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Cores da cidade: CURA tem artistas de renome internacional e edição cheia de novidades

Além da nova temática e mais participantes, circuito tem programação especial na Sapucaí



Créditos da imagem: Área de Serviço
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Redação Sou BH
06/11/18 às 13:16
Atualizado em 01/02/19 às 19:42

Por Júlia Alves

Uma declaração de amor a BH. É assim que a artista e uma das idealizadoras, Priscila Amoni, define o CURA – Circuito Urbano de Arte. A nova edição do projeto, que começa nesta segunda e vai até o dia 18 de novembro, mostra novamente sua força com novos artistas, novos murais e uma programação diferente para os belo-horizontinos. Tudo apresentado por uma temática que busca resgatar a raiz do grafite e valorizar as origens do movimento, que tem ganhado cada vez mais destaque na capital.

Em uma mistura do tradicional com o contemporâneo, o centro de BH se tornou referência para a cultura urbana da cidade. O CURA, que teve sua primeira edição no ano passado, vai trazer, em 2018, mais quatro trabalhos para integrarem o circuito que cria pinturas nas paredes externas de prédios. Pelas mãos da argentina Hyuro, dos belo-horizontinos Criola, Comum e um coletivo de 20 artistas com curadoria dos grafiteiros Nica e Surto, novos murais vão tomar conta de edifícios da região central de BH.

Mas o circuito vai além do visual. Com uma programação cultural bem movimentada durante o período de realização do projeto, este ano estão previstas novidades e maiores conquistas, principalmente após o CURA ganhar o primeiro mirante de arte urbana do mundo (na rua Sapucaí) e contar com os três prédios mais altos pintados por mulheres na América Latina – a próxima edição trará mais um para a conta.

Para Priscila Amoni, que além de ser uma das idealizadoras participou como artista da primeira edição, estas conquistas são um marco para este tipo de movimento na cidade. "A gente abraça a cena cultural da capital e também ajuda a levar a nossa arte para fora, divulgando BH no meio internacional”.


Mural feito pelas grafiteiras da Minas de Minas Crew. Foto: Haka Digital

A nova edição e o pensamento no futuro

Com uma curadoria toda voltada para a diversidade, a caligrafia e a origem do grafite vão marcar esta edição do CURA. “Retomando a raiz que começou no Bronx, em Nova York, e tem uma história muito importante em São Paulo, esta edição será focada na caligrafia, que é um grafite clássico, da escrita e marca o início desta arte. Sempre muito marginalizada e da periferia, a gente buscou dar mais espaço para essa vertente e para os artistas residentes em BH”, afirma Priscila.

Com conquistas inéditas que instigam artistas brasileiros e internacionais, o movimento já é o segundo maior festival de arte urbana do país. Para Priscila, a ideia é reafirmar a cena na capital, reunir a maior coleção de arte feminina do país e consolidar o mirante da Sapucaí como o marco que é, além de manter uma base de programações (confira as ações do circuito) na Casa Sapucaí, com filmes, debates e festas.

Os artistas

1- Hyuro (Argentina)

Empena: Amazonas Palace Hotel
Endereço: Av. Amazonas, 120
Tamanho: 26,50m de largura X 40m de altura

A artista argentina radicada em Valência, na Espanha, é um dos principais nomes do muralismo contemporâneo. Com uma arte cheia de simbolismos, Hyuro já passou pelos principais festivais do mundo mostrando sua obra focada na figura da mulher e seu contexto na sociedade patriarcal. Adepta de um estilo mais clássico, a artista partiu das telas para as ruas por influência do grafiteiro espanhol Escif.

Segundo a artista o desejo com suas pinturas na rua é criar um vínculo entre a pintura e o público para contribuir no confronto entre o espectador e a obra, provocando questionamento sobre si e o mundo. Em seus murais, quase sempre em preto e branco, Hyuro faz uma reflexão sobre identidades individuais e coletivas, questionando a sociedade e a figura da mulher.


Fotos: Estelle Julian + Tim Jentsch

2 - Comum (Belo Horizonte)

Empena: Edifício Satélite
Endereço: Rua da Bahia, 478
Tamanho: 8,65m de largura X 65,70m de altura

André Novaes, mais conhecido como Comum, é um artista belo-horizontino que começou seu trabalho com o grafite há cerca de 15 anos. Formado em Artes Gráficas pela Escola de Belas Artes da UFMG, o artista é conhecido pelo uso do estêncil e por retratar temas cotidianos e ligados à cidade.

“Comecei observando as ruas, principalmente porque o grafite sempre chamou muito a minha atenção. Meus primeiros trabalhos foram com o estêncil, uma técnica que carrego até hoje. E esse interesse pelo grafite permitiu que eu entendesse a rua como um espaço de liberdade de expressão, onde nossas reivindicações ganham cores e eu pude exercer uma vertente mais ativista do grafite”, comenta o artista.

Comum, que já participou de diversos festivais do Brasil e conta com importantes projetos de arte urbana em BH, como o Cidadão Comum – do qual saiu seu nome artístico –, acredita que essa retomada da tradição da caligrafia em um projeto como o CURA é extremamente positivo.

“Vou pintar o maior estêncil da minha vida, com uma técnica nova e carregando essa importância de ser um trabalho voltado para a caligrafia. Esse gênero, que sempre teve menos espaço, vai ganhar uma vitrine importante. E o meu trabalho para o CURA é parte disso, desse universo rico das letras, retratando uma pessoa pintando mensagens no prédio e dialogando com a empena do grupo de artistas ao lado”, afirma Comum.

Para o grafiteiro, o circuito é um divisor de águas positivo para a arte urbana da cidade. “Estamos em um patamar internacional, a força da curadoria desde a primeira edição traz uma atenção nova para BH, com artistas reconhecidos e essa possibilidade de engrandecimento da arte da cidade. E o cidadão vai ver isso, a grandiosidade do projeto e a relevância. Esse contado das pessoas com a arte vai ser muito positivo”.


Fotos: Pedro Ludolf + Zi Reis

3 - Criola (Belo Horizonte)

Empena: Edifício Chiquito Lopes
Endereço: Rua São Paulo, 351
Tamanho: 30m de largura X 45,50m de altura 

Natural de BH, Tainá Lima, ou Criola, faz parte de uma nova geração de artistas urbanos belo-horizontinos. Abordando temáticas que retratam a mulher e a cultura negra, Criola já pintou diversos murais pelo Brasil e Paris, além de ter participado de diferentes projetos com marcas nacionais reconhecidas.

Graduada em Design de Moda pela UFMG, a artista traz uma mistura de referências para o seu trabalho no grafite. Conectando-se com suas raízes, Criola aborda questões sociais e importantes questionamentos em suas obras, principalmente pautas feministas e de empoderamento negro. Trazendo uma paleta de cores vibrantes e retratando a sua ancestralidade, a artista retoma a sua pesquisa sobre as matrizes africanas em grande parte de seus trabalhos.

Pautada pelo universo feminino e sua representatividade no grafite, Criola volta ao CURA para deixar sua marca em uma das empenas do centro da cidade e homenagear a temática deste ano voltada para a caligrafia e as letras.


Tainá Lima + Instagrafite

4 - Empena das Letras (vários artistas)

Curadoria: Surto e Nica
Empena: Edifício Satélite
Endereço: Rua da Bahia, 478
Tamanho: 8,15m de largura X 62,60m de altura

Uma das grandes novidades deste ano é a Empena das Letras. Voltada para um coletivo de artistas, uma das fachadas cegas do Edifício Satélite vai receber uma espécie de “sopa de letras” e vai contar com diversos trabalhos de artistas de BH. Todos homenageando as raízes do grafite na caligrafia.

Para uma das curadoras deste projeto, Nayara Gessica, mais conhecida como Nica – uma das integrantes da Minas de Minas Crew, essa é uma oportunidade única de mostrar a beleza das letras no grafite. “Achei um convite muito lindo, principalmente porque faço letra desde o meu início no grafite há quase 16 anos atrás. Mas também porque acho que esse trabalho vai ser muito importante para o nicho, vai mostrar o belo na caligrafia e ajudar os artistas que fazem letra em BH a divulgarem seus trabalhos e saírem do estigma que às vezes segue esse tipo de arte”, completa Nica.


Em uma das empenas do Edifício Satélite será pintado o mural coletivo. Foto: Área de Serviço

Na empena, cada artista vai pintar uma faixa de sete metros de largura por dois metros e trinta de altura. Tudo com o objetivo de valorizar cada peça de arte e uni-las neste emaranhado de letras, uma grande referência para o cenário de tipografias da cidade.

Para criar essa empena, os curadores – Nica e Surto – convidaram 20 artistas: 8 mulheres e 12 homens. Segundo a curadora, foi um trabalho muito difícil escolher apenas 20 grafiteiros para o projeto. Conseguindo reunir nomes marcantes e recentes do cenário belo-horizontino, a empena vai representar a diversidade de letras, contemplando vários estilos de caligrafia, como o wildstyle, o piece, o throw up, o grapixo e o pixo e, para isso, foram selecionados pelo menos um representante de cada um desses nichos.

Entre eles estão: Kid, Okay, Tina, Dninja, Nica, Musa, Pime, Tita, Hisne, Bess, Figo, Carimbo, Error, Goma, Surto, Sinikos, Mts, Kesa, Naice e Fhero.

Confira no mapa as obras que compõe o CURA: