Cultura

Projeto arquitetônico de Gustavo Penna irá se tornar memorial em Brumadinho

Espaço vai honrar memória das pessoas que tiveram suas vidas interrompidas pelo desastre, estimulando o convívio entre a comunidade


Créditos da imagem: Reprodução/Memorial Brumadinho

Redação

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14/06/20 às 18:00
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O projeto arquitetônico do escritório de arquitetura GPA&A (Gustavo Penna e Associados), fundado pelo arquiteto Gustavo Penna, foi escolhido pela Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão Brumadinho (Avabrum) para a construção do Memorial Brumadinho, em homenagem às vítimas do rompimento da barragem, ocorrido em 25 de janeiro de 2019. O projeto foi idealizado para homenagear a memória das pessoas que perderam suas vidas, por meio de um espaço que seja um local de acolhimento e convívio comunitário.


O Memorial Brumadinho terá cerca de 1.220 m² de área construída e será erguido em um terreno de cinco hectares escolhido pela Avabrum e adquirido pela Vale, que também é responsável por contribuir tecnicamente e viabilizar a construção do espaço. O processo de seleção contou com o apoio técnico da arquiteta e urbanista Jurema de Sousa Machado, ex-presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e do museólogo Marcelo Mattos Araújo, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).


O projeto do GPA&A foi pensado para gerar no visitante uma experiência de reflexão sobre a memória e a dor que o rompimento deixou na comunidade, por meio de simbologias cheias de significado. Ao arvoredo original do terreno será incorporada a plantação de 272 ipês-amarelos, árvore símbolo do Brasil, como sinal de respeito e culto à memória de cada uma das vítimas.


A entrada no Memorial será constituída por um pavilhão com forma distorcida e fragmentada, que representará os sonhos das vítimas. A invasão da lama será simbolizada por um ambiente escuro, iluminado apenas por frestas de luz no teto. A cada dia 25 de janeiro, exatamente às 12h28, dia e horário precisos do rompimento, um facho de luz irá cortar o ar e iluminar uma drusa de cristais, conjunto de jóias arranjadas pela natureza, materializando a luz que naquele dia não veio.


O Memorial também contará com um Monumento às Vítimas Fatais, uma grande cabeça em formato de um quadrado instável, representando o sentir e o chorar – os gestos mais humanos de quem se depara com o impacto da perda – que serão transformados em trajetória, pois sob ele haverá um percurso em forma de fenda escavada com os nomes das vítimas, dispostos para sejam desvelados pelos visitantes, na medida em que caminham.


A idealização do espaço contou com a participação da comunidade de Brumadinho para que, assim, o Memorial se configurasse como um espaço de pertencimento, de identificação e coletividade. “A nossa tarefa face à realidade da dor das famílias nos coloca em uma posição de profunda humildade. A voz, a única voz, é a das testemunhas. A narrativa pertence a quem não pode mais falar e àqueles que ficaram no pesar. Não há consolo que possa ser materializado nessas circunstâncias. Resistimos ao apagamento do tempo e da história”, avalia Gustavo Penna.