Gastronomia

Baixaria: comida de boteco, boas opções veganas e música no Edifício Central

De frente à Praça da Estação, bar aposta na pluralidade do hipercentro de BH


Créditos da imagem: Bossuet Alvim/Sou BH
Casa investe em ambiente descontraído para atrair público diversificado, com programação que vai dos DJs às rodas de samba

Bossuet Alvim

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10/11/23 às 07:51
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Da sacada de linhas retas, uma luz se projeta e pinta um canto da Praça da Estação em inesperados tons de rosa. No terceiro piso do Edifício Central, de frente a um dos pontos principais do hipercentro de BH, o Baixaria abre as portas do happy hour até meia-noite em dias úteis, ou ainda para um almoço com esticada no sábado. Inaugurado em agosto com decoração colorida, mesas com vista para a rua e programação musical, o sucesso do bar tem provocado mudanças na rotina do prédio amarelo, de arquitetura sessentista, que é um destaque na paisagem urbana da região conhecida como baixo Centro. 

“É muito importante essa reocupação dos edifícios tradicionais que estão subaproveitados, o movimento social e político de uso dessas estruturas”, comenta André de Oliveira, à frente da casa em parceria com Antônio Mello. Os sócios esperavam movimento modesto a princípio, mas em poucos dias desde a abertura perceberam que seria preciso reforçar a equipe para dar conta da alta demanda. 

Do lado de fora, nos corredores da varanda, fica a maior parte das cadeiras e uma esquina onde rolam algumas sessões de música ao vivo – incluindo um sambinha de leve às segundas, programa ainda raro para o começo de semana na capital. Na área interna, que ocupa quatro das lojas regulares do edifício, há um espaço para os DJs convidados além do elemento principal do ambiente, que é o eixo de todos os botecos. 

“O balcão é um espaço democrático, onde quem visita o bar pode se sentar e interagir com quem está trabalhando”, observa André, ressaltando que o Baixaria “é uma casa plural” inspirada justamente pela liberdade e descontração dos estabelecimentos mais populares e despretensiosos. “Ainda que tenha uma decoração um pouco mais sofisticada que um boteco copo sujo clássico, aqui também há elementos como a estufa, que é um cartão postal nosso, sempre em destaque”, acrescenta


Estufa brilhante

A vitrine quente também é motivo de orgulho do chef João Salles, que aplica à cozinha da casa sua vasta experiência em bares e restaurantes da cidade. A cultura alimentar de boteco, com a cara de BH, é bem representada por itens da estufa como a linguiça artesanal defumada (R$ 17,90) que o cozinheiro “importa” diretamente do Centro Histórico de Santa Luzia. Outras opções rápidas de petiscos expostos no envidraçado incluem costelinha (R$ 33,90), maçã de peito com torradas (R$ 37,90) e pernil (R$ 33,90), todas servidas com farofa. 

Opção vegana na estufa, o Pega a Visão (R$ 28,90) traz cogumelos confitados no azeite, alho, ervas e batata bolinha fermentada. Já o Beijo Grego com Final Feliz (R$ 35,90) representa o oposto do veggie com rabada, língua e rabinho de porco acompanhados por farofa. “Tivemos a preocupação de fazer um lugar que seja ligeiramente sofisticado, com pratos bem feitos, boas matérias-primas em uma cozinha equipada no mais alto nível. São pratos simples, petiscos, tira-gostos, comida de boteco, e os preços andam de mãos dadas com isso”, garante André.

Da cozinha aberta saem outros simples e diretos, caso do torresmo de barriga crocante (R$ 34,90), do cupim desfiado com batata bolinha (R$ 42,90) e do trio de pastéis com sabores variados (R$ 28,90). Mas também é por lá que Salles solta a criatividade no trabalho com vegetais, entregando versões sem carne para tira-gostos clássicos, riquíssimas em sabores como o Buraco Quente/Pelano (R$ 28,90) – variação do pão de sal com carne ao molho que troca a proteína animal por cogumelos à bourguignon. 

Culinária vegetal de boteco

André explica que a preocupação com o menu à base de plantas nasceu junto com a casa, de olho em um público crescente. “Quando vão em bares, veganos costumam ficar com poucas opções de tira-gosto como mandioca, batata e bolinho de feijão”, lamenta. O Baixaria faz caminho inverso, oferecendo cinco opções sem proteína animal em receitas criativas, com protagonistas incomuns e sabores surpreendentes. Para isso, contou com a colaboração da chef Carolina Dini, conhecida pelo perfil @cebolanamanteiga e divulgadora de receitas vegetais. 

“Quisemos um cardápio vegano e vegetariano que fosse gostoso, diversificado, acessível e com ingredientes tradicionais. Carolina nos deu ajuda nessa construção, que valoriza produtos da agricultura familiar”, destaca Oliveira. Estão na lista o De Itabirito (R$ 29,90), uma “carne de panela” feita do umbigo de banana desfiado e refogado no tomate com torradas, e a Roxinha Refrescante (R$ 26,90), que é berinjela tostada e espalmada com picles de cebola roxa e molho de amendoim. O Mordida Crocante (R$ 29,90) é um orgulho pessoal do chef: porção de jilós empanados e fritos, bem sequinhos, acompanhados por molho de alho-poró. 

Atrelada ao funcionamento do Edifício Central, a casa não abre aos domingos, mas serve almoço a partir do meio-dia nos sábados. O cardápio varia semanalmente e mantém o compromisso da cozinha com ingredientes frescos, em boa parte oriundos de pequenos produtores, além de sempre garantir opções veganas para o prato do dia. “A ideia é que o cardápio observe as estações do ano, para garantirmos simbiose com os processos da natureza”, comenta o sócio André. A carta de vinhos, com rótulos brasileiros, portugueses e italianos, oferece boas opções para o único dia da semana em que o Baixaria abre antes das 17h, oferecendo uma bela visão da Serra do Curral.

De Adão e Ivo a Juliete

Com vista para a Rua Sapucaí e bem próxima ao circuito de bares no Floresta, a casa investe em uma carta de drinks autorais que abraça os gostos da juventude descolada do baixo centro sem abrir mão das raízes. A chef de bar Tainara Fernanda cria insumos artesanais a partir de iguarias da culinária mineira como o licor de goiabada e o vermute de doce de abóbora. O primeiro vai no inspirado Romeu e Juliete (R$ 25,90), com licor de goiabada, vodca e suco de toranja, mais um pedacinho de queijo canastra na taça. Já o segundo entra no Jacú (R$ 25,90), que leva cachaça, vermute de abóbora e Cynar, servido com abóbora açucarada. 

Outras boas combinações com nomes criativos da carta são Adão e Ivo (R$ 25,90), que é licor amaretto, vodka, café coado e bala de leite; Nú (R$ 28,90), com gin, suco de tangerina, cenoura, açafrão da terra e tônica, servido com toranja e tomilho, ou o mais simples Nó (R$ 28,90), feito de gin, tônica, abacaxi fermentado e caldo de cana. Em horas mais quentes, a salvação do calor pode estar na fartura da jarra de Zé Dend’água (R$ 79,90), que reúne vinho tinto ou branco, licor de laranja, tônica, maçã verde, lima, laranja, morango, uva verde e hortelã.

Baixaria
Avenida dos Andradas, 367 (Edifício Central) – loja 334 – Centro
Segunda a sexta das 17h à 00h; sábado de 12h à 00h
Reservas (Whatsapp): (31) 98837-8118
Saiba mais pelo Instagram da casa