A coxinha com catupiry nasceu em Belo Horizonte nos anos 1970. Criada por Thereza Martins, o salgado mineiro conquistou o Brasil
Criada em Belo Horizonte na década de 1970, a coxinha com catupiry nasceu na lanchonete Doce Docê e se tornou um clássico da culinária brasileira.
A coxinha com catupiry, um dos salgados mais populares do país, nasceu em Belo Horizonte, no coração de Minas Gerais. A receita surgiu na década de 1970, na lanchonete Doce Docê, localizada na Avenida Afonso Pena. A criadora, Thereza Christina Pinto Coelho Martins de Oliveira, decidiu unir o requeijão de Poços de Caldas ao frango desfiado e, assim, deu origem a uma combinação inédita que logo encantou os mineiros.
Com o tempo, o salgado atravessou fronteiras. Rio de Janeiro e São Paulo reproduziram a receita e começaram a vendê-la em larga escala, principalmente nas portas das fábricas. Esse sucesso nacional acabou, porém, ofuscando sua verdadeira origem.
Thereza fazia a massa com caldo de frango, temperava com sal e alho e moldava tudo à mão. Em seguida, colocava o catupiry nas laterais da massa e preenchia o centro com frango desfiado e cheiro-verde. Antes de fritar, passava o salgado em clara de ovo e farinha, o que garantia crocância e textura.
Além disso, sempre reforçava que o segredo do sabor estava na fritura. Usava apenas óleo novo, porque acreditava que o óleo reutilizado deixava o salgado com cheiro e gosto desagradáveis. Também fazia questão de preparar tudo com as mãos limpas e sem o uso de utensílios, o que, segundo ela, mantinha a leveza e a consistência ideais da massa.
A primeira coxinha com catupiry chegou ao público em 1972, no mesmo ponto da Avenida Afonso Pena onde hoje funciona uma loja de presentes. Na época, Thereza tentou registrar o produto como marca, mas não conseguiu porque a legislação não permitia registrar alimentos com nomes genéricos.
Apesar do impasse, o sucesso veio rapidamente. A lanchonete Doce Docê se tornou um ponto de referência na capital mineira. Logo depois, o negócio se expandiu. O casal inaugurou filiais no bairro Bandeirantes, no BH Shopping — onde instalou a primeira loja do centro comercial —, além de abrir unidades em Ouro Preto e Salvador.
O marido de Thereza, Levindo Martins, administrava a operação e recordava que o negócio chegou a empregar mais de 100 funcionários. Ele também relatava que a produção diária consumia cerca de 120 quilos de frango e 80 quilos de camarão. Durante o Plano Cruzado, o casal enfrentou fiscalizações rigorosas porque o governo tentava tabelar o preço de alimentos. Mesmo assim, o público continuou frequentando a loja, que se tornara sinônimo de qualidade.
Nos anos 1990, o casal se mudou para Brasília. Como resultado, administrar as quatro lojas à distância se tornou inviável. Por isso, Thereza decidiu encerrar as atividades da Doce Docê em 1998, encerrando um ciclo de sucesso e deixando saudades entre os clientes.
Hoje, aposentada em Tiradentes, Thereza reafirma que criou a primeira coxinha com catupiry do Brasil. Ela lembra que, na década de 1970, ninguém conhecia a mistura de requeijão com frango ou camarão. Muitos clientes que vinham do Rio de Janeiro e de São Paulo se surpreendiam com o sabor e elogiavam a novidade.
Embora lamente não ter registrado a receita, ela reconhece o impacto que seu trabalho causou. Segundo Thereza, se tivesse patenteado o produto com o nome Doce Docê, provavelmente estaria milionária hoje. Mesmo sem o registro, o legado permanece: a coxinha com catupiry se transformou em um símbolo da culinária mineira e conquistou definitivamente o paladar dos brasileiros.
A história da coxinha com catupiry mostra como a criatividade mineira pode transformar um prato simples em um ícone nacional. Desde então, o salgado passou a marcar presença em botecos, festas, marmitas e coquetéis. Em cada mordida, permanece viva a herança da receita criada por Thereza na Doce Docê — uma lembrança saborosa de um tempo em que a cozinha artesanal dominava o coração de Belo Horizonte.