FecharX

Elas na política: representatividade das mulheres em cargos de poder ainda é pequena

Com 73 anos de existência, apenas 33 vereadoras fizeram parte da Câmara Municipal de BH, atualmente são quatro



Créditos da imagem: Daniel Protzner/ALMG
Main almg daniel protzner2
Júlia Alves
08/03/19 às 20:02
Atualizado em 18/08/20 às 18:37

Qual o impacto na vida de uma pessoa de se ver representada num determinado segmento da sociedade?

No Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta sexta-feira (8), a presença feminina na política ainda é um ponto em que não há muito o que comemorar. Com 73 anos de existência, apenas 33 mulheres ocuparam vagas na Câmara Municipal de BH (CMBH). Já na Assembleia Legislativa (ALMG), em seus 72 anos, apenas 36 deputadas estaduais tomaram posse.

Dos 41 vereadores em atividade na capital hoje, quatro são mulheres: Bella Gonçalves (PSOL) – que substituiu Áurea Carolina, agora deputada federal –, Cida Falabella (PSOL), Marilda Portela (PRB) e Nely Aquino (PRTB), que foi eleita presidente da Câmara para o biênio de 2019 e 2020. A desvantagem feminina também fica evidente neste cargo, que só foi ocupado uma única outra vez por uma mulher, a vereadora Luzia Ferreira, em 2009.


Karoline Barreto/CMBH

Na Assembleia são 77 cadeiras, sendo dez ocupadas por mulheres. São elas: Beatriz Cerqueira (PT), Delegada Sheila (PSL), Marília Campos (PT), Rosângela Reis (Pode), Ione Pinheiro (DEM), Celise Laviola (MDB), Leninha (PT), Laura Serrano (Novo), Ana Paula Siqueira (Rede) e Andreia de Jesus (PSOL).

Elas precisam de espaço

Para a doutora em Sociologia Política, Sana Gimenes Alvarenga, a política é uma forma de decidir questões relevantes da sociedade e a mulher precisa ocupar esse espaço. “As mulheres possuem experiencias e reivindicações próprias. E o olhar delas sobre as políticas públicas, a legislação e outras decisões que regem o país é extremamente importante para que essa representação seja feita corretamente”, comenta.

Porém, essa não é a realidade. Segundo o Tribunal Regional de Minas Gerais (TRE-MG), a maioria do eleitorado mineiro é composto por mulheres, alcançando quase 52%, mas elas são a minoria quando o assunto é candidatura. No pleito municipal de 2016, por exemplo, elas corresponderam a apenas 31,78% do montante de 78.678 concorrentes aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador.

“Infelizmente, o Brasil, como um todo, ainda é um país atrasado quando o assunto é a representatividade da mulher na política. Apenas 10% das mulheres estão nos cargos políticos. E as formas de aumentar esse número não funcionam ou são deturpadas. As cotas, por exemplo, são ineficientes. É preciso mudar a efetividade dessas medidas, é preciso uma reformulação da legislação eleitoral e um mudança na educação dos cidadãos”, afirma a socióloga.

As disparidades que atrapalham

A primeira vereadora em Belo Horizonte – e em todo o estado – foi a pedagoga, jornalista e escritora Alaíde Lisboa de Oliveira, que assumiu em 1949. Já na ALMG, as deputadas Marta Nair Monteiro e Maria Pena foram as primeiras mulheres a se elegerem, em 1963. Além disso, enquanto a Câmara já contou com duas presidentes, o Parlamento Mineiro nunca teve uma mulher ocupando o cargo.


Guilherme Bergamini/ALMG

“Para pensar em políticas voltadas para as mulheres é necessário que as mulheres estejam presentes nesses cargos de poder. Afinal, elas têm as vivências e entendem o que é necessário para atender suas reivindicações. E é necessário pluralizar as mulheres presentes, pois cada uma possui uma necessidade específica”, comenta Sana Gimenes.

Para a doutora em Sociologia Política é preciso equidade nas oportunidades e aprofundar a discussão no cotidiano. “A representatividade simbólica também é importante. Se as crianças vissem mais mulheres em cargos de poder, essa simbologia influenciaria na percepção das meninas e meninos para o futuro, eles veriam que é possível uma mulher chegar até este patamar, o que provocariam mudanças nas cadeias de poder”, pontua.

Além disso, para a especialista, são necessárias medidas mais práticas para que uma mudança efetiva aconteça. Uma reforma nas leis eleitorais, uma maior paridade entre mulheres e homens na política e, principalmente, a educação. “Não adianta ter lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio, se a violência já aconteceu. É preciso educar homens e mulheres sobre o assunto, desde cedo mostrar a igualdade de gênero e reforçar a importância da presença da mulher em todas as áreas”, finaliza.