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Novo filme do Grupo Galpão, 'Febre' acompanha um casal em fuga

Online

Novo filme do Grupo Galpão, 'Febre' acompanha um casal em fuga

Evento encerrado
  • Gratuito

Data

04/03/22 até 13/03/22

Seg, Ter, Qua, Qui, Sex, Sab, Dom | 20:00 - 23:00


Créditos da imagem: Divulgação

Às voltas com “o fim” de uma época, duas pessoas resolvem sair às ruas para respirar, andar, observar, duvidar e, se possível, antever horizontes. Trata-se do casal que deseja viver as últimas horas dos últimos dias de um mundo, até então, conhecido. Eis o argumento central da narrativa escrita pelo ator e dramaturgo Paulo André, do Grupo Galpão, para o filme “Febre”, cuja estreia nacional ocorrerá no dia 4 de março, às 20h, no canal do Grupo no YouTube.

Com texto de Paulo André e direção de Marcio Abreu, a obra fica em cartaz até 13 de março, disponível das 20h às 23h, e encerra o projeto “Dramaturgias – Cinco passagens para agora”, que realizou, desde junho de 2021, cinco espetáculos em diferentes formatos nas redes sociais. Integram o elenco de Febre as atrizes e os atores Antonio Edson, Eduardo Moreira, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André e Teuda Bara, todos do Grupo Galpão.

O texto do filme foi escrito por Paulo André no primeiro ano da pandemia, junto ao núcleo de dramaturgia do Galpão Cine Horto, a partir de workshop ministrado pelo ator, dramaturgo, diretor e pesquisador teatral Vinícius de Souza. Trata-se de uma história de um casal – interpretado por três duplas distintas de atores do Grupo, que se revezam ao longo da obra – vive as últimas horas dos últimos dias de um mundo conhecido: assim se dá o começo de tudo. “Durante a escrita, mostrei meu texto a algumas pessoas, entre as quais, Marcio Abreu, que demonstrou muita vontade de dirigi-lo. Ao começarmos o projeto, já como parte da série Dramaturgias – Cinco passagens para agora, comentei sobre a história com o Grupo Galpão, que gostou muito e entrou na proposta”, explica Paulo André.

Ele destaca, ainda, que se dedicou à escrita no momento da pandemia em que se percebia desiludido e sem perspectivas: “E não apenas devido à pandemia... Escrevi em meio a esse fim de mundo que conhecemos. Era como se tudo estivesse terminando e faltassem poucas horas para tudo acabar. O texto está sempre no escuro, e, ao mesmo tempo, em movimento. As pessoas têm relação muito ativa com esse fim, e não estão em casa se lamentando, chorando o término de uma época. Elas saem para ver algo, pois não têm outra coisa a fazer”. Em resumo, são duas pessoas, sem gênero definido pela narrativa, com atitude muito ativa em relação ao que vivem, pois desejam sair às ruas para ver, andar um pouco. Daí a energia ativa – e nada passiva – da obra em relação ao suposto fim de mundo.

O nome do filme também remonta às vivências de Paulo André durante a pandemia, apesar de, inicialmente, ele ter cogitado não dar título à obra. “Achava que seria uma boa provocação. Contudo, essa dramaturgia deveria ter sido produzida no ano passado, mas tive Covid e, durante nossas reuniões via Zoom, achei que o texto poderia se chamar ‘Febre’. O nome acabou por direcionar tudo, já que o texto tem a atmosfera de um delírio febril, com muitas reiterações e elipses, além de acontecer de forma frenética. A ideia do nome não só foi um bom achado, como nos ajudou a pensar e a formatar o filme”, afirma.

No que diz respeito ao formato, Paulo André optou por um grande poema díptico, dividido em duas seções bem distintas. “Sob o ponto de vista formal, a primeira parte se compõe pelo grande poema, enquanto a segunda revela rubricas bem teatrais. Que o diga a cena de um casal dançando certa coreografia de ações cotidianas, dentro de um quarto – algo que, no primeiro movimento, aparece em flashes. Fica subentendido, assim, que o casal da segunda parte pode ser o mesmo. Ou a segunda seria outra dimensão do fim da primeira? Tudo fica como sugestão”, analisa Paulo André, ao destacar, porém, que as conexões entre ambas as seções – aparentemente diferentes na estrutura – estão no emergir, na excitação, na recolocação de temas, nas imagens que aparecem rapidamente e, depois, se fundem.

A construção do texto e do filme remonta à tradição do Grupo de convocar seus atores e suas atrizes a desafios em áreas para além da atuação. “No Galpão, trabalhamos muito com o esquema do que chamamos de workshop, nos quais somos provocados a também escrever, dirigir, iluminar, fazer figurino, etc. Temos muito estímulo e fazemos um pouco de tudo”, conta Paulo André, ao lembrar as motivações para a criação da escrita de “Febre”, depois estruturada em produto audiovisual, sob direção de Marcio Abreu e assistência de direção de Luiz Felipe Fernandes, da Alicate. Paulo já escreveu outros textos para o Grupo, como “Arande Gróvore" (2008), no projeto Cine Horto Pé na Rua, dirigido pela atriz Inês Peixoto, e “Outros” (2018), junto a Eduardo Moreira e Marcio Abreu.

Segundo o diretor Marcio Abreu, parceiro do Grupo Galpão desde que dirigiu o espetáculo “Nós” (2016), o novo trabalho conjunto reafirma este “encontro de vida e os vínculos que permanecem, tomam outras formas e geram novas experiências”. Dessa vez, após se comover pelo texto de Paulo André, todo o processo ocorreu de forma natural: “O Galpão me convidou ao projeto ‘Dramaturgias’. Já na primeira reunião online, pedi que não ficássemos na relação virtual, pois, assim como eu, eles haviam feito muitas coisas nas plataformas”.

Por não ser possível uma peça presencial naquele momento, Marcio Abreu propôs a realização do filme. Assim, a obra não ficaria “no meio do caminho”, e seria possível investir em experiência de linguagem mais profunda, mesmo com as limitações do tempo – tanto para estruturar o roteiro quanto para montar a pré-produção e filmar: “O tempo era muito exíguo, mas havia grande engajamento de todas as pessoas envolvidas, dos atores à fotografia, da produção à assistência de direção e à trilha sonora. O processo foi muito bonito e corajoso!”. 

Apesar de já contar com decupagem prévia nas locações, Marcio conta que muita coisa nova foi criada, a cada momento, a partir da interação com os atores, as atrizes e o restante da equipe. “Foi intenso e estamos muito felizes! Nosso desejo era que tudo fizesse parte de um plano maior. Por isso, considero este experimento audiovisual como um processo apto a se transformar numa peça de teatro presencial. O filme gravado também pode ter outros desdobramentos, acabamentos e etapas de montagem”, explica, ao frisar que o espectador deve esperar uma obra extremamente sensível, conectada à consciência do tempo ora vivido: “É um trabalho com poética singular, texto belíssimo, atores engajados e mergulhados na experiência. Trata-se de experimento de linguagem, como deve ser a criação, quando temos, de fato, vontade de falar com o público, de expandir a vivência artística. Todos podem esperar um trabalho à altura da história do Galpão e dos artistas que compõem o trabalho”.

Como o texto que dá inspiração ao filme é muito urbano, foi feito um estudo de locações, para construir um percurso dos personagens, numa espécie de fuga. Afinal, eles saem de casa e se deslocam como se tudo estivesse perto do fim. Em outras palavras, as locações foram pensadas segundo temporalidades distintas: o “tempo da fuga” aparece nas externas noturnas, na cidade de Belo Horizonte; o “tempo do sonho”, com imagens estranhas e desconexas, no teatro Marília; já o “tempo da lembrança” se concretiza nas cenas de um sítio, onde se vivem as memórias de um passado feliz. “O filme, na verdade, é o delírio febril de alguém, como se a pessoa tivesse muita febre. Quando estamos assim, deliramos”, diz Marcio Abreu, ao explicar que o filme é resultado do que se passa na mente desse alguém: “Um dos delírios diz respeito à fuga, como se o mundo estivesse acabando e as pessoas fugissem para algum lugar. Ao mesmo tempo, é uma história de amor”, sublinha.

Neste sentido, o casal tem múltiplas possibilidades: “Sabe quando, num sonho, você diz: ‘Eu estava correndo pela rua, mas, de repente, não era mais eu, mas fulano, e, também era eu? Algo como se a pessoa existisse a partir de várias perspectivas! No filme, recorre-se a uma Belo Horizonte da região central (Centro, Zona Leste e Taquaril), escondida numa cidade grande, na qual passamos e não vemos. Há o olhar para uma urbanidade corroída. Passamos por locações assim, até terminar num lugar mais alto, de onde se vê a metrópole de cima”, conta o diretor. No Teatro Marília, dá-se o espectro de sonho; no sítio, lugar próximo à capital, aparecem, conforme destacado, as cenas relacionadas à memória.

No que se refere à parceria com Paulo André, o diretor destaca a relação de proximidade com o ator e dramaturgo do Galpão, a quem considera um artista extraordinário. “Nos processos que criamos juntos, desenvolveu-se uma amizade artística e de vida, assim como em relação a todos do Galpão. Também é um prazer ver o Paulo André em cena, construindo junto aos outros. Por isso, não quis abrir mão da atuação dele, autor do texto, no filme”, conclui.


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