Cultura

Você sabia? Centro Cultural da UFMG foi construído para ser hotel

História viva do hipercentro de BH guarda episódios de protestos, batalhões, engenheiros, abandono e renascimento cultural


Créditos da imagem: Reprodução / UFMG
Centro Cultural UFMG nasceu como hotel em 1899, virou quartel, escola de engenharia e hoje é referência cultural no centro de BH Centro Cultural UFMG nasceu como hotel em 1899, virou quartel, escola de engenharia e hoje é referência cultural no centro de BH

Maria Clara Landim

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26/11/25 às 12:58 - Atualizado em 26/11/25 às 17:04
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Antes de se tornar um dos espaços culturais mais queridos da capital mineira, o Centro Cultural UFMG nasceu com outro propósito: abrigar um hotel de luxo em frente à Estação Central. A história do prédio, que atravessa governos, batalhões, salas de aula e décadas de abandono, revela também a própria formação de BH.

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Da polêmica mudança da capital ao primeiro sobrado do hipercentro

A história começa em 1897, quando a antiga Vila Rica deixou de ser a capital do estado e abriu espaço para a recém-planejada Cidade de Minas. A escolha de Belo Horizonte como nova sede administrativa foi cercada de tensões, protestos e disputas políticas. Com a Comissão Construtora da Nova Capital, liderada pelo engenheiro Aarão Reis, a cidade foi projetada com inspiração em Paris e Washington, marcando o início da modernidade urbana no país.

Nesse cenário de mudanças, o português Antônio Maria Antunes, dono do Hotel Antunes em Ouro Preto, viu ali uma oportunidade: construir um grande hotel em frente à principal porta de entrada da capital, a Estação Ferroviária. Em 1899, o projeto do sobrado eclético ficou pronto, exibindo imponência e elementos neoclássicos que simbolizavam prosperidade e boas-vindas à cidade recém-inaugurada.

Créditos: Reprodução / UMFG

Venda inesperada e transformação em quartel

O sonho do hotel, porém, não resistiu aos altos custos. Antes mesmo de concluir a obra, Antunes vendeu o prédio ao governo mineiro. O destino mudou: em 1906, após adaptações comandadas pelo engenheiro Honório Soares do Couto, o imóvel passou a abrigar o 2º Batalhão da Brigada Policial. Ali permaneceu até 1911, quando as atividades foram transferidas para Juiz de Fora.

Créditos: Reprodução / UMFG

Da Engenharia ao nome que carrega até hoje

O edifício não ficou vazio por muito tempo. Em 1912, recebeu a recém-criada Escola Livre de Engenharia, que adaptou mais uma vez a estrutura para abrigar salas de aula e laboratórios. O engenheiro espanhol Emílio Gomes Regatas participou da reforma.

Quando a Universidade de Minas Gerais (UFMG) foi fundada, em 1927, o prédio se integrou ao seu patrimônio. O nome atual, Edifício Alcindo da Silva Vieira, homenageia um dos diretores da Escola de Engenharia e futuro reitor, figura central na construção da Cidade Universitária.

Créditos: Reprodução / UMFG

Abandono, tombamento e um renascimento muito esperado

Com a transferência do Instituto de Eletrotécnica para outra edificação em 1981, o prédio ficou fechado, acumulou danos e passou a ser ignorado por quem circulava pela região. Porém, movimentos internos da UFMG já articulavam uma virada: transformar o espaço em uma casa dedicada à cultura.

A ideia virou política institucional em 1986, quando o Centro Cultural UFMG foi oficialmente criado. A restauração começou em 1987 e rapidamente chamou a atenção dos moradores: o casarão voltava a respirar.

O reconhecimento patrimonial veio em 1988, com o tombamento pelo Iepha. Um ano depois, em 22 de abril de 1989, o espaço renasceu para o público com uma programação que tomou as ruas do hipercentro: shows, exposições, performances, vídeos internacionais e até aviões da Força Aérea lançando balões e poesias sobre a cidade.

Créditos: Reprodução / UMFG

Revitalizações, marcos e três décadas de história cultural

Entre 2006 e 2013, o prédio passou por uma grande revitalização que reforçou sua preservação: fachada, telhado, pisos, sistema elétrico, iluminação e pintura foram renovados para garantir segurança e acessibilidade.

Em 2019, o Centro Cultural UFMG celebrou seus 30 anos consolidado como referência artística e histórica. Hoje, abriga projetos que vão do cinema à dança, da fotografia à performance, criando pontes entre universidade e comunidade.

Créditos: Reprodução / UMFG

Por que esse lugar importa?

O Centro Cultural UFMG não é apenas um prédio antigo preservado, ele representa a própria formação de Belo Horizonte, os conflitos políticos da época, o surgimento da modernidade urbana e o esforço contínuo de valorização do patrimônio. É um símbolo de resistência cultural no coração da cidade.