Automedicação descontrolada pode trazer diversos problemas à saúde
Quem nunca, ao sentir uma dorzinha de cabeça, por menor que fosse, já correu para o Dr. Google? Basta digitar, por menos de cinco segundos, “como curar uma enxaqueca”, que a sua página será tomada por um leque de remédios e soluções que prometem acabar com o incômodo. Se você se identificou, pertence ao grupo dos 40,9% de brasileiros que fazem autodiagnóstico pela internet. Desses, 63,84% têm formação superior. Os dados são do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), entidade de pesquisa e pós-graduação na área farmacêutica.
Na pesquisa anterior, de 2016, o índice de autodiagnóstico on-line foi de 40%. Para o oncologista clínico Bruno Muzzi, do Cetus Oncologia, hospital oncológico com sede em Betim e unidades em Belo Horizonte e Contagem, esse crescimento se deve possivelmente ao imediatismo das pessoas, principalmente entre os jovens, que têm mais acesso aos meios digitais, o que pode ser comprovado, inclusive, pela pesquisa mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada em novembro de 2019. Segundo o órgão, 79,9% da população do país vive em lares com internet fixa ou móvel. Isso quer dizer que 166 milhões de brasileiros já têm algum acesso à rede. “Logo, fica mais fácil obter informação de todo e qualquer tipo”, ressalta.
O perigo, porém, mora no risco que o autodiagnóstico traz consigo, principalmente nestes tempos de pandemia de coronavírus. De acordo com o médico, a enorme variedade de fontes de consulta no ambiente virtual pode fazer com que o usuário receba informações erradas e com isso comprometa ou negligencie seu tratamento. “Na internet qualquer um pode receber a chancela de ‘médico’ e escrever sobre tudo, sem necessariamente ter conhecimento técnico/acadêmico sobre o que está falando. Algo que é lido na web, e que não é verdade, pode até mesmo gerar pânico no paciente. Com isso, ele pode acreditar erroneamente que seu caso é mais grave do que parece ou o contrário, que seu quadro é leve e sem riscos, sendo que na verdade a situação é oposta”, enfatiza Muzzi.
Pelo fato dos sintomas da Covid-19 (febre, dor de garganta, tosse com coriza, entre outros) serem similares aos de uma gripe, Bruno acrescenta que o melhor a fazer diante de um quadro clínico suspeito da doença é seguir as recomendações do Ministério da Saúde: isolamento domiciliar, repouso e hidratação. Buscar atendimento em unidades de saúde só é recomendado em casos de febre alta e dificuldade para respirar. “O que o paciente não pode fazer é ignorar esses protocolos e partir para a automedicação descontrolada por achar que somente os remédios de sua caixa de primeiros socorros conseguem reverter seu quadro”, ressalta.
O médico deixa claro que a tecnologia pode ser uma aliada do paciente, desde que bem usada. “O que não pode acontecer é a figura humana do profissional de saúde ser inteiramente substituída por mecanismos de buscas como o Google. É o médico quem deve tomar todas as condutas do tratamento do paciente, ou seja, norteá-lo”, explica Muzzi, acrescentando que, embora a automedicação deva ser evitada, o mesmo não pode ser dito sobre o autocuidado com o corpo. “Alguns cânceres, por exemplo, podem dar sinais antes de se agravarem ou ainda em estágio inicial. Por isso, ao menor indício de mudanças no corpo, é crucial entrar em contato com o médico, mesmo que por telefone. E não esqueça de se tocar, de se autoexaminar, visto que neste período de confinamento está mais difícil sair de casa para as consultas de rotina”.
Por fim, para quem não abre mão de buscar informações sobre doenças na internet, a melhor opção, de acordo com Bruno Muzzi, é recorrer aos grandes portais, que possuem maior credibilidade, além dos canais oficiais da medicina.
Dicas de alguns portais com informações oficiais: