduos domiciliares destinados à reciclagem. 


Esta é a segunda reportagem de uma série do SouBH sobre a destinação de resíduos na capital mineira. No dia 24 de outubro, foi publicada a matéria que revelava: PBH planeja acabar com a coleta de lixo porta a porta em 20 anos