De Santa Tereza à Savassi, bares resistem ao tempo e ajudam a contar a história da capital da boemia
Aberto em 1919, o Bar do Orlando tem quase a mesma idade de Belo Horizonte
“Nada de novo existe neste planeta que não se fale aqui na mesa de bar”. O verso de “Saudade dos aviões da Painar”, canção de 1975 composta por Fernando Brant e Milton Nascimento, sintetiza o espírito mineiro, em especial o belo-horizontino, e reúne duas de suas maiores paixões: prosa e boteco. Aqui, o título de capital dos bares é bem mais do que fama passada ou mero apelido carinhoso.
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Segundo levantamento realizado em 2023 pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), a cidade é campeã em número de botecos por habitante: 178 para cada 100 mil moradores, mais que o dobro de São Paulo. Mas em meio a tantos estabelecimentos que abrem e fecham, alguns resistem ao tempo e se tornam verdadeiros guardiões da memória urbana. Conheça os bares mais antigos de BH, que atravessam décadas e conquistam novas gerações de clientes.
Aquele que nasceu como Bar dos Pescadores às margens do Rio Arrudas, em 1919, é hoje considerado o mais antigo da cidade. Viajantes passavam pelo local no coração da Praça Cardoso, em Santa Tereza, e tomavam pinga antes de embarcar na linha férrea rumo a Sabará ou Roças Grandes para pescar no Rio das Velhas.
O bar foi rebatizado na década de 1980, quando Orlando Siqueira, saindo de Santa Luzia para comprar o estabelecimento de seu tio, Pedro de Assis, assumiu os negócios. Com o tempo, deixou de vender anzóis e peixes fritos para virar referência de cerveja gelada e tira-gosto. Jovens, velhos, moradores do bairro e visitantes seguem fazendo dele um reduto democrático, símbolo incontornável da boemia belo-horizontina.
Endereço: Rua Alvinópolis, 460 — Santa Tereza, Belo Horizonte (MG)
Funcionamento: Quarta e quinta: das 16h30 às 0h30 / Sexta: das 16h às 1h / Sábado: das 13h às 23h / Domingo: das 12h às 21h
Aberta há mais de 75 anos, a Mercearia Lili ostenta sua ambivalência: meio comércio de bairro, meio boteco tradicional. Primeiro CNPJ do bairro Santo Antônio, também vende produtos diversos, mas sua verdadeira vocação está no balcão, onde já conquistou duas vezes o título do Comida di Buteco. É um dos principais pontos de encontro do bairro, referência de tradição e autenticidade em uma área que cresceu e se valorizou ao longo das décadas.
Endereço: Rua São João Evangelista, 676 — Santo Antônio, Belo Horizonte (MG)
Funcionamento: Segunda e terça: das 17h às 22h / Quarta e quinta: das 17h às 23h / Sexta: das 17h às 23h30 / Sábado: das 11h às 18h
No coração do Centro, o Café Palhares mistura história e inovação. Fundado em 1938, o bar preserva a tradição do famoso KAOL — o prato feito mais conhecido da cidade — ao mesmo tempo em que se reinventa com criações que renderam prêmios no Comida di Buteco em 2021 e 2022.
Para os mais jovens, que dividem o balcão com clientes que o frequentam há décadas, tornou-se porta de entrada para a boemia na área central. O Palhares resiste ao esvaziamento da região e prova ser parte da memória afetiva da capital.
Endereço: Rua dos Tupinambás, 638 — Centro, Belo Horizonte (MG)
Funcionamento: Segunda, terça, quarta e quinta: das 8h às 17h / Sexta: das 8h às 18h30 / Sábado: das 8h às 16h
Fundado em 1929 por uma imigrante da Tchecoslováquia, o Tip Top é o segundo bar mais antigo da cidade — e o mais longevo a manter o mesmo nome. Foi comandado por mulheres durante toda a sua existência, oferecendo petiscos que combinam culinária alemã com influências mineiras.
Especula-se que lá começaram a ser servidas as primeiras porções de embutidos em botecos de BH. Hoje, mantém viva a tradição, com destaque para a mostarda artesanal, e desde 2024 ocupa novo endereço na Savassi.
Endereço: Rua Paraíba, 811 — Savassi, Belo Horizonte (MG)
Funcionamento: Terça, quarta e quinta: das 11h às 23h / Sexta e sábado: das 11h às 23h / Domingo: das 11h às 18h
Inicialmente, seu nome era Bilhares Avenida. Agora, o Brunswick, fundado em 1939, é um dos bares mais curiosos de Belo Horizonte. Já funcionou no Edifício Acaiaca antes de se fixar na Avenida Afonso Pena, onde permanece até hoje, e se tornou lar da sinuca na cidade, esporte que já foi marginalizado e associado à boemia “malandra”.
Endereço: Av. Afonso Pena, 4172 — Cruzeiro, Belo Horizonte (MG)
Funcionamento: Segunda e terça: das 10h às 0h30 / Quarta e quinta: das 10h às 1h / Sexta e sábado: das 10h às 3h / Domingo: das 10h às 0h