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Nutricionista alerta sobre o ‘comer emocional’ em tempos de quarentena

Fome “emocional’, ou “fome de que?" é aquela que não é de comida e chega para suprir vazio que muitas pessoas sentem devido aos efeitos do isolamento social



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Redação
21/07/20 às 16:00
Atualizado em 21/07/20 às 16:00

Além de limitar nossa liberdade de ir e vir, o isolamento social, necessário para conter a disseminação da Covid-19, vem afetando também a qualidade da alimentação dos brasileiros. Segundo levantamento da Consumer Insights da Kantar, no período de 16 de março a 10 abril, em comparação ao de 17 de fevereiro a 15 de março, houve um crescimento de 34% no consumo de sanduíches no país. A Kantar explica, também, que as refeições mais rápidas, com preparo de até 20 minutos, vêm sendo priorizadas dentro dos lares.

Para a nutricionista clínica Gisele Magalhães, responsável pelo atendimento a pacientes do Cetus Oncologia [hospital dia especializado em tratamentos oncológicos com sede em Betim e unidades em Belo Horizonte e Contagem], essa mudança de hábito, embora perigosa, tem uma explicação. “A nutrição comportamental tem falado muito, neste momento, sobre a chamada ‘fome emocional’, ou seja, uma fome que não é de comida. Ela chega, na verdade, para suprir o vazio que muitas pessoas sentem em decorrência dos efeitos do isolamento social”.

De acordo com Gisele, à medida em que socializamos, convivemos com pessoas, viajamos e nos divertimos, damos vazão aos pequenos, mas importantes, prazeres do dia a dia. Com isso o cérebro libera dopamina, neurotransmissor que proporciona uma sensação de bem estar. “Como estamos impedidos de sair de casa para viajar, divertir, socializar, encontramos nos alimentos essas válvulas de escape”. É aí que mora o risco. Isso porque quando as pessoas comem sem saber o porquê e sem fome, normalmente não o fazem com qualidade. “Recorrem a pratos ultraprocessados, ricos em açúcar e gordura”, completa Magalhães. Esses alimentos, por sinal, também liberam neurotransmissores que proporcionam a sensação de prazer. “Eles acabam funcionando como uma compensação, uma forma de suprir os hábitos gostosos que tínhamos na vida normal, antes da pandemia”, explica.

Gisele ressalta, porém, que o problema não é comer, obviamente, mas sim a qualidade e a forma com a qual nos alimentamos. “Se você está com vontade de comer algo que nem sabe o que é, pare, tente fazer algo que lhe seja prazeroso em casa. Se a vontade estiver atrelada a fome mesmo, prefira cozinhar, mas evite pedir. O cozinhar, inclusive, pode até ser terapêutico. Além de fazer, você vai comer algo mais saudável, caseiro, natural, cuja procedência é conhecida”. 

Outro alerta de Gisele para este período de quarentena, cujo término ainda é incerto, é quanto ao aumento do consumo de álcool. E a preocupação faz sentido, afinal segundo a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead), houve um crescimento de 38% na venda de bebidas alcoólicas nas distribuidoras e 27% nas lojas de conveniência do país desde que o isolamento social começou.

Para a nutricionista, a explicação pela busca das bebidas também se assemelha ao desejo pelos alimentos calóricos. “O álcool entorpece, nos tira, mesmo que forma paliativa, desta realidade insana que estamos vivendo. Esse entorpecimento faz com que as pessoas suportem esse momento”.

Entretanto, a especialista faz questão de enfatizar que o aumento deste tipo de consumo pode provocar uma série de danos à saúde: doenças no fígado, queda da imunidade, desidratação. “Isso sem falar que o álcool não é alimento, mas sim droga, sem prescrição médica”.

Ainda segundo Magalhães, a pessoa que faz questão de beber, deve saber que não existe dose segura. “Algumas medidas, porém, podem minimizar os danos deste hábito: alimente-se antes, não esqueça de beber água e, principalmente, evite consumir álcool todos os dias da semana. O ideal, porém, é tentar buscar outras atividades que não apenas comer e beber desenfreadamente. Vale a pena, por exemplo, descobrir coisas simples do dia a dia, capazes de nos deixarem mais alegres. Uma hidratação mais intensa nos cabelos, na hora do banho, uma série leve na TV, um livro que seja agradável, brincar com os filhos. Quando a fome é emocional, fome de solidão, de saudade, é fundamental buscarmos outras válvulas de escape e compreendermos que este período, felizmente, vai passar”.