Educação

Poema de Drummond sobre o Cinema Odeon em BH foi destaque em prova

Poema de Drummond sobre o fechamento do Cinema Odeon, em BH, virou tema de prova e revela como memória urbana, afeto e perda marcam sua obra


Créditos da imagem: Reprodução / EM
Fachada histórica do antigo Cinema Odeon, na Rua da Bahia, símbolo da era das primeiras salas de exibição em Belo Horizonte Fachada histórica do antigo Cinema Odeon, na Rua da Bahia, símbolo da era das primeiras salas de exibição em Belo Horizonte

Maria Clara Landim

|
24/11/25 às 12:45
compartilhe

O fechamento de cinemas históricos em Belo Horizonte não é um fenômeno recente. Muito antes de os debates sobre preservação cultural ganharem força, Carlos Drummond de Andrade já lamentava esse processo. Em 1928, o poeta mineiro transformou em literatura o fim do Cinema Odeon, uma das primeiras salas de exibição da capital e um marco da vida cultural da cidade.

Essa relação entre memória urbana e experiência individual é tão evidente que, décadas depois, virou tema de prova: uma questão da UnB, em 2009, destacou como o poeta mistura imagens da cidade, crenças e afetos para construir O fim das coisas, e considerou essa afirmação correta.

Leia também:

Odeon: da Rua da Bahia ao imaginário da cidade

Localizado no nº 870 da Rua da Bahia, o Odeon foi inaugurado como Teatro Paris em 1906 e passou a se chamar Cinema Odeon em 1912. Entre matinês disputadas, orquestras ao vivo, cinejornais e faroestes, tornou-se um dos principais espaços de sociabilidade de BH.

Quando encerrou as atividades, em janeiro de 1928, deixou um vazio cultural, e afetivo, entre seus frequentadores. Drummond era um deles.

O poema que registra o adeus

No poema O fim das coisas, Drummond lamenta o fechamento do Odeon e recusa a modernização representada pelo Cinema Glória. Ele reivindica o direito de preservar o espaço que moldou sua juventude: pequeno, “fora de moda”, mas carregado de sentido.

Ao relembrar a fila, as sessões, a orquestra e até as fantasias adolescentes, o poeta transforma o cinema em símbolo. Essa fusão de memória, sonho e experiência é justamente o ponto destacado pela questão da UnB de 2009: para Drummond, a cidade não é cenário, e sim extensão de sua subjetividade.

Crédito: Reprodução / Vestibulares Estratégia

Drummond e Minas: a geografia afetiva que sustenta seu olhar

A relação entre o poeta e Minas Gerais também ajuda a explicar o impacto emocional da perda do Odeon. Mesmo distante, Drummond sempre retornou a Minas como fonte de identidade literária. É do estado que ele extrai temas como tempo, infância, modernização e nostalgia.

Por isso, o desaparecimento de um cinema belo-horizontino não se limita ao cotidiano urbano: expressa o choque entre permanência e mudança, um dos eixos centrais de sua obra.

Uma cidade que muda e leva memórias junto

Ao lamentar o fechamento do Odeon, Drummond antecipa uma discussão que ainda ressoa em Belo Horizonte: a substituição de espaços culturais por novos empreendimentos. A capital viu o surgimento e o desaparecimento de diversas salas ao longo das décadas, transformando a relação da população com o cinema.

Esse ciclo constante reforça a atualidade do poema e sua capacidade de dialogar com a memória coletiva.

A permanência simbólica do Odeon

Mesmo desaparecido, o Odeon sobrevive graças à literatura. Drummond garantiu que o cinema seguisse presente no imaginário da cidade, mostrando que espaços culturais não se apagam completamente quando são demolidos, eles se preservam nas lembranças, nos relatos e na poesia.