Programação inclui debate, apresentação de danças tradicionais e exibição de vídeos em que se valoriza a gastronomia dos festejos populares
A segunda etapa do Circuito Municipal de Cultura, que segue com o
objetivo de promover a produção artística da capital em todos os seus
territórios e manifestações, começa nesta terça-feira (13), a partir das 19h.
Para abrir as atividades, a cultura popular ganha destaque no debate “CulturasPopulares – Tradição e Contemporaneidade”, que busca refletir sobre o tema em
suas diversas manifestações, incluindo, entre outras, gastronomia, dança,
história e patrimônio de Belo Horizonte.
Participam do encontro a jornalista, pesquisadora e coordenadora do
Centro de Referência da Cultura Popular e Tradicional Lagoa do Nado, Rosália
Diogo; Kelma Zenaide, idealizadora de projeto com foco em culinária
afro-brasileira; o coreógrafo e bailarino Evandro Passos; e o historiador e
coordenador da Política de Patrimônio Imaterial, da Diretoria de Patrimônio
Cultural e Arquivo Público da Fundação Municipal de Cultura, Álan Pires, que
atuará como mediador.
“As culturas populares tradicionais são fundamentais na construção das
identidades culturais brasileiras e, em Belo Horizonte, é possível compreender
como essas manifestações dizem muito sobre os territórios da cidade. Como o
Circuito Municipal de Cultura tem essa atuação nas nove regionais da cidade,
com esse olhar atento para a produção cultural, e agora, especialmente, com um
olhar ainda mais específico para as condições de produção desses agentes
culturais locais, por conta da pandemia, entendemos como as culturas populares
são de fato estruturantes para a criação, construção e realização de toda essa
diversidade artística da cidade”, contextualiza Aline Vila Real, diretora
de Promoção das Artes da Fundação Municipal de Cultura.
Lançado em dezembro de 2019, o Circuito Municipal de Cultura é um
projeto estratégico da Prefeitura de Belo Horizonte, e mantém, nesta nova
etapa, o compromisso de oferecer programação cultural de qualidade, com
atrações gratuitas e para todas as faixas etárias. O Circuito já realizou 329
apresentações, alcançando um público de mais de 635 mil pessoas, e contou com a
participação de mais de 1.748 trabalhadores, entre artistas, mestres da cultura
popular, produtores e técnicos, reforçando seu importante papel de fomento,
principalmente no período da pandemia de Covid-19.
Secretária Municipal de Cultura e presidenta interina da Fundação
Municipal de Cultura, Fabíola Moulin ressalta que, do lançamento até aqui, o
projeto cresceu e se consolidou como uma importante plataforma de valorização
especialmente da produção cultural de Belo Horizonte, se destacando pela
abrangência das linguagens artísticas que contempla e por atender a cidade como
um todo.
“Assim como todos os demais projetos da Cultura, o Circuito precisou se
reinventar diante da pandemia, buscando novos formatos de programação e de
alcançar o público. Se, por um lado, tivemos os muitos desafios que surgiram
com a impossibilidade do encontro presencial, por outro, a potente programação
ofertada derrubou as barreiras geográficas e levou nossos artistas a outras
cidades, estados e até países”, afirma.
A secretária destaca que, para esta nova etapa, a Prefeitura está
investindo R$ 2,2 milhões para a realização do Circuito, recurso que impactará
positivamente toda a produção cultural de Belo Horizonte, desde artistas até os
técnicos dos bastidores, se somando às diversas iniciativas de fomento e
valorização da cultura que estão em curso na Secretaria e na Fundação Municipal
de Cultura.
A programação segue no formato digital e será transmitida a partir do canal
da Fundação Municipal de Cultura no YouTube, pelo site e pelas páginas do Circuito Municipal de
Cultura no Instagram e no Facebook.
De acordo com Juliana Sevaybricker, presidente do Centro de
Intercâmbio e Referência Cultural (CIRC), a expectativa é ampliar e qualificar
ainda mais esse atendimento à classe artística. “Com uma programação que, ainda
em grande parte, será virtual. Passamos por um aprendizado e por uma
experimentação para essa criação no on-line, descobrindo um novo jeito de fazer
arte, em que o encontro tem que passar pela tela, mas que, ao mesmo tempo, nos
traz possibilidades de conexões que seriam mais complexas no presencial. Hoje,
temos ainda mais conhecimento das ferramentas, tanto os artistas como nós, e
temos a certeza de que vamos qualificar ainda mais a entrega dessa
programação”, analisa Juliana Sevaybricker, coordenadora geral do projeto.
“Histórias de Alimentar a Alma”
A série “Histórias de Alimentar a Alma” é uma das ações do projeto
Territórios Culturais – que visa ampliar as ações do Circuito Municipal de
Cultura nas nove regionais de Belo Horizonte e promover a valorização dos
artistas locais nas mais variadas linguagens contemporâneas e tradicionais.
Nesta segunda edição, ao longo de oito episódios, a série irá mostrar diversas
histórias e receitas que estão diretamente ligadas à culinária dos festejos
populares e tradicionais.
O primeiro vídeo da série, que será lançado no dia 21, às 18h,
apresenta a história de Dona Helena e sua ligação com o Grupo Pipoca Doce e com
a receita da canjica de São João. Criada em 2007, a quadrilha Pipoca Doce
nasceu no Morro das Pedras, na região Oeste de Belo Horizonte. Foi a grande campeã
do grupo especial do Arraial de Belo Horizonte em 2019.
Todos os integrantes têm suas famílias ligadas indiretamente ao grupo,
e é neste contexto que entra dona Helena, mãe do diretor artístico Igor Paulo.
Além de uma excelente cozinheira, a integração de Helena com o mundo junino vem
de berço. Ainda jovem, seu pai, João Paulo, junto com sua mãe, Iolanda Gomes,
promoviam gratuitamente no bairro onde moravam a canjica de São João, o que fez
com que Helena criasse uma forte relação com a culinária tradicional junina.
Neste episódio, Dona Helena apresenta um pouco dessa história e ensina a
receita tradicional que faz parte da biografia de sua família.
No segundo episódio, quem entra em cena é o caruru de Vunji (São Cosme
e Damião), receita que será apresentada por Makota Cássia e Luan,
da Comunidade Religiosa e Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango. O vídeo vai ao ar no
dia 28, às 18h. O prato – feito com ingredientes como quiabo picado, camarão
seco, frango, temperos, entre outros – é oferecido em homenagem aos orixás
protetores das crianças e é uma das tradições que demonstram como a cultura
quilombola se preservou dentro do terreiro.
Danças tradicionais são atração do “Terça da Dança”
A conexão entre o tradicional e o virtual poderá ser vista nas
apresentações do projeto “Terça da Dança” que, nesta temporada, privilegia as
danças populares e tradicionais, muitas vezes longe dos holofotes e, ao mesmo
tempo, tão fundamentais para a identidade cultural dos territórios da cidade.
Quem inaugura a programação, no dia 27, às 19h, é o grupo Quadrilha Pé
de Serra, com vasta trajetória nas tradições juninas.
Criada com o objetivo de arrecadar alimentos para o centro de menores
do bairro Betânia, na década de 90, a Quadrilha Pé de Serra se profissionalizou
ao longo dos anos e iniciou sua participação em competições maiores a partir de
2002. O grupo é um dos raros a conseguir subir do grupo C para o grupo especial
na competição do Arraial de Belo Horizonte.
No dia 10 de agosto, também às 19h, os Arturos entram em cena. A
Comunidade Quilombola dos Arturos, criada no século XIX e um dos mais
importantes símbolos de resistência da cultura negra em Minas Gerais, mantém
viva a tradição do congado e compartilha seus passos, ritmos e movimentos no
Terça da Dança. Os Arturos reúnem atualmente cerca de 500 descendentes e
agregados do casal Arthur Camilo Silvério (filho de escravos) e Carmelinda
Maria da Silva, em uma propriedade rural localizada na cidade de Contagem, na
Região Metropolitana de Belo Horizonte.