Capital mineira e seu Palácio da Liberdade foram projetados para encarnar os ideais de ordem, progresso e modernidade do regime republicano
Palácio foi projetado pelo arquiteto José de Magalhães
Neste dia 15 de novembro, que marca Proclamação da República do Brasil, Belo Horizonte também tem motivos para lembrar o quanto sua própria história se entrelaça com esse momento político. A capital mineira foi concebida como um símbolo do novo regime, refletindo em seu traçado urbano e em suas construções, em especial no Palácio da Liberdade, os valores que orientaram a transição do Império para a República.
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Após 1889, a elite política de Minas Gerais via na criação de uma nova capital a chance de reorganizar o Estado sob um ideal moderno e republicano. Ouro Preto, com suas ladeiras coloniais e lembranças do período monárquico, parecia representar o passado. Era preciso um novo centro administrativo, racional e planejado. Uma cidade feita para o futuro.
Assim nasceu Belo Horizonte, erguida sobre os escombros do antigo arraial do Curral Del Rei. A destruição do vilarejo simbolizava o rompimento com o velho regime e o início de uma era em que a ordem e o progresso, lemas positivistas adotados pela República, se traduziriam em linhas retas, avenidas largas e quarteirões geométricos. O projeto urbanístico, inspirado em cidades modernas da época, expressava o desejo de controle e racionalidade, princípios que guiavam a construção de uma nação “civilizada”.
No coração desse novo plano urbano, surgia o Palácio da Liberdade, inaugurado em 1898, um ano após a fundação oficial da cidade. A própria escolha do nome não foi casual: “Liberdade” era uma palavra carregada de significado político, evocando os ideais republicanos de autonomia e cidadania. Erguido no ponto mais alto da então Avenida João Pinheiro, o edifício se impunha sobre a paisagem, dominando a vista da cidade e reforçando o poder do novo governo estadual.
Projetado pelo arquiteto José de Magalhães, o Palácio combina elementos clássicos e neobarrocos, em uma estética que buscava ao mesmo tempo elegância e autoridade. Sua escadaria, fundida na Bélgica, e os móveis, tapetes e cristais vindos da França demonstravam o desejo de Minas de se alinhar aos padrões europeus de modernidade. O paisagismo dos jardins, assinado pelo francês Paul Villon, integrava o Palácio à Praça da Liberdade.