As aulas serão ministradas por integrantes do Bloco Magnólia e pretendem formar músicos para o carnaval de 2020
Todo mundo pode fazer música. Essa é a ideia da Oficina de
Musicalização para Surdos, mostrar que não existem limitações na hora de deixar
os acordes do violão e as vibrações do tambor fluírem. Criada a partir de uma
parceria entre o Bloco Magnólia e a Sociedade Dos Surdos de Belo Horizonte
(SSBH), as oficinas vão propor um estudo das relações entre música e surdez. As aulas gratuitas começam no dia 13 de abril
e os interessados já podem se inscrever pelo site.
Com a intenção de garantir a formação musical e a abertura
de um diálogo mais próximo com a comunidade surda, os organizadores também já estão
pensando no próximo carnaval. “No bloco queríamos abordar projetos mais sociais.
E com a oficina pretendemos tratar desse lado mais social, mas também levar
essas pessoas para o carnaval de 2020. Queremos capacitar a comunidade surda
para que eles possam fazer parte de qualquer bloco”, conta Flávio Teixeira Maia,
músico, pesquisador e um dos fundadores do Magnólia.
De acordo com o músico, as oficinas duram até a folia do
próximo ano e, inicialmente, serão focadas em bate-papos e no entendimento da música
e dos lados mais subjetivos sobre essa forma de arte. As aulas devem acontecer
uma vez por semana, aos sábados, das 9h às 14h, na sede da SSBH (rua
Expedicionário Michel Jacobe Cheib, 162, Caiçaras).
“Inicialmente teremos conversas para saber o que a
comunidade acha e quais são as necessidades dos integrantes da oficina.
Queremos entender e conversar sobre a relação da música e da surdez, fazer experimentações
sonoras e aprender mais sobre as pulsações dos instrumentos e sobre os ruídos
como forma de música”, afirma Flávio, que também conta que os participantes vão
confeccionar os próprios instrumentos, se familiarizando com a música de forma
mais introspectiva e, depois, partindo para a parte prática.
E a intenção dos organizadores é garantir muitos alunos para
as práticas. Com vagas ilimitadas, por enquanto, o bloco e a própria SSBH
querem saber primeiro o que o público precisa para depois organizar diferentes turmas
e horários para os alunos.
A sementinha do
projeto
Intérprete de livros de sinais e pesquisador das relações entre
a musicalidade e a surdez, Flávio já participou de outros projetos e oficinas
focados na musicalização de pessoas com alguma deficiência auditiva.
Filho de pai e mãe surdos, o músico cresceu na comunidade
surda e, ao seguir para o meio da música, queria aliar os dois universos e
proporcionar as sensações e vivências da musicalidade para essas pessoas.
“Em 2013, fui pesquisando e procurando saber mais sobre
essas relações. Professores e alunos da UFMG foram essenciais para ajudar no
meu caminho na área. E o primeiro trabalho que fiz foi uma oficina de percepção
musical para surdos. Nesse projeto construímos um tablado com alto falantes conectados
e ligamos um som para as pessoas ‘sentirem’ a música”, comenta Flávio.
Para o artista, o objetivo das oficinas é permitir a
experimentação musical, além de empoderar os surdos, promovendo a desconstrução
dessa ideia pré-concebida de quem pode ou não fazer música.