Entrevista Especial

Humor: uma questão de situação

Mônica Martelli, que chega a BH neste sábado, conversou com o Sou BH e contou fatos exclusivos de sua vida e carreira


Créditos da imagem: Rodrigo Peixoto

Júnior Castro

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08/11/19 às 20:30
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“No
dia que for possível à mulher amar em sua força e não em sua fraqueza, não para
fugir de si mesma, mas para se encontrar, não para se renunciar, mas para se
afirmar, nesse dia o amor tornar-se-á para ela, como para o homem, fonte de
vida e não perigo mortal.” Simone de Beauvoir, desde o século passado, expunha reflexões
importantes sobre o empoderamento feminino. No mesmo tom, o Sou BH conversou
com Mônica Martelli –
que chega
a BH com Minha Vida em Marte neste sábado, 9/11
– e
repercutiu sobre ponderações importantes de vida, carreira e papel da mulher na
sociedade.

Bem-humorada
e bastante autêntica, Mônica deu start
em nosso papo falando sobre suas experiências antes de se tornar atriz. “Sou do
interior, de Macaé, e de uma geração onde as pessoas escolhiam ser médico,
advogado ou engenheiro. Se você não fosse nenhum dos três, nem seria aceito na
família”, observa a atriz que, naquele momento, teve de escolher qual rumo
tomaria. “Então, fui fazer direito, mas logo vi que não era, mesmo, o que eu
queria. Depois me mudei para os Estados Unidos, voltei, e fui fazer jornalismo.
Era o mais próximo do que eu desejava – mas, na verdade, nem sabia o que eu
queria”, completa.

Na
faculdade de jornalismo, Martelli pôde identificar seu desejo de ser atriz.
“Naquele momento, pude ver que o que eu queria era estudar teatro, mas tinha
muita vergonha. Era algo completamente fora da minha realidade. Minha mãe é
professora, na época vereadora. Minha irmã médica, meu irmão matemático. Eu
pensava: será que jogo para a minha família que quero ser atriz? Aí eu cursei
jornalismo, mas fiz a faculdade de teatro ao mesmo tempo”, relembra.

O
teatro, no início, foi tratado como hobby. Embora Martelli fosse de uma família
muito aberta, as barreiras da sociedade e como um artista era visto, tiveram de
ser enfrentadas. “Eu vejo isso acontecer em várias famílias até hoje. Meninas
indo fazer medicina e vão fazer uma apresentação final de balé ou música, por
exemplo, e cantam pra caramba, têm um enorme talento e a família enxerga aquilo
como uma brincadeira”, pontua a atriz, que acrescenta sobre sua formação dentro
de casa. “Sou filha de uma mulher extremamente diferenciada. Minha mãe é
feminista, não criou a gente para casar. Criou a gente lendo Simone de Beauvoir.
Para ela, a única possibilidade de liberdade de uma mulher é a independência
financeira. E, mesmo com essa mãe, tive dificuldades. Imagina quem vive em
outras circunstâncias?”, reflete.

No teatro, Mônica estreou aos 21 anos na peça ‘Torturas de um Coração’. Muito
antes de subir ao palco pela primeira vez, entretanto, ela já tinha decidido
qual caminho tomaria em sua vida. “Quando subi as escadas da Escola de Teatro,
quando tive minha primeira aula, nesse momento falei: Eu pertenço a esse mundo,
aqui é a minha tribo”, conta.

Além
de atriz, Martelli desempenha os papéis de roteirista, dramaturga, cronista e
apresentadora. “Eu me descobri escritora e roteirista só quando eu escrevi Os
Homens São de Marte… e É pra lá que Eu Vou. Antes, eu ficava só no papel de
atriz. Hoje em dia, descobri outros talentos meus e o mundo de hoje tem de
estar aberto para enxergar a gente com mais talentos. Existia um preconceito:
se é cantora, não pode ser atriz; se é roteirista, não pode ser ator. Era muito
segmentado, mas agora o público tem mostrado que podemos ser muito mais”,
explica.

Sucesso
de público e crítica, Minha Vida em Marte, além do humor, possui um ponto de
convergência bastante forte com o público, que se identifica com os personagens.
“O meu texto, se alguém pegar para ler, vai ver que não tem humor. A comédia
está na situação, na forma como falo e faço. É um humor de identificação.
Então, tudo o que vivo, minhas angústias, tristezas, expectativas, medos,
traumas, tudo isso eu escrevo. Eu doo isso ao público e é nisso que está a
graça, no meu olhar sobre o que acontece na minha vida”, explica Mônica.

Com
duas apresentações no Sesc Palladium, às 19h e às 21h30, dia 9 de novembro,
Martelli falou sobre sua relação com o público mineiro e porque sempre fez
questão de se apresentar por aqui. “Belo Horizonte é um lugar que, toda vez que
vou, respeito a reação da plateia, porque é uma cidade que tem acesso à
cultura. É um local onde muitas peças vão e, por isso, tem uma sofisticação,
mas no sentido de referências. Então, isso me interessa muito. Outra coisa, é
que eu tenho uma carinho muito grande pelos mineiros. Meu pai é de Minas, tenho
amigos mineiros. Eu chego e fico desesperada para comer essa comida daí, é
realmente um carinho especial”, conclui.