Acarajé é protagonista de programação cultural e artística com inscrição gratuita
Nos dias 18 e 19 de outubro (sexta e sábado), Belo Horizonte recebe o Kudiá: Seminário de Comida Afro-brasileira, no Centro Cultural Urucuia (Rua W-3, 500 – Pongelupe), organizado pelo terreiro e Associação Sociocultural Nzo Jindanji Kuna N’kosi. O evento é gratuito e tem como principal objetivo valorizar a cultura afro-brasileira, com ênfase especial na gastronomia dos terreiros de candomblé. O nome “Kudiá” é derivado do kimbundu, língua de origem bantu, e remete ao gesto de comer e partilhar a comida com o próximo, simbolizando união e comunidade.
Com mesas redondas e rodas de conversa, o Kudiá abordará a história do acarajé, sua importância litúrgica nos terreiros e o papel fundamental da culinária na resistência cultural afro-brasileira. O seminário é comprometido com a inclusão social e contará com audiodescrição para pessoas com deficiência visual em todas as atividades, além de tradução simultânea em Libras.
Na sexta-feira (18 de outubro), das 18h30 às 21h, as atividades terão um enfoque teórico, com a presença de lideranças religiosas e o lançamento da cartilha educativa ‘Kudiá’. No sábado (19 de outubro), das 9h às 12h, haverá uma oficina prática sobre o preparo do acarajé, conduzida por Kota Mebagande (Ramon Nabôr). Nessa oficina, os participantes aprenderão não apenas as técnicas culinárias, mas também o contexto espiritual que envolve cada ingrediente, vivenciando a experiência completa de saborear essa iguaria. As inscrições estão disponíveis pelo link oficial.
Durante o seminário, será lançada a cartilha ‘Kudiá’, que explora em profundidade o significado espiritual do acarajé nas diferentes nações do candomblé, como Kongo-Angola, Ketu, Jeje e Ijexá. O material inclui entrevistas com figuras importantes, como Rita Santos (presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé de Salvador), Mãe Vânia do Amaral (Ialorixá Ile Asé Kalè Bokùn), Iyá Andreia de Oyá (Ialorixá do Ile Ase Omi Ogunsade), Dofono Sogbossi (vodunsi do Hùnkpámè Hùndàngbènà) e Ekedi Iara (Ilé Asé Dan ladejí).
A publicação mapeia vendedoras de acarajé em Belo Horizonte, refletindo sobre a importância econômica dessa atividade e as ameaças de apropriação cultural. O objetivo é preservar o patrimônio gastronômico afro-brasileiro e servir como um guia educativo.
Para Nengua Monasanje (Ângela Miguel), diretora litúrgica da Nzo Jindanji Kuna N’kosi e Mestra da Cultura Popular de Belo Horizonte e Contagem, a cozinha é o coração do terreiro. “Sem a cozinha, não há candomblé. A comida que oferecemos aos Nkisis [divindades] é carregada de energia e amor, e tudo o que é preparado ali deve ter uma intenção sagrada. A energia que emanamos através da comida é transmitida para quem recebe os cuidados espirituais”, explica.
Mestra da cultura popular, Nengua Monasanje destaca que a cozinha é elemento fundamental do candomblé, carregado de amor e de intenções sagradas
Monasanje reforça que, além do aspecto religioso, há um cuidado com a comunidade: “A gente cozinha para o santo, mas também para a matéria. Aqui no terreiro, ninguém passa fome. Garantimos que todos estejam bem alimentados, pois isso é essencial para a nossa prática”, ela complementa.
A programação do Kudiá também conta com apresentações artísticas que enriquecerão a experiência dos participantes. Na sexta-feira, a cantora Maíra Baldaia encerra as atividades teóricas com um pocket show. No sábado, as atrações culturais continuam com shows da cantora Anárvore e do grupo Afoxé Bandarerê, que trarão a força da tradição musical afro-brasileira.
Centro Cultural Urucuia (Rua W-3, 500 – Pongelupe)
18 de outubro (sexta-feira) das 18h30 às 21h – Lançamento da cartilha, mesa redonda com lideranças religiosas e pocket show com Maíra Baldaia.
19 de outubro (sábado) das 9h às 12h – Oficina e Degustação de acarajé e pocket shows com Anárvore e Afoxé Bandarerê.
Entrada gratuita, com inscrições neste link. Mais informações pelo Instagram do evento.