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Exclusividade compartilhada e sustentabilidade são novas tendências no mercado premium

Especialista em mercado de luxo diz que o mercado imobiliário e automobilístico vão ser os mais afetados pelas mudanças no comportamento do consumidor



Créditos da imagem: Leandro Perez
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Redação Sou BH
28/08/18 às 14:39
Atualizado em 01/02/19 às 19:39

Comprar sem consciência, acumular posses e ostentar luxo são comportamentos fora de moda, mesmo no mercado premium. Essas mudanças profundas em relação ao padrão de consumo são os desafios do setor, segundo um dos maiores especialistas em luxo na América Latina, Carlos Ferreirinha, ex-CEO da Louis Vuitton.

O consultor aponta uma saída para as empresas conquistarem clientes e conseguirem se manter no patamar premium: aplicar os conceitos de pensamento sustentável e exclusividade compartilhada.

Grandes marcas de luxo como a Gucci, primeira entre as empresas tradicionais a cancelar o uso de pele animal nos acessórios, já investem nesses padrões. Para Ferreirinha, que presta consultoria para diferentes áreas de negócios no mundo todo, dois grandes segmentos serão brutalmente transformados nos próximos anos: o imobiliário e o automobilístico.

“Está vindo uma geração que a posse não será mais a função. A ocasião do consumo será mais importante. A nova geração quer coisa pequena, áreas de convivência. Ela tem dinheiro e opta por não ter carro. A queda de emissão de carteira de motorista aos 18 anos, só no Brasil, é de 42%”

O consultor também alerta que a ‘guerra dos canudos’ (movimento contra a produção e comercialização de canudos plásticos) é apenas a ponta do iceberg. “Isso quer dizer que a gente vai ter que mudar o fio, o algodão, o tecido, a roupa, o copo, o plástico. Vamos olhar para essas mudanças profundas guiadas pelo pensamento sustentável cada vez mais”.

Share Exclusivity

Carlos Ferreirinha explica o conceito de exclusividade compartilhada com base na ideia dos coworkings, espaços comuns de trabalho. Segundo ele, cada vez mais, lojas do varejo vão oferecer aos clientes e à comunidade áreas para conexões e experiências, sem obrigar ninguém a comprar. “Vamos ver um movimento brutal de ruptura em qualquer tipo de formato tradicional na nossa visão de mercado. Nós vamos passar a ter essa linha cada vez mais tênue entre o que é meu, é seu, o que é seu pode ser meu”.

O consultor reforça que as empresas devem dialogar com o consumidor, reinventar o espaço e proporcionar experiências, e ainda sinaliza que clínicas e laboratórios vão precisar repensar o relacionamento com o cliente, principalmente, em salas de espera.

Palestra em BH

Carlos Ferreirinha veio à capital a convite do Espaço Sou BH, onde se encontrou com representantes de mais de 50 empresas e instituições como Sebrae, Líder Interiores, Trousseau e Claro. Os participantes do evento também assistiram à palestra do consultor no Teatro Pátio Savassi sobre temas como luxo aplicado a gestão, crise econômica e os conceitos de exclusividade compartilhada e pensamento sustentável.

Eduardo Guarani, sócio-diretor da Cia Athletica em Belo Horizonte, esteve no encontro e pontuou a importância da cidade receber eventos voltados para a economia e o mercado premium. “São poucas oportunidades da gente ter esse contato, dificilmente esses eventos vêm pra BH. É uma grande oportunidade ouvir o que está acontecendo lá fora, tendências, é mais um canal”, opina o empresário. 


Leandro Perez 

Mercado de luxo

Para o consultor, que atende diversos clientes no mundo todo, como Audi e Swarovski, o luxo deve servir como inspiração para todos os setores e segmentos no mercado. “Parte do que a gente diz de luxo e inspiração não é para que a gente se torne luxo, é para que a gente aprenda um pouquinho disso e busque a diferenciação”.

Ferreirinha afirma que ostentação é diferente de potencialização no mercado de luxo. “Ostentação é uma manifestação do usuário e não do business. Nos negócios, a matriz do luxo é elevar ao patamar máximo, trabalhar com produtos e serviços pautados no conceito do extraordinário, raro, único, nos estímulos emocionais e nas histórias bem contadas”.

O especialista alerta ainda que diante da crise, captar novos clientes não será tarefa fácil e por isso o mercado deve dialogar bem com o consumidor. “Falar apenas de produtos e serviços não dá mais. Precisamos despertar sensações e as marcas de luxo fazem isso muito bem”.